Um ano após canonização: Santa Dulce dos Pobres e do mundo

Mesmo com pandemia, turistas da China, Canadá e Austrália passaram pelo santuário na Cidade Baixa; Congregação calcula que a devoção já é forte em, pelo menos, nove países

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 13 de outubro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

Um ano após a sua canonização, já é possível enxergar a luz de Santa Dulce chegando aos quatro cantos do mundo. Mesmo em pandemia, o Santuário de Santa Dulce dos Pobres recebeu, nos últimos dias, gente de três continentes diferentes: China (Ásia), Canadá (América do Norte) e Alemanha (Europa). Em tempos normais, 350 mil pessoas de todo o mundo seriam esperadas no local em todo o ano de 2020, o que equivale a uma média de cerca de 30 mil pessoas por mês.  

No entanto, em setembro, apenas 13 mil pessoas passaram por lá. O número é inferior ao esperado, mas acima do registrado em agosto (5,5 mil), mês em que se comemorou o primeiro dia litúrgico de Santa Dulce, no dia 13. É nessa data que todos os fiéis devotos se reúnem, de forma especial, para rezar para a primeira santa baiana. 

Já 13 de outubro é a data em que se recorda a canonização de Santa Dulce, que aconteceu em 2019, no Vaticano. Não há dimensão da quantidade de pessoas que passarão pelo Santuário nesse mês de outubro, mas Frei Giovanni Messias, reitor do local, destaca que o espaço está estruturado para um aumento na visita das pessoas. “Venham em peregrinação e romaria, mas com respeito às medidas de segurança, usando máscara e com distanciamento social”, afirmou.   Frei Giovanni pede a intercessão de Santa Dulce para que a festa no próximo ano seja sem pandemia (Foto: Nara Gentil/CORREIO) “Todo o dia 13 de cada mês já recebemos uma grande quantidade de visitas. Mesmo no período que o local ficou fechado, tinha gente que vinha na porta e fazia sua oração. Agora, vamos rezar em ação de graças por essa canonização. Teremos quatro missas durante o dia e uma programação online para evitar aglomerações”, completou o sacerdote. Confira a programação completa desse dia festivo no final do texto.  Um ano de Santa Dulce dos Pobres, memórias de um dia inesquecível: confira abaixo o podcast especial

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A comemoração de um ano da canonização de Santa Dulce também é festiva para o publicitário Márcio Didier. Mas por outro motivo. É nessa data que ele completa um ano na frente do seu novo emprego: gestor do complexo turístico-religioso de Santa Dulce dos Pobres, que envolve o Santuário, a lojinha, um café e o memorial. Márcio foi contratado pelas Osid justamente para integrar o espaço que não parava de receber visitantes desde o anúncio da canonização.   Marcio Didier leva o exemplo de Santa Dulce estampado em sua camisa (Foto: Nara Gentil/CORREIO) “Tivemos um trabalho de transformar ilhas em continente, nos preparando de uma forma profissional para atender a todos esses novos devotos”, explicou Didier. Quando ela ra beata, o Santuário recebia cerca de 6 mil pessoas por mês. Depois, esse número aumentou de um modo que, num único dia, 8 mil pessoas chegaram a ser atendidas. “As obras do Caminho da Fé e a própria pandemia nos forçaram a fazer uma nova adaptação: a virtual. Hoje alcançamos pessoas através do meio digital. No dia 13 de agosto, 44 mil pessoas acompanharam a Missa de Santa Dulce”, disse.  

Devoção  Segundo a Irmã Silvia Corado do Amaral, que é coordenada da unidade soteropolitana da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, a qual Santa Dulce faz parte, a devoção a primeira santa baiana é forte em, pelo menos, nove países: Alemanha, EUA, China, Taiwan, Filipinas, Vietnã, Namíbia, Angola e Tailandia. Todas essas nações possuem freiras da congregação que espalham o exemplo de Santa Dulce para as pessoas.  “A congregação nasceu no Brasil, no estado do Pará, mas se espalhou por todos esses países. Nós nos envolvemos inteiramente no processo de beatificação e canonização. Por exemplo, em 2017, quando ela ainda era beata, uma irmã vietnamita esteve em Salvador e, prevendo a canonização, pagou bagagem extra para levar duas grandes imagens para a Ásia. Tem uma em Taiwan e outra na Filipinas. Elas celebram as datas festivas, envolvem a comunidade e tem as experiências particulares de fé”, explicou Irmã Silvia.  Pelo Twitter, o CORREIO encontrou devotos de diversos lugares do mundo. Uma delas é a missionária católica americana Meg Hunter-Kilmer, que nos contou ter conhecido Santa Dulce através das redes sociais. “Eu a amei tanto que excluí uma das histórias do meu próximo livro infantil para poder incluir um conto sobre ela. E eu contei a história para minhas sobrinhas e sobrinhos. Uma delas amou tanto que nomeou uma de suas bonecas de Dulce”, afirmou.  

Frei Giovanni destacou que essa devoção ultrapassa as barreiras da religião. “Ela é uma santa que consegue circular não só no meio católico, mas também de outras denominações. Ela tem uma vida de virtudes, amor aos pobres e aos pequenos que extrapola as paredes da Igreja. Então, tem crescido tanto a parte devocional, de rezas, de novenas, como também de pessoas que se identificam com Santa Dulce e vêm até aqui conhecer”, disse.  

Para o gestor do gestor do complexo turístico-religioso de Santa Dulce dos Pobres, as atividades digitais das Osid tem ajudado a espalhar para o mundo quem é a primeira santa brasileira. “Recebemos encomendas na nossa lojinha virtual e mensagens de fora e de dentro do Brasil. Criamos uma rede de interação legal com os fiéis. Até relatos de milagres eles nos enviam, como o de um rapaz que estava com 80% do pulmão comprometido por causa da covid-19 e ficou curado. Ele atribui a graça à Santa Dulce”, disse Didier. 

Com esse crescimento de devotos e pessoas interessadas na vida da santa baiana, aumentou também o número de doações recebidas pelas Osid, algo que está relacionado com as visitas presenciais feitas ao complexo turístico-religioso. “Quando o santuário ficou fechado, o número de doações diminuiu muito e o baque foi sentido. Mas alguns artistas nos ajudaram, fizemos ações digitais e, agora, com a retomada das visitas presenciais, tem aumentado a doação. Para visitar, as pessoas não precisam pagar nada, mas eles sempre deixam uma contribuição por vontade própria”, explicou Márcio Didier.  

Busto   Celebrando o primeiro ano da canonização, um busto de Santa Dulce foi instalado na manhã dessa segunda-feira (12) no início do Caminho da Fé, que liga o Santuário à Igreja do Bonfim, em um trajeto de 1,1 quilômetros. A imagem foi feita por material de fibra pelo artista plástico Felix Sampaio e tem a intenção de mostrar a face de luz de Santa Dulce.   Busto foi instalado para ser inaugurado nessa terça-feira festiva (Foto: Nara Gentil/CORREIO) “Colamos estrategicamente no início do Caminho da Fé e visível para quem estiver na praça. Nossa ideia foi dar um close mesmo no rosto dela. E colocamos agora para comemorar essa canonização”, disse o artista, que é devoto de Santa Dulce. “Para mim, ela sempre foi santa, pois para construir essa obra, da forma como ela fez, tem que ter muita força divina. Ela trabalhou com base no amor e na solidariedade e hoje todos a reconhecem santa”, disse.  

Quem não pode ir nesse dia 13 no Santuário, aproveitou o feriado nacional do dia 12 de outubro, em que se comemora o Dia de Nossa Senhora Aparecida, para passar pelo local e adiantar sua oração. Esse é o caso do devoto José Carlos, 66 anos, que conheceu pessoalmente Santa Dulce e frequenta semanalmente o espaço para agradecer.  “Amanhã eu não venho, pois eu tenho que sair para trabalhar. Se tiver oportunidade, eu passo aqui rapidamente pela tarde. Eu sempre venho aqui para agradecer mesmo. Já tive a oportunidade de atendar a ela, quando trabalhava numa firma de ferramentas. Às vezes eu cobrava a ferramenta que vendia, mas em outros momentos deixava ela sair sem pagar. Tenho muito orgulho de ter vivido isso e só tenho a agradecer a Deus”, disse o fiel.  José Carlos reza o terço em agradecimento à Nossa Senhora e Santa Dulce dos Pobre (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Katia Cristina, 47 anos, também foi para agradecer. Ela já tem o costume de frequentar o espaço toda quinta-feira e, durante o feriado nacional, foi expressar a sua gratidão por esse primeiro ano de canonização. “Santa Dulce para mim é um exemplo de obediência e fidelidade. A Obra dela se estabeleceu através do tempo e hoje vive em nossos corações”, disse.  

Relembre:  A canonização de Santa Dulce no Vaticano foi vivida com muita festa na Bahia. Às 5h33 do Brasil, o Papa Francisco leu, na Praça São Pedro, no Vaticano, a fórmula da canonização que transforma a baiana na primeira santa brasileira. Em Salvador, no Santuário dedicado à religiosa, na Cidade Baixa, fiéis em vigília desde ontem celebraram o momento.  Imagem de Santa Dulce foi exposta no Vaticano no dia da canonização (Foto: Jorge Gauthier/Arquivo CORREIO) A cerimônia teve a presença de milhares de fiéis, que também acompanhavam a canonização do britânico John Henry Newman (1801-1890), a italiana Giuseppina Vannini (1859 -1911), a indiana Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan (1876 -1926) e a suíça Marguerite Bays (1876 -1926). 

Uma liturgia específica para canonizações aconteceu na cerimônia, que começou com cantos iniciais e a saudação do Papa. Logo depois, o cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação das Causas dos Santos, fez o pedido formal ao Papa para que Irmã Dulce e outros quatro beatos fossem considerados santos. 

A vigília que aconteceu em Salvador teve a presença da funcionária pública Cláudia Araújo, primeira pessoa a receber um milagre de Irmã Dulce. "Não tenho palavras para descrever esse momento com Deus e, agora, com Santa Dulce", disse, na época, a miraculada, que veio de Sergipe para acompanhar da capital baiana esse momento. Claudia estava grávida e tinha uma hemorragia, quando foi curada por Santa Dulce.  

Uma semana depois, ela e os filhos estiveram na Arena Fonte Nova com o segundo miraculado reconhecido oficialmente, o maestro José Maurício Moreira, que era cego e voltou a enxergar. O estádio de futebol foi palco de uma verdadeira festa que celebrou a canonização da santa baiana. Quase 50 mil pessoas estiveram presentes e lotaram a Fonte Nova para celebrar esse dia.  

A programação teve shows de bandas católicas e o espetáculo “Império de Amor”, com 700 atores e participações ilustres dos cantores Saulo, Margareth Menezes, Waldonys, Tuca Fernandes e o padre Antônio Maria. Depois, a missa principal foi presidida pelo então arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger. Neste intervalo de celebrações, a continuidade da programação cultural e religiosa foi também marcada pelas vozes dos artistas Adelmário Coelho, Targino Gondim e do tenor Thiago Arancam, que cantaram nas entradas das imagens de Santo Antônio, Nossa Senhora da Conceição e do Senhor do Bonfim. 

Linha do tempo de Santa Dulce:  26 de maio de 1914 – Nasce Dulce dos Pobres 

1922 – Primeira Comunhão de Santa Dulce  Irmã Dulce em 1922, na primeira comunhão (Foto: Divulgação/Osid) 20 de agosto 1932 – Crisma de Santa Dulce  

13 de agosto de 1933 - Recebe o hábito de freira das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. 

1935 – Inicia a assistência para a comunidade dos Alagados e começa a trabalhar com operários da península itapagipana.  

1949 – Ocupa o galinheiro do convento onde vivia para fundar o que é hoje o Hospital Santo Antônio 

26 de maio de 1959 – Funda as Obras Sociais Irmã Dulce. 

7 de julho de 1980 – Tem o seu primeiro encontro com São João Paulo II. 

1988 - É indicada ao Prêmio Nobel da Paz.  

1991 – Segundo encontro com São João Paulo II 

13 de março de 1992 – Morte 

Janeiro de 2000 - Início do processo de canonização. 

Abril de 2009 – Papa Bento XVI reconhece as virtudes heróicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à freira baiana. 

9 de junho de 2010 - É realizada a exumação e transferência das relíquias da então Venerável Dulce para sua capela definitiva. 

27 de outubro de 2010 - É reconhecido a autenticidade do primeiro milagre atribuído a Santa Dulce. O referido milagre ocorreu na cidade de Itabaiana, em Sergipe, Claudia Cristina dos Santos, que sofria hemorragia e corria risco de morte. Ela estava grávida e, após curada, teve o seu filho Gabriel.  

13 de maio de 2019 - Papa Francisco promulga o decreto que reconhece o segundo milagre atribuído à intercessão de Santa Dulce. O homem agraciado é José Maurício Moreira. Natural de Salvador, que era cego e voltou a enxergar.  

13 de outubro de 2019 - É celebrado no Vaticano a cerimônia de canonização de Santa Dulce.  

20 de outubro de 2019 – Baianos celebram a canonização de Santa Dulce em evento realizado na Arena Fonte Nova.  

Programação da festa de 1 ano da Canonização de Irmã Dulce:  Dia 13 de outubro – 1 ano da Canonização  08h30: Missa Solene  10h30: Oração dos 13 Mistérios da Vida de Santa Dulce  12h: Missa  15h: Terço em honra a Santa Dulce e Benção do Santíssimo Sacramento  16h: Missa  17h: Exibição do curta-metragem “A Vida Interior de Santa Dulce dos Pobres” 

De 16 a 18 de outubro - Tríduo da Gratidão pela Canonização  08h30: Missa  10h: Exibição de programetes: Romaria da gratidão; Eu vivi a canonização; Sementes de amor e Santa Dulce mudou minha vida  10h30: Terço em honra a Santa Dulce dos Pobres  12h: Missa  15h: Terço da Misericórdia e Benção do Santíssimo Sacramento  16h: Missa  17h: Exibição de programetes: Prosa e fé; Eu vivi a canonização; Sementes de amor; Santa Dulce mudou minha vida e Romaria da gratidão 

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.