Troca do trem por VLT fará passagem ficar quase 8 vezes mais cara

Previsão é passar de R$ 0,50 para R$ 3,90; tarifa com a integração será R$ 4,20

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  • Da Redação

Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 06:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A substituição do trem do Subúrbio Ferroviário - que deixará de operar a partir de 15 de fevereiro - pelo Veículo Leve de Transporte (VLT) será marcada pelo aumento no custo desse modal para os passageiros. Dos atuais R$ 0,50 pagos no percurso entre a Calçada e Paripe, valor vigente desde 2002, a passagem passará a custar R$ 3,90, segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano do Estado, Nelson Pelegrino. O aumento é de quase 8 vezes na comparação com o montante cobrado atualmente. 

De acordo com Pelegrino, a tarifa atual é simbólica, mas conseguia ser mantida por subsídios do Estado e devido à precariedade dos trens. “Qual transporte fica 19 anos sem reajuste? A tarifa não foi reajustada pelo serviço ser precário”, afirma.

Os novos valores para o VLT ainda não foram normatizados, mas devem seguir a tabela do metrô - R$ 3,90 para a viagem apenas no modal e R$ 4,20 para a passagem com integração com outros meios de transporte. Apesar do aumento, o secretário ressalta que estes valores também são subsidiados.

“A tarifa integrada no metrô custa algo em torno de R$ 6,40 para o governo. Esse valor de R$ 4,20 é subsidiado. No caso do VLT, a população poderá se beneficiar desse subsídio com a oportunidade de pegar o monotrilho, o metrô e o ônibus”, afirma Pelegrino. Pelegrino afirma que VLT é mais rápido, seguro e confortável (Foto: Fernando Vivas/GOVBA) Se o valor vai aumentar para quem anda apenas de trem, o preço cai quando levado em conta a integração com os sistema de ônibus urbanos e metropolitanos e o metrô. Atualmente, o trem do Subúrbio não é integrado, o que faz com que o passageiro tenha que gastar com mais de uma passagem.

“A tarifa atual do trem só permite o deslocamento entre Paripe e a Calçada e caso o passageiro necessite ir até o Comércio ou outras regiões centrais da cidade, ele paga mais R$ 4,20 [com a integração], ou seja, R$ 4,70”, pondera Pelegrino.

Morador do Subúrbio Ferroviário e líder comunitário, Eugênio Santos, 44 anos, diz que alguns passageiros que utilizam o trem do subúrbio não poderão pagar mais que R$ 0,50, o que torna o aumento excludente para a população de baixa renda.

Eugênio faz um contraponto ao analisar os impactos da integração do monotrilho: “a integração vai depender do caminho que a pessoa vai fazer. Para algumas pessoas deve melhorar, mas temos que ver onde vai ter estação para integração e analisar isso quando o VLT estiver funcionando. Até porque tivemos uma redução das linhas de ônibus aqui na região”.

O VLT vai manter a gratuidade para idosos e a meia passagem para estudantes já existente no trem do subúrbio, mas é impossível dar benefícios para toda a população que não pode arcar com a tarifa do transporte público, afirma o secretário Pelegrino. “A composição do público é sazonal, em grande maioria. São pessoas que vão na Calçada fazer compras, na Feira de São Joaquim. Por esse motivo, não temos como fazer uma tarifa por corte social, o universo para isso é maior”, explica. Pilares do elevado do VLT serão construídos no atual traçado da ferrovia do trem do Subúrbio (Foto: Fernando Vivas/GOVBA) A paralisação do trem vai permitir que a via seja isolada, seccionada, tapumada e se inicie a retirada da parte aérea de eletrificação da ferrovia. Depois, será iniciada a prova de carga da via, considerada etapa fundamental para que sejam fincadas as estacas, os pilares e por fim a via por onde irá circular o VLT. Os pilares do elevado serão construídos no atual traçado da ferrovia. Simultaneamente, também serão construídas as estações. Já os vagões são feitos na China e a previsão é de que o primeiro deles seja embarcado com destino à Bahia em abril.

Ao saber do fim do trem do subúrbio, os soteropolitanos que nunca andaram no modal estão se mobilizando para fazer um passeio por lá. Nas redes sociais, alguns usuários comentam a vontade de conhecer o local antes da obra. Um deles é o estudante Luís Felipe, 17 anos, que vai pedir para alguém o levar até a ferrovia.

“Tem tempo que eu quero ir lá. Meu colégio ia nos levar, em 2016, mas o trem quebrou no dia. Agora, quero realizar essa vontade ainda mais por ser suburbano, apesar de morar em Mussurunga atualmente. Tenho a curiosidade para ver o trem que passa perto do mar”, conta o jovem.

Mudanças O medo é a palavra que caracteriza as viagens no trem do Subúrbio, segundo relata Eugênio. O receio da falta de segurança, especialmente com o descarrilamento dos vagões, aumentou com o descumprimento de medidas de segurança sanitária durante a pandemia do coronavírus. “O trem é velho e traz insegurança. Isso deve melhorar [com o VLT]”, acredita.

Pelegrino aponta que o novo modal vai trazer mais conforto, segurança e rapidez. O tempo de espera entre as viagens cairá de uma média de 40 minutos para 4 minutos. O VLT ainda vai contar com ar-condicionado e Wi-Fi gratuito. A expectativa do Governo do Estado é de que o desenvolvimento do projeto beneficie diretamente cerca de 600 mil moradores da região.“Atualmente, se gasta 40 min de Paripe à Calçada. Com o VLT serão 42 minutos da Ilha de São João para o Acesso Norte. Pensando na Grande Pituba, atualmente, se gasta cerca de R$ 85 minutos no deslocamento partindo de Paripe. Esse tempo vai cair para 48 minutos com o novo modal e ainda saindo da Ilha de São João”, calcula o secretário.O trem do Subúrbio transporta, em média, 6 mil passageiros por dia. Com o monotrilho, será possível transportar 172 mil usuários diariamente. A ideia, segundo Pelegrino, é que o número de passageiros diários aumente com o decorrer do tempo. 

O número de trens também vai ser maior, passando de quatro (com apenas dois ativos por vez) para 28 com o monotrilho. O VLT será movido à propulsão elétrica, sem emissão de poluentes.

A Fase 1 do VLT compreende 19,2 km, com 21 estações. e vai ligar o Comércio, na cidade baixa, até a Ilha de São João, em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador. Na fase 2, que liga a região de São Joaquim até o Acesso Norte (integração com o metrô), estão previstas mais 5 estações. O Sistema de Trens do Subúrbio possui 10 estações.

O monotrilho vai funcionar em uma via elevada, o que também aumenta a segurança por impedir a invasão dos espaços com o trilho. Pelegrino ressalta que a população também não vai mais precisar ultrapassar os trilhos do trem. De acordo com o gestor, um parque linear será construído nas linhas do trem. “Hoje, as estações não têm controle, mas, no futuro, passarão a ter a segurança grande, como ocorre no metrô", garante.

A implantação do VLT é realizada pelo Governo do Estado em parceria com a empresa Metrogreen Skyrail e a obra está prevista para ser concluída no prazo de 24 meses. O investimento para a obra é de cerca de R$ 2,6 bilhões, segundo o secretário da Sedur.

De acordo com Pelegrino, foi feito um estudo com uma pesquisa de origem e destino dos usuários de transporte público naquela região para diminuir o impacto da mudança na rotina das pessoas que vivem na área. “Os passageiros serão orientados sobre as linhas de ônibus que estão servindo a região do subúrbio e que podem ser utilizadas em substituição ao trem”, explica o secretário.

Eugênio acredita que a região vai virar um caos durante as obras porque, mesmo com o trem, a população do subúrbio sofre para usar o transporte público.  De acordo com ele, parte dos moradores da região também usa o trem para adiantar a viagem.

“Tem ônibus que passa a cada hora. Precisamos de uma ampliação das linhas de ônibus pela rodovia para desobstruir a Avenida Suburbana. Ainda sofremos com os assaltos recorrentes em Lobato”, critica o morador da região.

Com a operação do VLT, Pelegrino acredita que o trânsito de Salvador deve ser beneficiado. “Todos os transportes de massa ajudam na mobilidade. As pessoas deixam o carro em casa para usar esses modais. Além de ter a redução dos ônibus”, aponta.

Principais linhas alternativas ao trem

• 1614 - Itaigara X Mirantes de Periperi Via Brotas; • 1607 - Barra X Paripe Cocisa; • 1550 - Vista Alegre/Alto de Coutos/Estação Pirajá; • 1633 - Ondina X Mirantes de Periperi; • 1606-01 – Base Naval Barroquinha; • 1606-00 – Paripe X Barroquinha; • 1651 - Lapa X Base Naval Via Estrada Velha; • 1637 - Mirantes de Periperi - Imbuí/Boca do Rio; • 0706-00 - Nordeste - Joanes / Lobato; • 1642 - Lapa X Boa v. Lobato; • 1615 - Lapa X Plataforma; • 1568 - Barra X Faz. Coutos/vista Alegre; • L111 - Baixa Do Fiscal / Lobato – Brasilgás • 1567 - Vista Alegre - Barra • 1608 – Paripe X Ribeira • 1635 – Joanes X Lobato X Rodoviária

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lobo