Trump ameaça estabilidade global para não abrir mão da Casa Branca

Presidente dos EUA mantém acusações de fraude eleitoral mesmo sem provas

Publicado em 7 de novembro de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP

Uma criança que não quer largar o brinquedo novo. O comportamento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, diante da iminência da derrota, surpreende e assombra o mundo. Desafiador e polêmico, ele dispara acusações sem provas no Twitter e vocifera na imprensa diante da possibilidade de não se reeleger e deixar a Casa Branca.

Na sexta-feira, 06, sobrou para as autoridades eleitorais da Filadélfia, na Pensilvânia, que foram duramente criticadas. Ao longo da semana, Trump tentou sem sucesso parar a contagem de votos em diversos estados (veja abaixo). Usando os 140 caracteres do Twitter, em sequências raivosas de postagens, colocou em xeque a integridade eleitoral da Filadélfia e do país.

A cada questionamento, lança sombras de desconfiança no processo eleitoral norte-americano e estimula protestos de seus seguidores, que chegaram a ir armados com rifles para os locais de apuração no Arizona.

"A Filadélfia tem um histórico podre de integridade eleitoral", acusou Trump sem apresentar qualquer prova. O prefeito da Filadélfia, Jim Kenney, rebateu os ataques e defendeu a contagem de votos. Disse que todos, presenciais ou pelo correio, serão contados. Classificou as acusações de Trump como "infundadas".

A birra do presidente da nação mais influente do mundo preocupa governos estrangeiros como o da Alemanha, por conta de uma possível onda de violência nos EUA e consequentes impactos na economia global. Não é um medo infundado, pois bastou Biden começar a virar o placar, que Wall Street entrou em polvorosa. A bolsa americana subiu e as de outros países, como o Brasil, foram no vácuo.

"Os Estados Unidos são mais do que um show de um homem só ", afirmou Heiko Maas, ministro das Relações Exteriores da Alemanha. O país teme uma explosão de violência nos EUA por causa da atitude de Trump em não aceitar o resultado das urnas.

Segundo o corpo diplomático europeu, serviços de inteligência indicam o risco de violência no país. A gasolina na fogueira eleitoral não é jogada só por Trump. Seu ex-assessor, Steve Banon, teve a conta no Twitter cancelada após sugerir a decapitação de Christopher Wray, diretor do FBI - a polícia federal norte-americana - e de Anthony Fauci, médico e autoridade em saúde pública nos EUA, que virou desafeto de Trump por conta das medidas sanitárias contra a covid-19 e por ter criticado a negligência do presidente em conter a pandemia no país. 

Reportagem do jornal espanhol El País, na sexta, explicava o que acontece se Trump  se recusar a entregar o cargo para Joe Biden. A verdade é que ele tem de passar a faixa para o democrata ou recolocá-la em si mesmo em 20 de janeiro, é a lei do país. Ele até pode questionar a eleição na Justiça, diz a reportagem de El País, mas se o Colégio Eleitoral não o nomear presidente, terá de deixar o cargo. Segundo registra a história norte-americana, desde George Washington, em 1797, nenhum presidente jamais se recursou a ceder o poder.

Mudança de discurso

Admirador confesso de Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro não esconde a preferência quanto ao resultado das eleições norte-americanas. A certeza do 'já ganhou', no entanto, deu lugar a outro sentimento mais modesto nesta sexta-feira, 06.

Após o democrata Joe Biden assumir a liderança na Georgia e na Pensilvânia, o colega brasileiro largou um: “Trump não é a pessoa mais importante do mundo”, ao comentar o pleito nos EUA durante evento de formatura de policiais da PRF – Polícia Rodoviária Federal, em Florianópolis (SC)."Eu não sou a pessoa mais importante do Brasil, assim como Trump não é a pessoa mais importante do mundo, como ele bem mesmo diz. A pessoa mais importante é Deus, a humildade tem que se fazer presente entre nós", declarou Bolsonaro, que até outro dia, jurava lealdade a Trump.Na quarta-feira, 04, quando a apuração dos votos avançava nos EUA e já indicava a probabilidade maior de vitória para Joe Biden, o presidente brasileiro se consolou com um "a esperança é a última que morre”. No primeiro dia da apuração,  chegou a afirmar pára assessores que manter ‘lealdade’ a Donald Trump era ‘bom para os interesses do Brasil’. 

Sanções no Twitter

O presidente dos EUA não para de criticar a apuração dos votos nos estados onde está perdendo a eleição. O Twitter, por conta das afirmações infundadas e das acusações sem provas, adicionou um aviso ao perfil do presidente e diminuiu o alcance das postagem dele no microblog

Nesta sexta, 06, o congressista democrata Gerry Connolly postou no Twitter = "Votos válidos ainda estão sendo computados. Isso é a América, não a Rússia " - em resposta às críticas de Trump a Joe Biden e aos questionamentos dele ao resultado das urnas. Parlamentares democratas chegaram a pedir que o Twitter suspendesse a conta de Trump

Os processos para barrar a contagem de votos:*Geórgia - A campanha de Trump pediu a suspensão da apuração devido a supostas irregularidades em 53 cédulas na Geórgia. O juiz rejeitou o pedido; A autoridade eleitoral no estado disse que até pode recontar os votos, mas garantiu que não existe indício de fraude eleitoral.

*Nevada - Os republicanos usaram  a mesma estratégia: pedir suspensão da contagem, também alegando irregularidades. A contagem foi mantida;

*Wisconsin - Apesar de Trump ter cantado vitória porque os votos no Wisconsin serão recontados, a verdade é que a lei eleitoral desse estado já prevê recontagem se a diferença de votos entre os candidatos for menor que 1%;

*Michigan - A justiça no estado também rejeitou pedido dos republicanos para recontagem e paralisação da apuração dos votos.

*Pensilvânia - Trump pediu que a apuração parasse na Pensilvânia, a Suprema Corte negou paralisar a apuração, mas decidiu na sexta-feira manter a contagem, mas separar os votos enviados via correio que chegaram depois da data da eleição, 3 de novembro. Pela lei eleitoral americana, os votos pelo correio são válidos desde que a data de postagem seja a data da realização do pleito.