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Ivan Dias Marques
Publicado em 25 de junho de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
França x Brasil foi um jogo bom de assistir. No WhatsApp, no Twitter, até na fila para a revista antes de entrar no local do São João de Santo Antônio de Jesus, a partida foi comentada. Talvez nesse último tenha sido o melhor feedback que tive. Dois homens começaram a conversar sobre o jogo. Já ‘vacinado’, esperava comentários estereotipados, mas tive a ótima surpresa de ouvir elogios à seleção brasileira e, principalmente, à França.>
Um dos caras deu a real. “Velho, o futebol francês é um dos melhores do mundo. O Lyon é campeão da Europa o ano todo, papá”. O outro respondeu: “Mas os Estados Unidos que são a melhor seleção, irmão”. “Eu sei, rapaz. Mas a França é barril também”.>
Sim, a França é barril. E virou barril chegando na frente numa corrida que o Brasil começou primeiro. Lá em meados da década de 90, quando Sissi já encantava, as francesas nem sonhavam em ter uma seleção, quanto mais uma liga forte. Mas colocaram o objetivo na cabeça, se estruturaram e, voilà, encantam quem as assiste jogar.>
A seleção francesa é, literalmente, a nata. Jogadoras que tratam bem a bola, com consciência tática, jogadas ensaiadas, sistema de jogo obedecido à risca. Felizmente, para elas, não precisam se preocupar com um técnico que não tem nível, conhecimento particular ou equipe técnica desproporcional ao que uma equipe nacional exige, como foi o nosso caso.>
As brasileiras chegaram às oitavas de final da Copa do Mundo por mérito delas. Tiveram uma das melhores atuações da Seleção na história, em termos de dedicação, consciência, raça e concentração. Mesmo perdendo uma série de companheiras por lesões musculares.>
Não pode ser coincidência Fabi, Érika, Andressa Alves e Cristiane se machucarem dessa forma numa preparação e no Mundial, fora Marta, que conseguiu se recuperar mas perdeu a primeira partida. Para mim, é um absurdo Andressa ter uma lesão num treino de Copa do Mundo, onde a intensidade do trabalho precisa ser baixa, só de manutenção diária.>
A melhoria da nossa seleção passa pelo investimento nas ligas femininas e com uma gestão que esteja acostumada a lidar com as mulheres e suas diferenças e peculiaridades. A seleção brasileira feminina não pode ser um local para experiências com treinadores e dirigentes que passaram a carreira gerenciando times masculinos e nunca demonstraram ter nível de seleção nacional.>
Talvez se a CBF diminuir um pouco dos seus R$ 2,7 bilhões gastos com despesas de pessoal e administrativa nos últimos 16 anos, segundo Amir Somoggi, especialista em gestão esportiva, haja dinheiro para investir no futebol feminino. Dá uma média de quase R$ 170 milhões por ano, em valores atualizados.>
O mundo, em si, pouco investe, mas começa a abrir os olhos. O Real Madrid quer montar agora um time de galácticas, em seu segundo ano com equipe feminina. Promete gastar € 2 milhões, pouco menos de R$ 9 milhões, e levar jogadoras como Marta, Amandine Henry (França), Ada Hegerberg (Noruega e atual melhor do mundo na premiação Bola de Ouro, da revista France Football), entre outras.>
Aí a comparação com o masculino é inevitável. Quanto o Real Madrid gastaria para trazer três dos melhores jogadores do planeta? Uns € 500 milhões, ao menos. O futebol feminino, como vemos, ainda precisa se desenvolver muito, mas o caminho está sendo percorrido. Ao menos, lá fora.>
Ivan Dias Marques é subeditor de Esporte e escreve às terças-feiras>