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Miro Palma
Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
Não resistiu nem quatro anos. O legado físico dos Jogos Olímpicos para a cidade do Rio de Janeiro não aguentou, nem mesmo, esperar a estreia da próxima Olimpíada, que tem início daqui a exatos seis meses e uma semana, em Tóquio, no Japão. Anteontem, a Justiça Federal no Rio determinou que fossem interditadas as instalações construídas para a Olimpíada de 2016. Isso porque, de acordo com o Ministério Público Federal, os equipamentos não contam com licenças que atestam os requisitos de segurança desses locais como, por exemplo, o laudo de vistoria do Corpo de Bombeiros e o habite-se da Prefeitura do Rio.
Convenhamos, não há surpresa nisto. Tão logo se encerrou o evento, os gestores públicos e privados que, antes, fizeram mil promessas para a manutenção desse legado, fecharam os olhos para os espaços esportivos. Poucos meses depois, já dava para ver o abandono. O Parque Aquático, o Velódromo, o Campo de Golfe, a Pista de Ciclismo BMX, o Centro Olímpico de Tênis, quase todo o Parque Olímpico ficou jogado às traças. Mais adiante, pouco mais de um ano após os jogos, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Arthur Nuzman, foi preso em uma operação que investigava um esquema criminoso de compra de votos para a eleição da cidade olímpica de 2016. Ano passado, a autarquia responsável por gerir algumas das instalações do Parque Olímpico, a Autoridade de Governança do Legado Olímpico (Aglo) foi extinta por decreto assinado um ano antes por Michel Temer.
Nem mesmo as pobres mudinhas carregadas pelos atletas durante a cerimônia de abertura dos jogos tiveram seus destinos consumados. As mais de 13 mil mudas que se tornariam a Floresta dos Atletas, compromisso anunciado ao vivo durante a transmissão da cerimônia e que, mais tarde, foi apontado pelo Tribunal de Contas da União como um estelionato moral.
Surpresa, aliás, é saber que, desde a sua inauguração, o Parque Olímpico nunca contou com as licenças necessárias. O jeitinho brasileiro batizado de licença temporária foi o que manteve aberto o espaço até hoje. A manobra, inclusive, foi renovada em maio pelo atual governo estadual do Rio. Já a prefeitura da capital fluminense, aquela que não liberou o habite-se, disse que vai recorrer da decisão da Justiça Federal. Coerência?
E aí, quando olhamos para Tóquio, chega a ser constrangedor. Ao invés de um megalomaníaco Parque Olímpico, a capital japonesa optou por espalhar as instalações por toda a metrópole, justamente, para evitar o que aconteceu com o Rio e tantas outras cidades sedes de eventos esportivos: um legado de elefantes brancos. A seis meses da abertura, 43 dos 45 equipamentos que serão utilizados já estão prontos – os outros dois devem ser entregues até fevereiro. Desse total, mais da metade já existia (27). Outras dez instalações são feitas de estruturas temporárias e oito foram pensadas para uma utilização pós-jogos.
É injusto comparar Tóquio com o Rio, dirão alguns. No entanto, mais injusto ainda é ver todo o investimento público virando ruínas em um cemitério de memórias olímpicas. O legado dos Jogos Olímpicos de 2016 para o Rio de Janeiro foi um escárnio sobre o que de pior existe na nossa administração pública. Não aprendemos com o Pan-Americano de 2007, com a Copa do Mundo de 2014, e seguimos sem aprender com as Olimpíadas de 2016. A única coisa que soubemos fazer foi acumular vexames.
Miro Palma é subeditor de Esporte.