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Uma mão na trança, outra no celular: trancistas usam redes para ampliar negócios


 

Vídeos curtos com dublagem e dancinhas são a principal forma de divulgação das empreendedoras

  • Wendel de Novais

Publicado em 28/03/2022 às 06:27:00
Atualizado em 19/05/2023 às 22:31:33
. Crédito: Acervo pessoal

O Tik Tok e, depois, o reels do Instagram entregaram aos usuários de redes sociais um modelo curto e direto na hora de compartilhar momentos. E a galera se jogou na nova forma, que é sucesso absoluto nestes aplicativos. Agora, mais do que fazer publicações de poucos segundos para se divertir, teve quem usou o formato, com dancinha, dublagem e tudo que tem direito, para dar um boom no próprio negócio. 

Trancistas da Bahia viram a onda chegar, surfaram e, de quebra, se transformaram em verdadeiras blogueiras com milhares de seguidores. Para além disso, usaram esse reconhecimento como pilar para ampliar suas redes de clientes, impulsionar sua empresa e até diversificar os serviços que romperam as fronteiras do território baiano.

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Andrezza Miranda (@andrezzamiradad), 26 anos, é trancista desde de 2019. Antes da pandemia e do sucesso dos vídeos curtos, trabalhava trançando o cabelo de amigas da irmã, em Itapetinga, no sudoeste da Bahia. Depois de passar a fazer vídeos relacionando as trends com o seu negócio, viu o que era uma forma complementar de renda virar um negócio de sucesso. Hoje, ela trança e ainda vende laces (perucas), box braids e fibras para todo o Brasil.

"Meu público era de Itapetinga. Depois, corri muito e passei a ter em Salvador. Hoje, meu principal negócio é o envio de cabelos como rabo de cavalo e wig, que é peruca, pro Brasil todo. Tô querendo agora fazer para fora do país", conta ela, que tem clientes em estados como  Pará, Pernambuco, Acre e o Distrito Federal.

Redes como pilar

O crescimento e a diversificação do negócio de Andrezza andaram em paralelo com a sua subida no Instagram. Em oito meses, ela saiu de mil para 17 mil seguidores na rede. Tudo porque ela tem a produção de conteúdo como parte do trabalho, onde relaciona as trends e áudios do momento com a sua rotina como trancista. 

"É trançando, gravando e postando. Faço bastante brincadeira com a realidade de quem é trancista e também dos clientes. É piada com fiado, com a vontade do povo de trançar. Meu primeiro vídeo com um milhão de visualizações foi nessa pegada. E o povo se identifica", fala ela. 

Quem tem uma história parecida é Camila Alves (@_camilatrancista), 26 anos. Ela fazia tranças como hobby aos fins de semana enquanto cursava Pedagogia. Com a chegada da pandemia, largou o curso e se jogou de cabeça no trabalho de trancista. E as redes sociais foram decisivas para a consolidação dela na área.

"No começo, ganhava cliente naquele velho boca a boca. De 2021 para cá, ganhei uns 10k de seguidores. O crescimento rolou depois do reels. Hoje, é a principal forma de marketing. A grande maioria das clientes que atendo e ocupam todo meu mês aqui vem do Instagram", relata ela, que tem quase 12 mil seguidores na rede.

O ganho nas redes fez até os maiores medos da trancista desaparecerem como se não fossem nada. Moradora de São Cristóvão, ela temia que pessoas que vivessem em bairros mais distantes não fossem até ela. Com todo o sucesso que vem fazendo, isso deixou de preocupar a soteropolitana.

"Onde eu moro, eu tinha receio das clientes não virem por não ser um lugar de fácil acesso. Mas eu investi mesmo assim e percebi que, quando o povo gosta, eles vão atrás seja onde for. Tenho clientes de Brotas, Cajazeiras, Subúrbio Ferroviário e até de Camaçari, por exemplo", conta Camila, que também faz sucesso com pessoas dos bairros mais próximos como Mussurunga, Jardim das Margaridas e Itapuã.  Camila tem espaço próprio para trabalhar (Foto: Acervo Pessoal) Lucro e independência

Tanto para Camila como para Andrezza, ser trancista deixou de ser uma prática que garantia uma renda complementar e passou a ser a atividade principal com a qual elas conseguem viver. Andrezza conta que, em bons meses, consegue tirar quase três salários mínimos do seu trabalho. 

"Foi assim que conquistei minha independência financeira. Meu pai me ajudava, mas agora ele fala 'vou mandar um dinheiro ' e eu digo que não precisa. Graças a Deus tô tranquila nesse sentido e tô perto dos três salários mínimos ganhando. Ainda gasto muito, mas tô perto", brinca a trancista.

Mãe de gêmeos, Camila também relata uma mudança total em sua vida financeira. Atendendo cerca de duas clientes de segunda a sábado, o saldo na conta é bem superior ao que ela ganhava enquanto estagiária de Pedagogia.

"Mudou 100% minha renda. Estagiária, todo mundo sabe, ganha pouquíssimo. Com o dinheiro das tranças, consegui ganhar meu espaço e, hoje, estou construindo um novo pra mudar. Isso além de sustentar minha família com esse trabalho. Mãe de gêmeos, tô no caminho de prover tudo para os meus meninos", projeta Camila. 

Como começar

Pergutadas, Andrezza e Camila concordam ao comentar o mercado para trancistas na Bahia. Segundo elas, há demanda de sobra por aqui já que as tranças estão consolidadas na "cultura estética" dos baianos. Por isso, a reportagem traz dicas de como começar das duas para quem tem interesse em empreender nesta área. 

Observar e entender"Vai pro Youtube, começa por lá. Observa, olha como o povo faz, tem diversos conteúdos sobre. Foi por lá que eu comecei. Pra quem não tinha como pagar, foi a forma que encontrei de dar esse primeiro passo. Hoje, tem até curso básico de graça na Internet. Pode ser outra maneira, mas tudo começa com você entendendo o negócio", indica Andrezza. Treinar e praticar"É um trabalho que é questão de tempo e prática. O dia a dia é cansativo, mas tem que meter as caras. Então, treinar e praticar é essencial. Ninguém começa sabendo. Precisa fazer isso, ter dedicação e paciência. Com isso, você vai pra frente", orienta Camila.