Tudo o que você precisa saber sobre a volta às aulas presenciais em Salvador

A partir desta segunda-feira (27), o modelo adotado na rede municipal de ensino passa a ser o 100% presencial

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 27 de setembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Jefferson Peixoto / Secom

Após terem retornado às salas de aula no modelo semipresencial no dia 23 de agosto, os alunos da rede municipal de ensino de Salvador vão, nesta segunda-feira (27), passar a adotar o modelo 100% presencial. Essa será a primeira vez em que isso acontecerá desde março de 2020, quando as escolas foram fechadas por conta da pandemia. A decisão do retorno se aplica para o ensino infantil e o fundamental, afetando os 150 mil alunos e 8 mil professores das 412 escolas municipais. Entenda como será a mudança. 

A decisão foi anunciada pelo prefeito Bruno Reis no último dia 23. Pais e estudantes ainda estão divididos. A doceira Vanessa Pereira, 40 anos, tem dois filhos que estudam na rede municipal. As crianças estão frequentando as aulas semipresenciais, com uma semana em sala de aula e uma semana em casa, mas a mãe tem dúvidas se esse é o momento de voltar 100% ao presencial. 

“Crianças são inquietas e buscam o tempo todo interagir. Acredito que é mais fácil para os professores controlarem metade da turma do que a turma toda. Aqui em casa estamos todos vacinados, mas mesmo assim a gente fica com medo”, disse. 

Já a dona de casa Maria Inês Lima, 42, pensa diferente e disse que aposta no retorno presencial. “Mandei minha filha com receio [para o semipresencial], mas depois de um mês não houve problemas, então, estou me sentindo mais segura. Ela estava sentindo falta dos colegas e está mais alegre depois que voltou a rever os amigos. Então, vamos voltar e vamos monitorando”, afirmou. 

Apesar das iniciativas e dos apelos da prefeitura, a adesão dos estudantes ao ensino semipresencial foi baixa. Segundo o secretário de educação municipal, Marcelo Oliveira, apenas 42% dos alunos estavam comparecendo. A expectativa da secretaria é que esta porcentagem aumente a partir da adoção do novo modelo.  

O secretário defende que as escolas são ambientes seguros e apela para que os pais e responsáveis levem seus filhos. “Estamos seguindo os protocolos e todos os profissionais já estão vacinados. Os alunos tiveram um atraso no ensino muito grande, precisamos recuperar isso. E é importante dizer que a escola não é só para transmitir conhecimento, é um espaço de convivência e desenvolvimento psico-social”, diz. 

Como as aulas estavam funcionando antes?

As escolas passaram a adotar, no dia 23 de agosto, o modelo semipresencial de ensino. Isso significa que as aulas eram divididas entre presencial e online. As crianças iam para as escolas em dias alternados. Metade da turma ia nas segundas, quartas e sextas e a outra metade nas terças e quintas. Na semana seguinte, quem frequentou durante três dias, frequentaria durante dois e vice-versa. Desse modo, só metade da quantidade total de alunos estava na sala de aula ao mesmo tempo. Isso garantia o distanciamento de 1,5m entre eles.

Por que o retorno acontece agora?

No início de setembro, o Ministério da Educação emitiu uma recomendação para estabelecer o afastamento de 1m entre as mesas dos alunos. Essa recomendação foi validada pelo Ministério da Saúde e, com isso, o prefeito Bruno Reis emitiu um decreto estabelecendo essa nova distância para todos os estabelecimentos de Salvador, incluindo as escolas. Com a redução para 1m, é possível que todos os alunos da turma frequentem a sala de aula ao mesmo tempo, porque essa é a distância padrão entre as mesas estabelecida antes da pandemia. 

Como as aulas vão funcionar agora?

O novo esquema começa a valer a partir desta segunda (27), já para todas as séries. Com o ensino 100% presencial, todos os alunos vão frequentar as salas de aula de segunda a sexta, em horário regular. Os pais ou responsáveis que ainda não se sentirem seguros para levar os filhos até a escola poderão manter a adoção do ensino 100% remoto. 

Nas creches, a quantidade máxima de alunos por sala é de 20. Até o 1º ano, é 25. Até o 3º ano, é 30. A partir do 3º ano, são 35, que é o número máximo estabelecido mesmo antes da pandemia. 

O secretário de educação, Marcelo Oliveira, reforça que o modelo agora será o totalmente presencial, mas o ensino híbrido continua. Ou seja, os alunos vão para as salas de aula todos os dias da semana, mas continuarão com o apoio do online. Os cadernos de atividade, estudos dirigidos e as aulas pela TV aberta e pelo canal da Seduc no YouTube continuam. O objetivo é oferecer um reforço aos alunos para recuperar o tempo em que eles estiveram sem aulas. 

Qual é a posição do sindicato sobre a mudança?

O coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), Rui Oliveira, disse que a categoria vai se reunir na segunda-feira (27) para discutir a decisão da prefeitura. Às 9h, acontece uma reunião virtual através dos canais da APLB no YouTube e Facebook para definir o posicionamento dos professores. Segundo o coordenador geral, as aulas presenciais nesta segunda estão mantidas. 

Segundo Rui Oliveira, o sindicato defende o distanciamento de 1,5m. “Queremos que o protocolo de biossegurança, que determina afastamento em 1,5 metro, seja respeitado. Para manter esse distanciamento as salas não comportam mais de 20 alunos, então, não vamos permitir mais de 20 alunos por sala. Vamos discutir o retorno presencial e depois solicitar uma audiência com o prefeito”, contou Rui Oliveira. 

Sobre o argumento, o secretário de educação disse que “não há razão para o sindicato negar o retorno 100% presencial”. “Essa nova distância está sendo praticada em todos os estabelecimentos da cidade”, colocou. 

Há casos de contaminação nas escolas municipais?

Segundo o secretário de educação, Marcelo Oliveira, não houve registro de contágio nas escolas. Foram identificados 18 casos nas escolas de toda a Bahia, mas não há evidências de que a contaminação aconteceu no ambiente escolar. 

“Não há evidência de que a contaminação foi na escola porque as pessoas circulam por outros lugares além das salas de aula. Além disso, não tivemos nenhum caso de contágio cruzado, ou seja, nenhum desses 18 contaminados passou a doença para outra pessoa da escola”, coloca o secretário. 

Como fica a rede estadual e as escolas particulares?

A rede estadual retomou o ensino híbrido primeiro que a rede municipal. No final de julho, as escolas adotaram o modelo semipresencial para 780 mil estudantes do ensino médio, profissionalizante e Ensino Jovens e Adultos (EJA). Duas semanas depois foi a vez de 120 mil alunos do ensino fundamental II voltarem para a sala de aula. 

Apesar dos esforços, também houve pouca adesão por parte de professores e estudantes. Por enquanto, o modelo usado ainda é o semipresencial e a previsão, segundo o governador Rui Costa, é de que, a partir de outubro, a rede também adote o 100% presencial. Na rede privada, as escolas já estão se preparando para o retorno totalmente presencial, fazendo um levantamento de quantos alunos vão aderir ao modelo. 

Qual é o cenário da covid-19 em Salvador?

Cerca de 1,2 milhão de soteropolitanos estão completamente imunizados e outros 2 milhões receberam a primeira dose da vacina contra a covid-19. Atualmente a cidade está protegendo pessoas com 12 anos ou mais e aplicando doses de reforço em idosos a partir dos 60 anos.

A cidade contabiliza um total de 236.016 casos de covid-19 e 7.619 óbitos. Os bairros com mais quantidade de casos são Pituba (7.739), Pernambués (6.749) e Brotas (6.478). A faixa etária mais atingida é entre 30 e 49 anos. O gráfico de casos na cidade não indica crescimento desde o início do mês de agosto. 

A variante Delta é uma preocupação das autoridades. A Bahia tem ao todo 72 casos da variante, com dois óbitos. Salvador é uma das cidades com registros. Ainda não se sabe quantos desses casos foram detectados na capital. 

De acordo com o boletim epidemiológico divulgado neste domingo (26) pela Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), Salvador tem taxa geral de ocupação de leitos para covid-19 de 28%. São 18% de ocupação para as enfermarias de adultos e 28% para as UTIs de adultos. Em relação aos leitos pediátricos, a taxa de ocupação das enfermarias é de 60% e das UTIs é de 55%. 

Quais são os protocolos sanitários adotados nas escolas?

- Todos os alunos devem usar máscara, exceto os da Educação Infantil (0 a 5 anos) e os que têm autismo - Todos terão a temperatura aferida, e aqueles com resultado igual ou superior a 37,5°C devem ser direcionados para acompanhamento de saúde adequado - Todos os colaboradores devem higienizar as mãos com água potável e sabão ou devem realizar o uso de álcool 70%   - Qualquer suspeita de covid-19 devem ser encaminhados para um posto de saúde - Os estudantes, professores e outros funcionários que estiverem com suspeita de doença não devem ir à escola  - As mesas, cadeiras, pisos e portas devem ser higienizadas a cada turno  - Carteiras em sala de aula espaçadas em 1 m  - As janelas das salas de aula devem, preferencialmente, permanecer abertas  - Em caso de utilização de ar condicionado, ele não deve ser mantido no modo recirculação do ar  - Deve-se higienizar as mãos antes de entrar na sala de aula  - Os brinquedos e materiais de uso comum, em salas de aula, deverão ser higienizados a cada uso  - Evitar levar brinquedos pessoais, dando ênfase nas atividades recreativas ao ar livre  - Corredores, elevadores, corrimões, portas, pisos, maçanetas, etc devem ser higienizados diariamente, a cada três ou quatro horas - As portas devem permanecer abertas ou encostadas para reduzir o contato com as maçanetas  - Proibido o uso de bebedouros com esguichos. Alunos e funcionários devem levar copo individual e/ou descartável para pegar água do bebedouro   - A higienização dos refeitórios deve ocorrer a cada 3h ou 4h  - As quadras deverão ser utilizadas por turnos e em horários diferenciados por cada turma  - As escolas deverão suspender atividades coletivas que exija maior proximidade  - O acesso de todos que tenham contato com casos suspeitos ou confirmados de covid-19 só será permitido após 10 dias de isolamento e após 24h sem sintomas ou mediante a apresentação de teste negativo (RT-PCR)  - As escolas que possuem área para recreação devem realizar o recreio monitorados, organizando as turmas em horários intercalados, de modo a evitar aglomeração  - Proibido o compartilhamento de comida, utensílios e brinquedos entre os grupos  - Eventos escolares como viagens, atuação em campo externo ou teatros deverão ser suspensos  - A ocorrência de mais de um caso suspeito ou confirmado na mesma escola em um período de 15 dias, a direção deve informar ao Distrito Sanitário de abrangência da unidade escolar 

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier