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Waldeck Ornelas
Publicado em 6 de janeiro de 2020 às 14:30
- Atualizado há 2 anos
É certo que as mudanças no perfil demográfico da população, com redução do número de crianças, leva a uma reavaliação contínua da rede escolar, o que envolve muitas vezes a necessidade de extinguir escolas. Mas isto ainda diz respeito somente ao Ensino Fundamental I, cujos prédios podem ser convertidos em unidades de Educação Infantil, do que há falta, nacionalmente.>
Decididamente este não é o caso do Colégio Estadual Odorico Tavares, um estabelecimento de ensino médio. Com uma estrutura de grande porte, construção de qualidade, acessos pelo Corredor da Vitória e Vale do Canela, o colégio ocupa uma área de 5.000m² e tem capacidade para 3.000 alunos, mas está com uma matrícula de apenas 10%. Este colégio deve ser fechado?>
Um estado que tem o pior ensino médio do país não pode fechar uma escola destas sob o simplório argumento de que a matrícula está insuficiente. Primeiro é preciso, no mínimo, fazer uma pergunta elementar: a oferta educacional do colégio e suas condições físicas correspondem à necessidade da clientela e da área onde está localizado?>
Antes de olhar para o valor e o potencial imobiliário do terreno, na área do mais alto m² da cidade, é preciso considerar um conjunto de variáveis que respondam, preliminarmente, às demandas da própria educação, ou seja, sobre a educação – cursos e qualidade – que está sendo aí oferecida, além do estado geral do Colégio. >
Os antecedentes depõem contra os cuidados com a Escola: já em 2017 a cobertura da quadra de esportes não resistiu às chuvas; goteiras e infiltrações atestam a falta de manutenção. O que, pelo elevado padrão, era uma megaestrutura, há vários anos vinha se deteriorando e degradando continuadamente.>
Por outro lado, gerir a educação pública já não é mais construir escolas. Não se trata, pois, de trocar o Odorico por 2, 3, 4, 5 ou 60 novas escolas. No presente, a meta – e o desafio – é oferecer ensino de qualidade. E nisto o Odorico já foi bom: estamos diante de um colégio onde a procura era tanta que as vagas eram objeto de sorteio eletrônico.>
O que certamente não se trata mais é de ter ali um colégio convencional, com uma oferta de curso claramente inadequado à demanda. O imóvel e a localização requerem a conversão do Colégio Estadual Odorico Tavares, com este mesmo nome, em um grande centro de educação tecnológica – de ensino médio integrado ao técnico profissional – com foco nas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), para atender às pessoas que trabalham nas atividades de comércio e serviços, qualificar a mão-de-obra, possibilitar melhor nível de renda aos educandos e melhorar a qualidade da educação baiana.>
Não custa lembrar que o patrono da escola foi um ilustre jornalista e intelectual, tendo sido o diretor dos Diários Associados na Bahia, que detinha os jornais Diário de Notícias e O Estado da Bahia, além da Rádio Sociedade da Bahia, tendo implantado a TV Itapoan, a primeira do Estado. Poeta e escritor, foi membro da Academia de Letras da Bahia.>
Por sua vez, a Av. Sete de Setembro é um dos mais importantes eixos de comércio e serviços da capital baiana. O trecho da Vitória é, ele próprio, um grande corredor de museus, hotéis, centros culturais, restaurantes, lanchonetes e dois supermercados estão em implantação; o trecho das Mercês à praça Castro Alves é um ativo eixo comercial e de escritórios; os bairros vizinhos, do Campo Grande, Fazenda Garcia, Canela, Graça, Barra e Barra Avenida, caracterizam-se como áreas de uso misto, onde a função residencial se mescla, positivamente, com atividades terciárias. >
Assim, se não estiver próximo da moradia de parte dos alunos, estará próximo do local de trabalho de todos eles. As filas por matrícula precisam voltar ao Odorico!>
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional e ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia.>
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores>