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Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2021 às 14:00
- Atualizado há 2 anos
Conteúdo verificado: Postagens no Facebook, Instagram e Twitter apresentam vídeo de parte de uma fala de Bolsonaro sendo interrompida por gritos seguidos de vaia. Os autores dos posts afirmam que o presidente foi vaiado em Belo Horizonte. Não é verdade que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha sido vaiado em público durante um discurso em Belo Horizonte nesta quinta-feira (30). O vídeo cortado e compartilhado no Twitter, no Facebook e no Instagram induz os internautas a interpretarem de forma errada o que aconteceu na ocasião.>
As vaias ouvidas durante a transmissão ao vivo do evento foram feitas pelos apoiadores do presidente contra uma manifestante que o chamou de “genocida”. A agenda fazia parte do calendário de comemoração dos mil dias de governo, completos nesta semana.>
O argumento utilizado pelas pessoas que compartilharam as imagens nas redes sociais não encontra respaldo na realidade. Isso porque o vídeo foi recortado e tirado de contexto, dando margem para uma interpretação errada do que ocorreu.>
A reportagem entrou em contato com os perfis que divulgaram o vídeo no Instagram, Facebook e Twitter. Apenas uma respondeu às mensagens.>
O Comprova considera enganosos conteúdos retirados do contexto original e usados em outro de modo que seu significado sofra alterações.>
Como verificamos? Inicialmente, a reportagem foi em busca da transmissão completa do evento do qual Bolsonaro participou em Belo Horizonte, no dia 30 de setembro.>
O Comprova assistiu à transmissão do evento feita ao vivo pela TV Brasil e pelo YouTube e consultou notícias sobre o ocorrido. Também ouvimos uma jornalista da BandNews FM que estava no local para a cobertura da agenda oficial.>
A reportagem consultou a agenda oficial da presidência na data e assistiu à live semanal de Bolsonaro, na qual ele falou sobre o assunto.>
Por fim, entrou em contato com os autores das postagens.>
Verificação Manifestante foi vaiada, e não Bolsonaro A vaia registrada em vídeo durante pronunciamento de Jair Bolsonaro, no dia 30, em Belo Horizonte, foi voltada a uma manifestante e não ao presidente, como pode ser analisado na transmissão completa do evento e conforme foi noticiado pela imprensa.>
A partir de 47 minutos e 44 segundos de vídeo, é possível identificar gritos femininos e, em seguida, o coro de vaia. Neste momento, uma manifestante contrária ao presidente havia furado o bloqueio de seguranças que mantinha os opositores afastados do local onde ocorria a cerimônia, na Cidade Administrativa, sede do governo de Minas Gerais.>
A mulher se aproximou do palco e xingou o presidente. Apoiadores do governo que estavam próximos e até algumas autoridades no palco começaram a vaiar a manifestante. Em seguida, ela foi retirada do local pelos seguranças.>
Conforme reportagem do Estado de Minas, em um primeiro momento, os contrários chegaram a ficar cara a cara com apoiadores, porém logo se deslocaram para um espaço reservado, mas de frente à área dos bolsonaristas, que foram liberados para se aproximarem do palco a pedido do presidente.>
Antes do evento, informou o veículo, houve troca de xingamentos e um princípio de confronto rapidamente controlado pela polícia e seguranças da Presidência da República. Os manifestantes contrários estavam em menor número, mas expressivos.>
A jornalista da BandNews FM Bruna Valle, que estava no local, foi ouvida pelo Comprova e contou que uma confusão foi registrada entre os apoiadores e opositores antes do início do evento, que foi contida por seguranças.>
“Quando o presidente foi começar a falar, ele pediu que os apoiadores, que estavam atrás de uma grade, atrás das cadeiras dos convidados, chegassem mais perto. Foi liberado para que se aproximassem, e eles ficaram na frente da área reservada para a imprensa”, afirmou.>
Sobre o momento em que foram registradas as vaias, Valle contou que uma das opositoras conseguiu furar o bloqueio e entrar na área reservada, para xingar o presidente. “Nesse momento em que ela xingou Bolsonaro, os apoiadores, que eram muitos e estavam próximos do palco, vaiaram-na e tentaram avançar para cima dela, mas foram contidos pela segurança. As vaias foram exclusivamente para ela”, completou.>
Antes do discurso de Bolsonaro, outro trecho da transmissão também mostra que havia muito mais apoiadores do presidente e que eles estavam mais próximos das câmeras, o que impediria que qualquer manifestação do grupo de opositores fosse registrada ao vivo. Aos 33 minutos da transmissão, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), começa a discursar de máscara, mas o coro ouvido ao fundo grita para que ele a retire e aplaude quando ele o faz.>
Bolsonaro criticou manifestante e o PT Após as vaias, o presidente afirmou que não iria “ofender essa senhora que proferiu essas palavras que nem deu pra entender”. Em seguida, afirmou haver um velho ditado que diz: “Quem até os 30 (anos) não foi de esquerda, não tem coração. Quem depois dos 30 (anos) continua na esquerda, não tem cérebro”. A fala foi aplaudida pelo público e por autoridades que estavam no palco, seguida por gritos de “mito”.>
Em seguida, Bolsonaro criticou o PT: “Não vim aqui falar de política, mas se, porventura, vir candidato ano que vem, terei o maior prazer em debater com o candidato dessa senhora. Vamos comparar 14 anos do PT com quatro do meu governo”.>
À noite, durante sua live semanal, voltou ao assunto aos 58 minutos de transmissão e fez ataques machistas à manifestante. “Estava lá falando do metrô, de repente, entra uma mulher, não sei se casada ou solteira, aparentando 35 anos, 40 anos, fala um montão de (ruídos). Fico imaginando em casa o que o marido passa com ela, se ela for casada, né? Não deu nem para entender, mas estava me ofendendo, o pessoal vaiou, vaiou, vaiou, (ela) saiu fora, a imprensa vai falar que eu levei vaia, mas tudo bem.”>
Em seguida, repetiu o dito por ele na cerimônia, sobre não ofender a manifestante e o ditado sobre a esquerda, além de afirmar que a mulher teria se referido aos ex-presidentes Lula e Dilma, ambos do PT.>
“Eu acho que protesto é válido, se fizer outro não tem problema nenhum. Lógico, a gente evita porque é querer tumultuar, querer ir para a agressão, ir para o ódio, né? O nosso pessoal não faz isso”, finalizou.>
Agenda em Belo Horizonte A agenda oficial do presidente para a manhã do dia 30 de setembro previa a partida dele de Brasília para Belo Horizonte, onde participaria da cerimônia de sanção do Projeto de Lei para Obras do Metrô de BH e do Lançamento de Pedra Fundamental do Centro Nacional de Vacinas MCTI da Universidade Federal de Minas Gerais, além de um almoço com lideranças empresariais mineiras.>
O Projeto de Lei foi aprovado pelo Congresso na última segunda-feira (27), ao passar pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal no mesmo dia. O texto prevê a privatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa que administra o metrô de BH.>
Há a previsão de ser realizado um aporte de R$ 2,8 bilhões mais R$ 400 milhões do governo estadual para pagamento de dívidas, término de uma linha e construção de outra no metrô Em relação ao lançamento da pedra fundamental do primeiro Centro Nacional de Vacinas, a iniciativa é uma parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e da UFMG, e a construção deve começar no ano que vem.>
Por fim, além do almoço com os empresários, ele participou de reunião na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).>
Autores O Comprova entrou em contato com os autores das publicações por mensagens via Instagram e WhatsApp. A princípio, a reportagem questionou a todos se haviam assistido à transmissão completa do evento.>
A autora da publicação no Instagram informou que “foi um evento presencial” e compartilhou o link de uma transmissão do evento feita pelo Poder360. No entanto, não respondeu ao questionamento sobre ter visto o momento da vaia dentro do contexto em que ela ocorreu.>
O autor da publicação no Twitter visualizou a mensagem encaminhada pelo Comprova, mas não respondeu. A reportagem também contatou o autor da postagem do Facebook, por meio de mensagem ao número de WhatsApp disponível em seu perfil – não houve retorno.>
Por que investigamos? Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. As publicações feitas no Facebook, Twitter e Instagram alcançaram, respectivamente, 2.643 mil interações, 353 interações e 898 interações.>
Conteúdos em vídeo, retirados de contexto, são perigosos porque geram desinformação em massa nas redes sociais, induzindo outras pessoas ao erro.>
Ainda que a popularidade do presidente tenha caído nos últimos meses em função das ações e omissões do governo federal diante da pandemia do coronavírus, o vídeo descontextualizado traz impactos para a avaliação dos internautas sobre Bolsonaro, que é possível candidato à reeleição em 2022.>
O Comprova já verificou diversos outros conteúdos relacionados a vídeos envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, como o que afirmava, de maneira falsa, que ele foi ovacionado no aeroporto de Nova York, quando o ocorrido aconteceu em Natal, no Rio Grande do Norte e outro sobre obras do governo baiano que teriam sido realizados para “atrapalhar” Bolsonaro.>
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.>
*Esta checagem foi postada originalmente pelo Projeto Comprova, uma coalizão formada por 33 veículos de mídia, incluindo o CORREIO, a fim de identificar e enfraquecer as sofisticadas técnicas de manipulação e disseminação de conteúdo enganoso que surgem em sites, aplicativos de mensagens e redes sociais. Esta investigação foi conduzida por jornalistas da BandNews FM, UOL e Correio de Carajás, e validada, através do processo de crosscheck, por cinco veículos: piauí, Gaúcha ZH, Folha de S.Paulo, Poder 360 e Estadão.>