‘Uma pessoa simples’, definem amigos do professor Jorge Portugal em despedida

Corpo do ex-secretário da Cultura foi sepultado nesta terça (4), em Santo Amaro

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  • Gil Santos

Publicado em 4 de agosto de 2020 às 20:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Arisson Marinho e Nara Gentil/CORREIO

Portugal faria 64 anos nessa quarta-feira (Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO) Sempre que Jorge Portugal ia a Santo Amaro, no Recôncavo, provocava um alvoroço na cidade. Conhecido por ser uma pessoa simples, característica que manteve mesmo depois da fama, era querido em cada canto do pequeno município. Por isso, a morte dele, ocorrida neste segunda-feira (3), deixou os moradores entristecidos.

O sepultamento estava marcado para as 16h desta terça-feira (4), mas devido as fortes chuvas a cerimônia foi antecipada em 1h. Uma pena para o professor de matemática Antônio Teixeira, 65 anos, que chegou atrasado. Ele foi colega de Portugal. Os dois estudaram juntos na mesma turma, no Colégio Central, em Salvador.

“Ele era um aluno muito esforçado, muito inteligente, e sempre foi bem-humorado. Era do tipo que fazia amizade fácil aonde chegava. Fomos colegas por muitos anos, mas acabamos seguindo caminhos diferentes. Eu fui fazer engenharia, e depois acabei me tornando professor também. O período da escola terminou, mas a amizade continuou. Ele era uma pessoa incrível”, contou Antônio. Antônio Teixeira estudou com Jorge Portugal no Colégio Central, em Salvador (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Foi por isso que nesta terça-feira, mesmo com toda a chuva que castigava a capital e a Região Metropolitana, desde a madrugada, o agora professor de matemática não pensou duas vezes e pegou a estrada. Ele saiu de Lauro de Freitas, onde mora, para se despedir do amigo, em Santo Amaro. Infelizmente, Antônio não sabia da mudança de horário e chegou tarde.

Apoiado em uma muleta que está usando por conta de um acidente que sofreu recentemente, ele foi informado que o enterro já havia ocorrido. Lamentou, mas disse que valeu a pena a viagem. “Foi uma forma de homenagear ele. A morte de Jorge Portugal foi uma grande perda para a cultura. É uma pena que as gerações mais jovens não poderão conhecê-lo”, disse. Portugal foi secretário da Cultura de janeiro de 2015 até maio de 2017 (Foto: Tacila Mendes/ Secult) Quem conhecia Portugal conta que um dos locais preferidos dele era a praça, onde se reunia com alguns velhos amigos para prosear. Nesta terça, o local estava mais silencioso. Desde cedo, o dia cinza e a chuva persistentes davam os sinais de tristeza. Durante o sepultamento uma chuva fininha, uma espécie de garoa, parecia confirmar a melancolia, como no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, que o professor conhecia tão bem.

O coveiro Joildo Freitas, 49, teve a triste missão de sepultar o velho conhecido e não poupou elogios ao mestre. “Sempre que ele chegava aqui cumprimentava todo mundo, sempre muito educado e sorridente. Era uma pessoa muito simples, apesar de ser quem era, isso ele nunca perdeu. Todo mundo aqui gostava dele. O enterro teve bastante gente e não foi mais cheio por causa da chuva e da covid. Estamos muito tristes”, disse. Joildo Freitas conhecia Portugal desde quando o professor morava em Santo Amaro (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Jorge Portuga tinha 63 anos e morreu por falência cardíaca aguda. Ele estava internado no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), em Salvador. Segundo a assessoria da unidade, o professor foi levado ao local no início da tarde desta segunda-feira (3), pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), e no trajeto sofreu quatro paradas cardíacas. Ele deu entrada no hospital em estado crítico.

Portugal estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI) cardiovascular da instituição, em coma induzido. A morte foi confirmada às 20h15. Ele completaria 64 anos nesta quarta-feira (5). Autoridades públicas, como o governador Rui Costa e o prefeito ACM Neto, e artistas lamentaram a perda. 

Além de ter sido professor de muita gente na Bahia, Jorge Portugal foi secretário estadual da Cultura, era compositor, poeta e apresentador. Natural de Santo Amaro, no Recôncavo, ele era um compositor e letrista aclamado, com parcerias de sucesso com Roberto Mendes, em ‘Só Se Vê Na Bahia’, e com Raimundo Sodré, em ‘A Massa’.

Assumiu a Secretaria da Cultura da Bahia em janeiro de 2015 e deixou a pasta em 2017, alegando questões pessoais e profissionais. Na TV, Portugal foi o idealizador e apresentador do programa “Aprovado”, exibido na TV Bahia.  Corpo foi sepultado sob aplausos (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Ao contrário do protagonista de Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance de Lima Barreto, que só se deu conta das oportunidades perdidas quando estava no momento da morte, Jorge Portugal soube aproveitar a vida e teve um final feliz, afirmam os amigos. Ele deixou, além da esposa e de três filhos, milhares de fãs e muitos amigos. Flores brancas e aplausos marcaram a despedida do mestre.