Vacinas em Salvador podem acabar hoje; novo lote chega até sexta 

Restam menos de duas mil ampolas no estoque da capital, diz secretário

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  • Marcela Vilar

Publicado em 9 de março de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

A professora aposentada Maria de Guadalupe, de 60 anos, conta os dias para receber a vacina contra o novo coronavírus. Residente de Salvador, ela faz parte da segunda etapa da primeira fase da vacinação na Bahia, em que idosos entre 60 e 74 anos serão vacinados. Só que a capital baiana ainda está imunizando a faixa etária de 78 anos, ou seja, ainda vai demorar para chegar sua vez. Ainda mais com a possível interrupção, pela terceira vez, da vacinação na cidade: restam menos de duas mil doses da vacina em estoque, segundo o secretário de saúde de Salvador, Leo Prates.  

Com isso, a prefeitura de Salvador aguarda o recebimento de novo lote do Ministério da Saúde (MS). A expectativa, segundo o órgão, é de que cheguem novas doses da Coronavac até sexta-feira (12) - 1,7 milhão de vacinas serão distribuídas entre os estados. O MS não informou quantas doses e a data exata que chegariam à Bahia. Até agora, mais de 164 mil pessoas foram vacinadas na capital baiana, 70% mulheres e 30% homens.  

“Estou no grupo prioritário, mas numa faixa de idade que está um pouco distante. Minha expectativa é grande, não só para mim, como para toda a população brasileira. A gente não vê, em um horizonte próximo, uma perspectiva de vacinação em massa e estou bastante ansiosa pela chegada de minha vez. Estou bastante triste e angustiada com essa situação, pela crise humanitária e sanitária que estamos vivendo, decorrente de uma péssima gestão do governo federal”, desabafa Maria. Ela acompanha quase que diariamente, pelo site da prefeitura, a faixa etária que está recebendo as doses.  

Desde março do ano passado, quando a pandemia começou na Bahia, a aposentada só sai de casa para assuntos que não podem ser evitados. Mercado e medicamentos ela só compra agora por delivery, para evitar sair e se expor ao vírus. “Eventualmente, preciso de alguma coisa que não tem em casa e não tem por entrega, aí vou no mercado, mas em um horário que esteja vazio. Minha ida à rua é bastante restrita, sempre de máscara e em horários de baixo movimento. Quando vou em locais de maior risco, como hospital, uso a N-95”, conta Guadalupe. Em reportagem recente, o CORREIO explicou porque as máscaras N-95 protegem mais que as outras.  

O professor Washington Rocha, da Universidade Federal de Feira de Santana (UEFS), também aguarda ansioso para o dia em que tomará a injeção. “Estou fazendo um cronograma, acompanhando a divulgação do planejamento do município e me frustrando porque está adiando. A gente já fazia uma expectativa de que em março a vacinação já estaria concluída, pelo menos na minha faixa etária. É preocupante que isso ainda não está resolvido, sem ter uma previsão e tendo que modificar constantemente pela disponibilidade de vacinas”, relata Rocha.  

O professor universitário fará 61 anos neste mês e também continua com uma rígida quarentena, trabalhando de casa. “Só saio para coisas que realmente não dá para fazer de casa e sempre com todos os cuidados, porque não dá para a gente descuidar. A ameaça é grande e a gente não sabe o efeito que dá em cada pessoa, em cada caso de contaminação” pondera Washington. Com o imunizante, ele afirma que ficaria mais tranquilo, mas não deixaria de seguir os protocolos sanitários: “A vacina é uma segurança e deixa você mais tranquilo, mas não é garantia de não pegar a doença, por isso, é preciso manter as medidas de cautela”.  

Já a estudante Maria Júlia Passos, de 22 anos, é quem olha as datas para a avó, Rita. A ansiedade é grande, porque Rita tem 75 anos e se vacinará nos próximos dias. “A gente está muito ansioso para que ela se vacine, porque fica todo mundo preocupado, já que ela é grupo de risco, diabética, hipertensa e obesa, então todo cuidado é pouco”, narra a neta. Maria Júlia mora com avó e chegou a ter sintomas, nos últimos dias, da covid-19. O diagnóstico não se confirmou, mas ela teve perda do olfato. Fez a quarentena no quarto e tem mantido o isolamento. A família só sai para o essencial: médicos e mercado.  

A consulta nas redes sociais e site da prefeitura de Salvador é quase que diária. “A gente está sempre consultado as redes sociais da prefeitura, tanto pelo site quanto pelo Instagram, porque é uma fonte confiável. Muitas vezes as pessoas passam notícias falsas pelo WhatsApp, então a rede oficial é uma fonte confiável e mantem os dados atualizados. Todo dia a gente vai nas redes procurar saber quando vai ser a vacina, quais os postos de vacinação, a questão e de fila e qual vacina vai ser ofertada”, detalha Passos.  

Vacinação na Bahia está em 82,1%  A vacinação na Bahia segue à medida que novos lotes são recebidos pelo Ministério. Até agora, foram recebidas 983.994 doses. Dessas, foram aplicadas 82,1% da primeira dose e 49,7% da segunda. Quarenta e três cidades já usaram mais de 100% do lote da primeira dose. Outras 8 cidades usaram 100% das doses e 54 já usaram mais que 90%, ou seja, o estoque nessas últimas durará por pouco tempo. Em relação à aplicação da segunda dose da vacina, 19 municípios baianos usaram percentual igual ou maior que 100% do lote recebido e outros 16 já usaram mais de 90% do estoque. Segundo a Sesab, Salvador recebeu 239.950 doses de vacinas, sendo 161.810 primeiras doses e 78.140 segundas doses - mas já foram vacinadas mais de 164 mil pessoas.  

A secretaria explica que esse percentual acima de 100% é pelas sobras no conteúdo da ampola. No boletim epidemiológico publicado ontem (7), a secretaria informou que “tem se observado volume excedente de doses nos frascos das vacinas contra a covid-19, o que possibilita a utilização de 11 e até 12 doses em apenas um frasco, assim como acontece com outras vacinas multidoses”. A pasta ainda diz que o Ministério da Saúde emitiu uma nota que autoriza a utilização do volume excedente, desde que seja possível aspirar uma dose completa de 0,5ml de um único frasco. Desta forma, poderá ser observado que alguns municípios possuem taxa de vacinação superior a 100%.  

Foi o que aconteceu em Correntina, cidade do Extremo-Oeste Baiano, em Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), e na própria capital. Alguns frascos da vacina de Oxford vieram com mais de 10 doses, por isso, Mata de São João registra percentual de aplicação de 101,4% - 1.320 doses recebidas e 1.338 doses aplicadas. O mesmo em Correntina, só que lá foram recebidas 490 doses e 522 foram aplicadas (106,5%).  

Em Feira de Santana, município a cerca de 100 quilômetros de Salvador, o aposentado Arthur Menezes, 77, também não aguenta de ansiedade para receber a vacina. Ele já foi tirar satisfação no posto de saúde do bairro três vezes para saber quando poderá receber o imunizante. “Já tem um ano que eu estou em casa sem poder ir na rua, já fui lá no posto três vezes, mas perdi meu tempo, porque ainda não tinha chegado vacina. Agora chegou em que está com 79 anos, então estou esperando me chamarem”, conta Menezes.  

A carteira do SUS, comprovante de residência já estão separados, “tudo prontinho”, para o seu dia. “Depois da vacina, fico mais calmo, se Deus quiser, mas quero que venha logo para eu melhorar essa minha ansiedade”, conta Arthur. Além de idoso, ele é grupo de risco por ter feito transplanta do coração há 8 anos. Os filhos não o deixam sair de casa. No máximo, fazer um passeio de carro, mas sem soltar do banco: “O negócio é sério e estou pedindo que termine logo com isso”. Sua esposa, Anita, também aguarda a vacinação chegar na faixa etária dela. Mas, vai demorar um pouco mais, pois ela tem 71 anos. 

Novo lote da vacina chega até sexta-feira   O Ministério da Saúde informou ao CORREIO que novas remessas de vacinas do Instituto Butantan serão entregues semanalmente em março. O cronograma recebido pela pasta prevê um total de 23,3 milhões de doses do imunizante (22,7 milhões previstas + 600 mil doses residuais de fevereiro) distribuídas em nove entregas, escalonadas entre os dias 3 e 31 de março. O lote de 1,7 milhão de doses chegará até sexta-feira (12) e deverá ser maior que a última remessa enviada à Bahia, de 165.500 doses.  

O Ministério ainda disse que, por conta das entregas semanais, a distribuição das vacinas do laboratório também será feita pelo Ministério da Saúde a cada semana ao longo de março, de acordo com o quantitativo entregue à pasta. Além das 23,3 milhões de doses do Butantan, o cronograma ministerial prevê a entrega de mais 6,7 milhões de doses da AstraZeneca/Oxford (Fiocruz) e consórcio Covax Facility. No entanto, o órgão comunicou que “as previsões de entrega estão sujeitas a alterações, de acordo com a disponibilidade dos laboratórios e a real quantidade de doses entregues, que pode variar conforme o ritmo de produção dos insumos”. 

Fiocruz começa produção em larga escala  A vacina de Oxford/AstraZeneca passou nos testes de estabilidade e consistência e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) começará a produção em larga escala. Com isso, devem ser entregues 3,8 milhões de doses do imunizante ao Ministério da Saúde até o fim de março. A previsão inicial era de 15 milhões, mas um problema no equipamento que lacra os frascos diminuiu inicialmente o volume. O equipamento já foi consertado e, com os testes de estabilidade do produto aprovados, pode ser iniciada a fabricação em larga escala. 

Pelo novo calendário, um total de 30 milhões de doses deve ser disponibilizado até abril, e 100 milhões de doses até meados do ano (veja detalhes abaixo). Os testes de consistência precisam verificar, por exemplo, se nenhum frasco sai da máquina contaminado, se o equipamento está colocando em cada um deles o volume correto do imunizante, e se o ambiente em que são fabricados está na temperatura, umidade e pressão corretos. A única coisa que falta agora é o teste da estufa: uma amostra das vacinas está sendo mantida a 37º para saber se são estéreis, ou seja, se não crescem nelas microorganismos que possa gerar contaminação. 

População vacinada na Bahia (1ª dose)  Trabalhadores de saúde: 305.694 Idosos acima de 90 anos - 50.852 Idosos entre 85 e 89 anos - 75.744  Idosos entre 80 e 84 anos - 72.480 Idosos de 75 a 79 anos - 6.684  Idosos em instituição de longa permanência - 14.012 Indígenas aldeados - 17.503 Pessoas com deficiência - 576

População vacinada na Bahia (2ª dose)  Trabalhadores de saúde: 123.045 Idosos em instituição de longa permanência - 4.913 Indígenas aldeados - 10.973 Pessoas com deficiência - 300 Idosos acima de 90 anos - 25.987 Idosos entre 80 e 84 anos - 4.939

Cronograma atualizado pelo Ministério da Saúde 

ACORDOS FECHADOS: 

Fundação Oswaldo Cruz (vacina AstraZeneca/Oxford)  Janeiro: 2 milhões importadas da Índia (entregues)  Fevereiro: 2 milhões importadas da Índia (entregues)  Março: 3,8 milhões (produção nacional com IFA importado)  Abril: 2 milhões (importadas da Índia) + 30 milhões (produção nacional com IFA importado)  Maio: 2 milhões (importadas da Índia) + 25 milhões (produção nacional com IFA importado)  Junho: 2 milhões (importadas da Índia) + 25 milhões (produção nacional com IFA importado)  Julho: 2 milhões (importadas da Índia) + 16,6 milhões (produção nacional com IFA importado)  Com as entregas de julho, totalizam 112 milhões de doses disponibilizadas ao Ministério da Saúde.  A partir do segundo semestre, com a incorporação da tecnologia da produção da matéria-prima (IFA), a Fiocruz deverá entregar mais 110 milhões de doses, com produção 100% nacional. 

Fundação Butantan (vacina Coronavac/Sinovac)  Janeiro: 8,7 milhões, sendo 6 milhões importados da China e 2,7 milhões de produção nacional com IFA importado (entregues)  Fevereiro: 4,2 milhões de produção nacional com IFA importado (entregues)  Março: 23,3 milhões (22,7 milhões previstos para março + 600 mil residual de fevereiro)  Abril: 15,7 milhões (produção nacional com IFA importado)  Maio: 6 milhões (produção nacional com IFA importado)  Junho: 6 milhões (produção nacional com IFA importado)  Julho: 13,5 milhões (produção nacional com IFA importado)  Até setembro, devem ser entregues os demais lotes, totalizando os 100 milhões contratados pelo Ministério da Saúde. 

Covax Facility  Março: 2,9 milhões (vacina importada da AstraZeneca/Oxford – Coreia do Sul)  Até maio: 6,1 milhões (vacina importada da AstraZeneca/Oxford – Coreia do Sul)  Até dezembro, devem ser entregues os demais lotes, totalizando os 42,5 milhões contratados pelo Ministério da Saúde.  Precisa Medicamentos (vacina Covaxin/Barat Biotech/IND)  Total: 20 milhões de doses (importadas da Índia) no primeiro semestre de 2021 

EM NEGOCIAÇÃO: 

União Química (vacina Sputnik V/Instituto Gamaleya/RUS)  Abril: 400 mil (importadas da Rússia)  Maio: 2 milhões (importadas da Rússia)  Junho: 7,6 milhões (importadas da Rússia)  Total: 10 milhões de doses  Com a incorporação da tecnologia da produção do IFA, com a aprovação da Anvisa, a União Química deverá produzir, no Brasil, 8 milhões de doses por mês. 

Pfizer/BioNTech (EUA)  A partir do segundo trimestre de 2021: 100 milhões de doses 

Jonhson & Jonhson (vacina Janssen/BEL)  Entre julho e setembro: 16,9 milhões de doses  Entre outubro e dezembro: 21,1 milhões de doses  Total: 38 milhões de doses 

Moderna (EUA)  Entre julho e setembro: 3 milhões de doses  Entre outubro e dezembro: 10 milhões de doses  Total: 13 milhões de doses 

Cronograma de entregas semanais previsto pelo Butantan:  03/03 – 900 mil  08/03 – 1,7 milhão  10/03 – 1,2 milhão  15/03 – 3,3 milhões  17/03 – 2 milhões  22/03 – 3 milhões  24/03 – 2,2 milhões  29/03 – 6 milhões  31/03 – 2,4 milhões 

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro