Trinta funcionários são transferidos pela Petrobras no início de esvaziamento da sede

Torre Pituba deverá ser totalmente esvaziada até dezembro deste ano

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 3 de outubro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tiago Caldas/CORREIO

A ameaça que ronda os corredores da Torre Pituba, sede da Petrobras na Bahia, começou a se tornar realidade. A empresa anunciou o início do esvaziamento do prédio na capital com a transferência de funcionários concursados. O processo, segundo a empresa, será concluído até dezembro deste ano. Segundo informações do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), a primeira etapa de transferências atingiu pelo menos 30 funcionários.

“Foi um dia triste, tem gente que construiu uma carreira aqui e que não sabe o que fazer. Já tava todo mundo sabendo, mas ver acontecer é diferente, ainda mais sabendo que a empresa vai sair do prédio completamente ainda este ano”, disse uma funcionária com 12 anos de casa, que preferiu não ser identificada.

O prazo anunciado pela Petrobras foi alterado pela terceira vez. A princípio, o processo de esvaziamento ocorreria até junho de 2020, depois o limite para transferências foi antecipado para março. Agora, dezembro deste ano.

Ainda segundo o Sindipetro-BA, são 1.507 funcionários concursados. “É uma postura assustadora essa da Petrobras, que desrespeita o trabalhador que tanto produziu pela empresa. Uma postura sem nenhuma sensibilidade”, afirmou Radiovaldo Costa, diretor de comunicação do sindicato.

Na última sexta-feira (27), o Sindipetro procurou o Ministério Público do Trabalho acusando a Petrobras de assédio moral coletivo contra os funcionários. “Há uma pressão generalizada, um assédio generalizado, para obrigar a pessoa a tomar uma decisão rápida sobre a mudança”, alega Costa.

Procurado, o MPT disse ter recebido sindicalistas e alguns outros funcionários da empresa para uma reunião e orientou que a demanda fosse formalizada. O documento com a formalização foi recebido pelo órgão na manhã dessa quarta-feira, e o MPT estuda a melhor forma de atuar para realizar uma espécie de mediação entre a empresa e os funcionários.

Procurada, a Petrobras não confirmou o número de funcionários transferidos. O CORREIO apurou que as transferências devem ocorrer a cada início de mês, sempre no dia 1º.

Contrários O sindicato rechaça a postura da empresa na sua totalidade. “Não há diálogo, tudo é feito com nossa surpresa. Seja com os concursados ou com os terceirizados. Hoje foi uma choradeira por lá. Tem terceirizado que sabe que vai ser demitido e que construiu uma carreira lá, 10 ou 15 anos, e não sabe o que fazer”, diz o representante sindical. Entre os funcionários que não passaram por concurso, cerca de 2 mil pessoas terão seus vínculos interrompidos, segundo a entidade.

O Sindipetro diz ainda não acreditar no argumento de que o esvaziamento do prédio esteja ocorrendo como uma medida econômica. Esta tem sido a justificativa da Petrobras para as medidas com os funcionários lotados na Bahia. “Dentro da estratégia de redução de custos em todos os seus processos e atividades, inclusive em gestão predial, a Petrobras inicia a desocupação do edifício Torre Pituba, em Salvador”, justificou a empresa, em nota.

Para a organização sindical, no entanto, esta não é uma justificativa válida, uma vez que a retirada de funcionários da Torre Pituba representaria um encargo financeiro de milhões para a Petrobras. A multa seria resultado da quebra de contrato entre a empresa e a Petros - o fundo de previdência dos funcionários que investiu R$ 1,32 bilhão para a construção do edifício.

“O acordo era que a Petrobras devolvesse o investimento com o pagamento de aluguel ao longo de 30 anos. Com a devolução do prédio, o contrato prevê que descontado o que já foi pago, a Petrobras pague o restante a título de multa”, diz Costa.

Ainda segundo ele, nos quatro anos de uso do prédio, foram pagos, apenas, cerca de 15% do devido, restando uma dívida que gira em torno de R$ 850 milhões. “Que economia é essa em que a Petrobras vai ter que pagar de vez o que pagaria diluído em 30 anos?”, questiona.  Mudanças  Além de lidar com a mudança de endereço, os funcionários que resolveram aceitar a troca de cidade terão ainda que fazê-lo sem a ajuda da empresa da forma que era habitual. “Ontem a Petrobras lançou o novo regramento interno dos benefícios de transferência. Um benefício que há décadas era reajustado pela inflação foi reduzido em mais 30%. Isso representa uma perda real para o funcionário que vai precisar ir para estados onde o custo de vida é bem mais elevado”, explica Radiovaldo 

Em outros momentos da história da empresa, o auxílio para transferidos era garantido por um período mais longo de tempo. Segundo uma petroleira, o funcionário que fosse se mudar teria direito a receber uma verba de transferência que correspondia a uma vez o valor do seu salário e ainda ter custeados os custos da mudança e passagens.

“Ainda não decidi se procuro emprego aqui ou se me transfiro. Sei que, para continuar na Petrobras, preciso me mudar. Se aceitar a transferência, devo ir pro Rio. Mas ainda não é algo decidido pra mim, por conta da família”, disse a funcionária.

O transferido recebia ainda uma ajuda mensal que variava de acordo com o custo de vida do novo local de moradia. Como exemplo, quem era transferido de Salvador para o Rio de Janeiro recebia mensalmente uma ajuda que girava em torno de R$ 3 mil, que era adicionada ao salário. O auxílio era pago integralmente pelos primeiros 24 meses, depois reduzido em 50% no terceiro ano e, finalmente, para 25% do montante inicial durante o quarto e último ano. 

Para tentar reverter a situação, ou pelo menos chamar atenção da empresa, o sindicato organiza um protesto para a tarde desta quinta-feira (03). Na agenda, ainda, reuniões em Brasília, no próximo dia 08.  “Queremos que as lideranças políticas defendam a Petrobras e a permanência da empresa no estado”, finalizou o sindicalista.

 *Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro