USP quer 50% de cota para alunos da rede pública

É a primeira vez que a universidade prevê uma reserva de vagas na graduação; a ideia é implementar até 2021

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  • Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2017 às 22:30

- Atualizado há um ano

A Universidade de São Paulo (USP) pretende implementar, até 2021, cotas de 50% para alunos da rede pública em todos os cursos e turnos da instituição. É a primeira vez que a universidade prevê uma reserva de vagas geral nas graduações.

A mudança consta em minuta de resolução enviada aos integrantes do Conselho Universitário (CO), instância máxima da USP. O conselho votará a proposta na próxima terça-feira. A proposta não indica reserva de cadeiras para pretos, pardos e indígenas (PPI).

A USP havia se comprometido a ter metade dos alunos da rede pública entre seus calouros até o ano que vem, mas ainda está longe da meta: foram 36,9% de ingressantes de escolas públicas no último processo seletivo. 

Com a nova proposta, o reitor Marco Antonio Zago quer estender o prazo até 2021. A USP é a última a aderir às cotas entre as estaduais - Unicamp aprovou reserva de vagas em maio deste ano e a Unesp, em 2013. Já o ensino superior federal usa cotas desde 2012. 

Uma das primeiras tentativas da USP de aumentar a inclusão foi há dez anos, com o início do bônus no vestibular para alunos da rede pública. A bonificação passou por ajustes ao longo dos anos, como conceder mais pontos para candidatos autodeclarados PPI. 

Desde 2016, a universidade adotou outra estratégia de inclusão. A reitoria passou a usar a Fuvest, vestibular tradicional da instituição, e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)como métodos de ingresso na USP. A nota do Enem servia para o aluno tentar vaga pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) - plataforma digital que reúne vagas no ensino superior público. Coube a cada faculdade decidir se reservaria, no Sisu, vagas para alunos da rede pública e para pretos, pardos e indígenas. 

A ideia da nova proposta é manter as duas formas de ingresso - sendo, no máximo, 30% no Sisu. Na avaliação da reitoria, isso ajuda a atrair talentos de outras parte do País, que não teriam condições de vir até São Paulo para fazer a Fuvest. 

A adesão às cotas será de modo escalonado. De acordo com a minuta da resolução, no próximo processo seletivo serão reservadas 37% das vagas para alunos da rede pública. No ano seguinte, 40%. Em 2020, serão 45% e, finalmente, metade das cadeiras em 2021. 

Para conseguir esse patamar de cota, a reserva de vagas deverá ser feita tanto na Fuvest quanto no Sisu. O sistema, de acordo com a proposta, terá a duração de dez anos e será avaliado por comissão específica. 

Tema historicamente polêmico na universidade, a reserva de vagas vem ganhando espaço dentro da instituição nos últimos anos. Faculdades tradicionais, como a Direito, passaram a usar cotas desde 2016, quando a USP entrou no Sisu. Anteontem, a Faculdade de Medicina da capital também aprovou cotas no Sisu para alunos de escola pública e PPI. 

A proposta da reitoria também não prevê critérios de renda para fazer a reserva de vagas entre os candidatos. Isso pode, segundo especialistas, colaborar para que só a elite da rede pública - de escolas técnicas ou que fizeram cursinhos preparatório - ingresse nas carreiras mais concorridas.

Posicionamento. Procurada pelo Estado, a assessoria de imprensa da reitoria disse que vai se manifestar sobre a proposta só após reunião do CO. A proposta de mudança já teve parecer favorável de comissões e conselhos internos. A adaptação do vestibular era uma das metas da gestão do reitor Marco Antonio Zago, que está em seu último ano à frente da USP.