Uso de Resíduos: destaque na cadeia produtiva da mineração

Fórum debate aproveitamento para novos negócios

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  • Murilo Gitel

Publicado em 27 de junho de 2022 às 06:00

. Crédito: Imas Pereira

Debater iniciativas de sustentabilidade alinhadas à inovação é de fundamental importância nos dias de hoje, sobretudo no setor mineral. Com este intuito, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) realizou, no dia 9 de junho, o II Fórum de Inovação e Sustentabilidade na Mineração, no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), em Salvador.

Com boa presença de público, o fórum reuniu autoridades, executivos do setor minerário e pesquisadores, que discutiram temas como o reaproveitamento dos resíduos de minérios, práticas de ESG (ambientais, sociais e de governança) e desafios logísticos, entre outros assuntos relevantes para o segmento e a sociedade.

O presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm, destacou que o Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Planejamento (Seplan), irá formular um estudo sobre a cadeia produtiva da mineração, de modo que, após a análise dos resíduos, ocorra a reutilização na agricultura, construção civil e na indústria química. 

“Esta é uma grande vitória e fará com que o ciclo não termine após a extração do minério, gerando uma cadeia produtiva da mineração. A intenção deste evento, além de falarmos da mineração em si, é discutirmos sobre o que fazer com os nossos resíduos. A agricultura, que vive hoje uma crise por conta dos fertilizantes, pode se aproveitar muito disso”, ressaltou Tramm.

Reaproveitamento de resíduos Doutor em Geologia e pesquisador da Embrapa, Eder Martins detalhou o potencial de aproveitamento de resíduos de mineração na agricultura. “O Brasil é um país agrícola e dependente da importação de fontes NPK (adubo mineral composto por nitrogênio, fósforo e potássio) para realizar esta atividade. Fontes regionais podem aumentar a eficiência de uso de nutrientes e substituir parcialmente estas commodities fertilizantes”, apontou o pesquisador.

De acordo com Martins, a remineralização (renovação dos solos por meio de rochas pulverizadas) é um processo em que se "imita a natureza” sem a necessidade de se criar nada, o que pode gerar uma série de coprodutos, regionalmente, para a agricultura. “Fontes silicatadas potássicas podem ser aplicadas no café do tipo arábica. Também há um potencial enorme de sequestro de carbono utilizando essa estratégia, algo importante para a mitigação dos gases de efeito estufa da mineração”, exemplificou o especialista.

Desafios do setor O novo presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Raul Jungmann, observou que o segmento ocupa apenas 0,6% de área correspondente ao território nacional e preserva mais que o triplo deste total. “Há uma percepção social de que somos um setor predador, mas vamos provar que isso não é verdade. Estamos desenvolvendo um livro verde do setor, que deverá estar pronto em outubro”, anunciou.

Na visão de Jungmann, a Bahia e o Brasil como um todo têm uma excelente oportunidade de desenvolvimento sustentável, mas alguns desafios devem ser superados. “Precisamos conhecer melhor o potencial de minérios que temos no país. Precisamos também de minérios estratégicos e, além disso, temos que buscar possibilidades de financiamento para as pequenas e médias empresas mineradoras”, recomendou.

Articulação logística Para o coordenador de projetos do SENAI CIMATEC, Walter Pinheiro, uma articulação entre os transportes e a infraestrutura é crucial. “Hoje temos soja que sai de Barreiras (BA) e vai para Paranaguá (PR). Temos carga, mas não temos trens. É um gargalo histórico. Como é que a gente pode trabalhar as rotas de mineração do estado de forma integrada?”, questionou. 

Ao comentar a necessidade de integrar os diferentes modais logísticos, Pinheiro também lembrou que a única rodovia leste-oeste que corta a Bahia é a BR-242, que só vai até Paraguassu, e lamentou as limitações da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA/VLI). “Ela é a rodovia do passado. Quando eu era criança, ia com o meu pai de Salvador até Montes Claros (MG). Hoje, centenas de quilômetros de trilhos foram desativados”, acrescentou.

Na avaliação de Pinheiro, os insumos minerais, sobretudo aqueles situados no Semiárido, integram o que ele chamou de “um dos novos vales econômicos da Bahia”. Os demais setores econômicos observados  incluem o agronegócio; papel e celulose; petroquímica, óleo e gás; energias eólica, solar e o emergente hidrogênio verde, considerado pelos especialistas como o combustível do futuro. 

ESG: fator local “Para ser global é necessário, anteriormente, ser local”. Este foi um dos pontos defendidos pelo diretor do Worldwatch Institute (WWI) no Brasil, Eduardo Athayde. Ele mencionou que a visão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e de ESG é municipalista, uma vez que, em apenas três décadas, 2,5 bilhões de pessoas e US$ 62 trilhões foram adicionados aos municípios em todo o mundo.

“O WWI está produzindo um relatório junto ao Banco Mundial sobre a nova governança da mineração municipal sustentável. Seja em Toronto, Nova York ou Londres, ninguém coloca mais nenhum centavo em organizações que não estejam alinhadas ao ESG. Os capitais internacionais estão com olhos de águia sobre o Brasil”, alertou Athayde.

Ao final do II Fórum de Inovação e Sustentabilidade na Mineração, um vídeo institucional sobre o trabalho da CBPM em prol da pesquisa mineral na Bahia foi exibido ao público. Entre os presentes, destaque para o vice-presidente de Operações Brasil & Argentina da JMC Yamana Gold, Sandro Magalhães, o diretor de Mineração da Ferbasa, Ronaldo Sobrinho, e o CEO da Ero Brasil, Eduardo de Come.  O evento foi transmitido ao vivo pelo canal da CBPM no Youtube e pode ser acessado na íntegra, neste endereço: https://bit.ly/3trhVUG.

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