Urubu invade apartamento e bica morador; vítima é piloto de avião

Ferido, ele procurou ajuda médica: ‘deixou uma baba marrom nojenta’. Animal invadiu ao menos três casas no Caminho das Árvores

Se o urubu pode ser considerado um dos principais inimigos do piloto de avião, especialmente durante o pouso ou a decolagem, essa constatação se deu de forma bastante inusitada na manhã desta quarta-feira (16) no bairro do Caminho das Árvores, em Salvador.

Por volta de 6h30, um abutre entrou pela janela da cozinha de um apartamento no 8º andar do Condomínio Residencial Iguatemi, na Rua do Timbó, e surpreendeu um morador, identificado apenas como Matheus.

“O urubu entrou pela janela e foi pra cima dele. Ele então jogou um pano e tentou pegar o bicho pra colocar pra fora do apartamento. Foi aí que ele bicou e torceu, tentando arrancar um naco do braço dele, e depois voou”, contou a jornalista Gabriela de Paula, citando o relato feito por Matheus à mãe dela, que mora no mesmo prédio.“Ele (morador) contou que lavou o local com água e sabão porque, segundo ele, deixou uma baba marrom nojenta. E veio avisar à minha mãe pra fechar a janela”, relatou Gabriela.A vítima do ataque resolveu procurar um médico. “Ele já tomou a antitetânica. A gente estava esperando ele voltar para casa”, afirmou a jornalista, na noite desta quarta. Durante o dia ela acompanhou boa parte da jornada para tentar capturar o urubu doido.

Após atacar o piloto, a ave (não se sabe se macho ou fêmea) ainda entrou, mais uma vez sem ser convidada, em outros dois apartamentos. Os moradores, então, tomaram uma providência: acionaram a Guarda Municipal, para tentar fazer o resgate do pássaro em segurança, enquanto ele continuava rondando o local.

Endereçado Antes de falar sobre a chegada dos guardas, cabe destacar mais dois fatos curiosos. Primeiro: logo abaixo do apartamento onde aconteceu o ataque ao piloto, conta Gabriela, mora um ornitólogo - biólogo especializado em aves! Ele não chegou a ter o apartamento invadido. Segundo: algumas das fotos que ilustram essa matéria são de autoria do seu Argemiro Garcia, pai da jornalista, geólogo e fotógrafo amador de - advinha - aves! Clique aqui pra ver o site com algumas fotos de pássaros tiradas por ele. "Esse urubu tava endereçado", diverte-se Gabriela de Paula.

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Bom, aí chegaram os prepostos da GM. Um dos agentes que atendeu à ocorrência disse, no local, que podia se tratar de uma fêmea buscando local para instalar um ninho para os filhotes. Após a chegada dos guardas, a ave entrou em uma mata vizinha ao edifício e desapareceu. A assessoria da Guarda Municipal não foi localizada para comentar o incidente.

Transmite doença? De acordo com a médica veterinária e coordenadora do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) da Bahia, Fernanda de Azevedo Libório, não apenas os urubus como qualquer outro animal silvestre pode transmitir doenças aos seres humanos. "Existem as zoonoses, que são doenças transmitidas dos animais para seres humanos e vice-versa", disse, em entrevista ao CORREIO.

Ainda segundo a veterinária, a relação entre seres humanos e animais silvestres está se tornando conturbada nos espaços urbanos devido a ação humana. "Estamos invadindo o ambiente silvestre, está havendo uma diminuição do habitat e os animais ou vão se tornar sinantrópicos, se adaptando ao ambiente urbano, ou vão se afastar. Como eles não encontram abrigo em outros locais, acabam tendo que dividir espaço com os humanos", comenta.

Essa relação, segundo a especialista, é o que explica o fato de animais silvestres se alimentarem de ração de bichos domésticos e até mesmo oferendas. "O sariguê, por exemplo, aprendeu que ração de gato é uma coisa gostosa. Outra coisa que a gente vê são urubus, pombos e até mesmo gaviões comendo as carcaças de animais colocados nas oferendas", ilustra.

Além da busca por alimento, o que motiva os animais silvestres a buscarem as residências humanas é a construção de ninhos, sobretudo as aves. "É comum gaviões e corujas construírem ninhos em caixas de ar-condicionado ou entre o telhado e o último andar tem um vão. Explicamos aos moradores que é crime retirar o ninho de lá e recomendamos que, após as aves voarem, eles fechem o espaço para impedir novas entradas", conclui a especialista.

*Colaborou Saulo Miguez