Uma coleção de curiosidades inúteis

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  • Kátia Borges

Publicado em 19 de março de 2022 às 07:00

- Atualizado há um ano

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Não é de hoje que o mundo me intriga. Ficar a noite inteira acordada pra ver o Sol nascer. Ter o amanhecer como primeiro enigma. Se curvar a uma terra estranha por ser infinitamente mais estranho do que ela. Como no poema de Orides Fontela, reverenciar o mistério da iniciação. Colecionar curiosidades inúteis. Como se acolher o que é irrelevante fosse outra forma de saber. Sabedoria menor que foge ao controle.

Feito uma criança cismando, diante das infinitas combinações contidas nas tampinhas colecionáveis dos refrigerantes. Personagens coloridos das revistas em quadrinhos no front de prêmios inalcançáveis. Cheiro de infância nas merendeiras, que se acende à primeira conversa sobre a fábrica da Crush. Tudo era um luxo na precariedade, ver pela janela envidraçada o engarrafamento do líquido cor de laranja.

Descobrir que o Sol nasce primeiro em Kiribati, com suas 33 ilhas que se espraiam por quatro continentes. Que um mosquito tem 47 dentes. Que nos cronópios o coração se aloja na cabeça. Não, não é de hoje... Descobrir que há quem pague uma fortuna para escalar os sete cumes. As montanhas mais altas do planeta. Perceber que, em toda a vida, vivenciei o caos na busca pela fagulha mínima que o transformaria em paz.

Modos de curiosidade alheios a toda forma de pragmatismo. Descobrir que há mais galinhas do que gente. Será verdade? Descobrir que em Júpiter e em Saturno chovem diamantes. Fazer um tour remoto pelos lugares mais isolados do planeta. As ilhas de Tristão da Cunha e Socrotá. A fauna de peixes mais singular que existe, nas cordilheiras do Chile. Espécies de plantas que não são vistas em nenhum outro lugar.

Ficar a noite inteira acordada para ver o Sol. Como quem revolve a areia até formar um rosto reconhecível. Pouco em mim não intuía o caminho, avessa desde sempre a uma existência rotineira. Eu, que hoje capricho na agenda que antecede a semana, com anotações sobre reuniões, rumos, contatos, desmoronamentos. Tijolos mínimos com que vou construindo um muro, uma casa, um abrigo, uma ponte talvez.