Unesco premia parque naturista de Massarandupió

Com reconhecimento, o espaço - que abriga uma Ecovila e o Portal Tupinambá - quer incrementar ações sustentáveis e de bem estar para o público em geral

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 5 de outubro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Ter a oportunidade de fugir da agitação do dia a dia na quietude de uma reserva de Mata Atlântica, próxima de Salvador, com direito a banho nu em nascentes, contato com rituais indígenas, hospedagem em construções sustentáveis de pau a pique, convivência com fauna e flora nativas. Isso é o que proporciona o EcoParque da Mata, que descobriu que investir em sustentabilidade é um negócio viável e que começa a colher frutos do trabalho que inclui divulgação da filosofia naturista, proteção à Mata Atlântica e preservação da cultura de povos quilomobola e indígenas.

O espaço,  localizado em Massarandupió (localidade do município baiano de Entre Rios, a 93 km de Salvador, no Km 88 da Linha Verde), acaba de receber da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o título de Posto Avançado de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, reconhecimento que deve impulsionar ainda mais a procura pelas belezas e atividades oferecidas aos visitantes. Vale destacar que já não há mais vagas disponíveis para dias de final de semana até o final de 2018. 

Para o idealizador do projeto – que ainda contempla uma ecovila e o Portal Tupinambá – e gestor do Posto Avançado do Ecoparque da Mata, Waldo Andrade, o título é um reconhecimento ao modelo de integração com o meio ambiente focado em atividades sustentáveis e destinadas à proteção do bioma da Mata Atlântica. O reconhecimento da agência da ONU vai facilitar a incrementação de propostas como o banco de sementes e o espaço de acolhimento para animais silvestres.

"Não temos fins comerciais, então recebemos grupos ou pessoas com finalidades diversas, de grupos escolares ou de centros de pesquisa até aqueles que desejam se reconectar com natureza”, diz, salientando que os valores de contribuição por uso e permanência variam e vão desde R$20,00 para um day use até R$ 55,00 para quem desejar quarto de casal privativo. 

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Fonte de saúde Waldo ressalta uma sugestão da Organização Mundial da Saúde(OMS) que, há quatro anos, reconheceu que o distanciamento da natureza debilita o bem estar das pessoas. “Se a própria OMS ressalta a importância dessa reconexão para manter a saúde física, emocional, psíquica e mental, quem somos nós para discordar”, brinca. Vale salientar que o espaço adota uma postura naturista, embora os visitantes não sejam obrigados a adotarem a cultura de ficar sem roupas. 

Além dos hostel com dois espaços para reuniões, baseados na arquitetura sustentável, o EcoParque conta ainda com espaço para camping, nascentes e rios não poluídos, redário para os que preferem dormir como os antepassados indígenas, duas piscinas naturais, espaço de convivência com fauna e flora nativa. “Podemos receber desde eventos a até mesmo aquelas pessoas que querem participa das atividades que temos com a comunidade indígena local”, completa, ressaltando que o Ecoparque também abre espaço para que tanto os remanescentes de quilombro, vizinhos da reserva - como os descendentes da nação Pankariôs, Cariris-Xocós e Funiôs - vendam suas produções artesanais.

Mas o que de fato tornou o EcoParque um local buscado por pessoas de várias partes do mundo foi o trabalho desenvolvido na área de preservação ambiental da área nativa. Aliado a isso, o grupo vem trabalhando uma parceria com municípios vizinhos para criação de um banco de sementes crioulas. A proposta contempla ainda a abertura de um abrigo para acolher a fauna silvestre resgatada e o uso da agricultura sintrópica (que consiste em associar cultivos agrícolas e florestais, imitando a regeneração natural das florestas) para minimizar os impactos da criação de eucaliptos na área da Linha Verde.

“Por enquanto, tudo está em processo embrionário, mas contamos com o apoio dos municípios que começam a perceber que a sustentabilidade é o caminho possível para uma vida mais equilibrada”, completa. Vale salientar que cada cidade vizinha ao Ecoparque está cooperando com dois representantes: um da prefeitura e outro da sociedade civil organizada. 

*Texto atualizado às 14h42 para corrigir informações sobre o Forró Nu realizado numa área vizinha, mas sem nenhuma ligação com o EcoParque da Mata.