Traficante gerente do Boqueirão, berço da CP no Nordeste, é morto em operação

Ivo estava foragido da Justiça e foi morto na manhã desta quinta-feira (29)

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  • Bruno Wendel

Publicado em 29 de outubro de 2020 às 14:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/SSP

(Foto: Reprodução/Redes Sociais) Ivo Boa Morte Nascimento, 35 anos, não era um traficante do alto escalão do Comando da Paz (CP), hoje Comando Vermelho (CV), mas tinha uma função importante: gerenciava uma das boca-de-fumo mais rentáveis da facção, o Boqueirão. Lá está o berço da organização criminosa no Complexo do Nordeste de Amaralina, onde a cada 30 metros há uma boca de fumo.Ivo estava foragido da Justiça e foi morto na manhã desta quinta-feira (29), no próprio complexo, em operação da Rondas Especiais (Rondesp/ Atlântico). Ele tinha passagens por tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo e homicídio. Uma pistola turca foi apreendida com ele pelos policiais militares. O traficante era um dos gerentes do Boqueirão, localidade de Santa Cruz, e, assim como os demais, tinha a função de recolher todo o dinheiro da venda de drogas e prestar contas aos seus líderes, Val Bandeira e Leandro P, ambos em liberdade. A área dele era na região conhecida como São Gerônimo. Santa Cruz é um dos bairros que forma o complexo. Além dele e do Nordeste de Amaralina, fazem parte a Chapada do Rio Vermelho e o Vale das Pedrinhas.  No Boqueirão estão instaladas três Bases Comunitárias da Polícia Militar e a 40ª Companhia Independente (CIPM/Nordeste de Amaralina), e o acesso da polícia só é possível com um grande efetivo – isso inclui unidades especializadas monitoradas por helicóptero. As bocas-de-fumo de lá são as mais lucrativas devido à dificuldade de acesso da polícia. “Não dá para entrar lá assim, do nada. A gente aqui sabe que é preciso preparar uma ação em conjunto com a PM e outras unidades da polícia”, disse um policial civil que trabalha na 28ª Delegacia (Nordeste de Amaralina).   Pelo fato do Boquerirão ser o QG da facção, há um número expressivo de homens, jovens e até crianças armadas – vídeos que circulam nas redes sociais mostram traficantes ostentando fuzis. O monitoramento da facção na região é feito 24 horas, ou seja, o acesso é livre somente para os moradores – desconhecidos e prestadores de serviços são revistados –, sem falar na topografia, que coloca os policiais em desvantagem.  “São muitos becos que eles fazem de ponto de observação e de ataque às viaturas. Sem a presença constante da polícia, a venda de droga é mais intensa”, disse o policial.      Segundo ele, não dá para mensurar a rentabilidade da facção. “Difícil dizer quanto Ivo e outros gerentes recolhiam de dinheiro, mas, para se ter uma ideia, a cada 30 metros há uma boca-de-fumo no Boqueirão. Elas estão espalhadas nas escadarias, becos, estabelecimentos comerciantes e casas.  Às vezes tem até boca itinerante para dificultar a investigação da polícia. Há casos de venda nas praias. Isso mesmo, o aviãozinho oferta a pessoas específicas na praia de Amaralina”, revelou o policial.     Ivo cresceu na Rua Itajuá, que fica nos fundos da 28ª DP. Iniciou na criminalidade assim como os demais jovens de sua geração: trocou os estudos pelo “trabalho” de avião, vendendo droga a poucos metros da porta de casa. Depois, passou a fazer parte do grupo de matadores da então CP e, em 2011, foi preso por tráfico por agentes da 28ª DP. Alguns meses se passaram e Ivo foi solto após uma decisão judicial e, ao invés de voltar para a Rua Itajuá, onde tem família, foi para o Boqueirão.  Isso porque o irmão dele, conhecido como Gilson, que além de traficante também praticava assaltos, foi morto pelos integrantes da CP. “Houve uma briga entre eles. Gilson pegava a droga para revender e não pagava. Estava quebrando o negócio e, então, os próprios parceiros limaram ele. Ivo sabia que o irmão estava errado, mas não sabia conviver com os mesmos caras que executaram Gilson e, então, resolveu ir para o Boqueirão, onde chegou com o status de gerente de boca”, contou o policial.  Ivo não atuava somente como gerente de um dos pontos de drogas do Boqueirão. Ele também participava de ofensivas contra a polícia e ameaças a população local. “Nas nossas investigações, o nome dele aparece como um dos homens de frente, ou seja, liderança nos ataques as viaturas da Polícia Militar quando fazem incursões no Boqueirão, além de mandante de algumas mortes. O nome dele é citado também nas denúncias em nome da facção, que determina que as portas e os portões das casas devem ficar abertos para facilitar a fuga deles em caso de perseguição da polícia”, disse a fonte da PC.