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Da Redação
Publicado em 2 de abril de 2018 às 14:37
- Atualizado há 2 anos
O tremor de terra que ocorreu na Bolívia na manhã desta segunda-feira, por volta de 10h40, foi sentido em prédios mais altos de São Paulo e de Brasília e em várias outras cidades do Sudeste, do Centro-Oeste e na região Sul do Brasil. O sismo, de magnitude intermediária, de 6,8 pontos na escala Richter, ocorreu a 555 km de profundidade, de acordo com o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP).>
Diversas pessoas que trabalham em prédios altos da Avenida Paulista, um dos pontos mais elevados de São Paulo, puderam sentir a vibração das ondas emitidas pelo tremor que ocorreu a milhares de km de distância. Ele abalou uma área localizada a 209 km de Tarija, noroeste da Bolívia, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). >
Na Avenida Paulista, dezenas de pessoas saíram dos prédios e se aglomeraram nas ruas. O prédio da Petrobras, no número 901 da avenida, foi evacuado após os funcionários que trabalham do 11º ao 19º andares sentirem os tremores. Segundo o segurança Jackson Carlos da Conceição, as pessoas relataram que o tremor durou cerca de 30 segundos. "Eles viram as portas e objetos balançarem, disseram ter sentido como se estivessem tontos", contou. >
Por precaução, todos os andares do prédio foram esvaziados. Cerca de 400 pessoas trabalham no local. >
O prédio da Gazeta no número 900 da famosa avenida foi outro a ser evacuado. Por volta das 11h, o prédio do Ministério Público de São Paulo, que fica na Rua Riachuelo, no centro, também foi esvaziado. Muitas pessoas permaneceram nas calçadas aguardando permissão para retornarem ao prédio.>
O editor de fotografia Marcelo Ferrelli, de 40 anos, estava no 12º andar do prédio da Gazeta quando sentiu o tremor. "Eu estava em pé e deu uma vertigem, uma sensação de baixar a pressão. Todo mundo começou a perguntar e a gente reparou os fios da TV balançando. Tremeu, diminuiu e tremeu de novo e outra vez. Foram três vezes em um período de cinco minutos.">
Ele conta que viu prédios da região sendo evacuados. "Trabalho aqui desde 1999 e é a segunda vez que consigo sentir (o efeito de um terremoto). Já teve um tremor por causa de um terremoto no Chile e a gente sentiu aqui, mas este foi mais forte", contou>
Por causa dessa experiência, Ferrelli passou a seguir perfis de sismologia nas redes sociais. "Recebi informações rápido e soube que era um problema na Bolívia.">
Quem estava no Conjunto Nacional, também na Paulista, sentiu o impacto do terremoto. "Estava conversando com um colega na nossa sala que fica no Conjunto Nacional e ficamos intrigados. As lâmpadas começaram a balançar todas juntas, no mesmo ritmo. Não tínhamos ideia do que era e fomos olhar nas outras salas, mas no escritório ninguém mais percebeu", contou Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica.>
Nas redes sociais também houve relato de tremores em Santos, no litoral paulista, e no Distrito Federal, em Brasília.>
Terremoto profundo>
Técnico em sismologia do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto Barbosa explica que o terremoto registrado na Bolívia foi considerado profundo e, quando isso ocorre, ondas chegam à superfície e se propagam. "São ondas que caminham no sentido transversal, acabam encontrando as estruturas dos prédios e mexendo. As pessoas acabam sentindo essa oscilação. Em geral, sentem um ligeiro enjoo, a vibração, podem ver um lustre balançando e isso é suficiente para elas saírem correndo, porque não estão habituadas a esse tipo de situação", explicou.>
Segundo Barbosa, é possível que, em uma mesma região, pessoas que estão em um prédio sintam o tremor e outras, em um imóvel próximo, não tenham a mesma sensação. "Tem prédios que estão fixados em rochas mais duras e outros em rochas sedimentares, que amplificam um pouco e as pessoas percebem mais facilmente. Em outros, fixados em basalto, granito, as ondas passam e quase não são percebidas.">
O técnico informa que, de um modo geral, esse tipo de tremor não abala a estrutura dos prédios. "Tivemos dezenas de casos de ocorrências desse tipo, que as pessoas chamam de reflexo de terremoto e, em geral, não causa danos em prédios." >