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Da Redação
Publicado em 31 de dezembro de 2022 às 08:10
Guerra, pandemia que não acaba, muita chuva, muita seca, extremismo, crise econômica… Tudo continua tão difícil que tem muita gente achando que 2022 foi mais uma extensão de 2020. Enfrentamos o ano, digamos, 2020.2. Contudo, uma palavra parece que não se enfraqueceu, mesmo com tantos obstáculos nestes 365 dias: esperança. Não querendo ser aquela galeguinha da propaganda de banco, mas 2023 pode, de fato, ser melhor. Só depende de que felicidade estamos falando. Analisar os desejos para um ano novo melhor requer distinguir dois pronomes: o ‘eu’ e o ‘nós’. >
Falar sobre esperança, mesmo quando tudo parece contrário, é um assunto complexo, pois abrange dois caminhos que nem sempre se cruzam. Primeiro, é preciso saber qual sua esperança para um ano melhor? Existem, neste caso, duas dimensões: o que abrange o coletivo (o nós), como as melhorias sociais, além dos desejos pessoais (o eu), como aquele emprego dos sonhos. Se formos analisarmos a última pesquisa Datafolha sobre o otimismo do brasileiro para 2023, veremos que a maioria prefere pensar, primeiramente, no desejo pessoal. Porém, há um equilíbrio relativo. Dos 2.026 entrevistados, 60% disseram que 2023 será melhor de modo geral. Já no critério pessoal, 66% acreditam que o próximo ano será mais realizador. “Você traz os elementos de serenidade e esperança. Essa é uma pergunta muito comum nesse período, mas é de resposta delicada, pois ela vai contemplar cada sujeito de uma forma diferente. Parte dessa resposta a gente pode iniciar pensando em duas dimensões fundamentais: a dimensão coletiva e a dimensão individual”, reforça a psicóloga Maria Manuela Barros, especialista em atendimento clínico em psicologia familiar sistêmica, pelo Instituto Humanitas. Daniella Tavares>
“A dimensão coletiva tem a ver com a dignidade social, com ações que visam acolher, respeitar, promover a diversidade. Gerando, assim, um ‘nós’ em coletivo mais harmônico e digno. Já a dimensão do ‘eu’, é importante que a gente esteja atento, se escute, se consulte no que nos alimenta. O que é significativo e valoroso para ‘mim’, porque vivemos numa contemporânea idade em que o jardim do vizinho é mais verde, é mais bonito, né?”, completa Manuela, apontando o cuidado com o padrão de felicidade ilusória das redes sociais como um gatilho para a frustração. “As redes sociais nos mostram, em termos falaciosos, que a sua demanda precisa ser a demanda do outro”, complementa.>
Para Barros, não existe um interruptor que vira a chave na passagem do ano. Justamente por isso, muita gente pode achar que ainda estamos presos a 2020. É preciso entender que a transformação é contínua e todos os obstáculos servem como aprendizagem para a construção de dias melhores, independentemente do calendário novo. É justamente o que acredita a jornalista Dani Oliveira, que teve um turbilhão de acontecimentos difíceis em 2022, mas encontra energia para acreditar num ano novo realizador. No coletivo e no pessoal. >
Dani respira fundo ao falar do ano que se encerra. Ela perdeu um emprego estável, o melhor amigo morreu de morte violenta e seus avós, suas referências, morreram com menos de um mês de diferença. Aos 35 anos, Dani chegou a flertar com a depressão, a mesma que ela teve em 2012, com a morte do pai, mas optou pela sanidade e terapia. Deu certo. O ano novo começou até mais cedo, pois no mês passado ela conseguiu um novo emprego, melhor que o anterior, inclusive. “Foi um ano complicadíssimo pra mim. Eu já tive depressão e cheguei a imaginar que ela voltaria. Contudo, por ter passado pela doença, me fez rever muita coisa, adquirir uma força espiritual e enxergar estes momentos de maneira diferente. Eu era muito apegada a meu amigo, que morreu em março. Eu já tinha perdido o emprego”, lembra Dani, que teve um baque ainda maior: “No dia 24 de julho, minha avó morreu. Dia 30 de agosto, meu avô. Ambos eram minhas referências. Hoje vejo que o amor deles era tão grande, que Deus decidiu levá-los juntos. Acho que tudo é a forma com que se lida com as coisas. Na verdade, nem sei como mantive a cabeça boa e serena, mas estou aqui, cheio de esperanças de um 2023 de muito amor, dinheiro e equilíbrio”. >
Dani acredita que 2023 será mais leve, mas também tem consciência de que não será de felicidade plena. Novos desafios e dificuldades estarão pela frente, mas ela tem a receita: “Nunca perderemos a esperança de um ano bom. Mas precisamos nos preparar para as tempestades de 2023, né? Vamos remar contra a maré ruim e estar preparado para a vida, que é cair, se levantar e seguir em frente. Hoje estou trabalhando em um lugar melhor que o anterior. Um dia tudo dará certo”, completa.>
Afinal, como será 2023? Segundo boa parte das previsões, o ano novo ainda será de muitos, digamos, desafios. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma recessão econômica no mundo. Nos efeitos apocalípticos, a famosa vidente Baba Vanga, a búlgara que previu o 11 de Setembro, deixou um ‘presente’ para 2023: disse que existe uma possibilidade grande de alguma explosão nuclear no mundo. Olha que ela morreu em 1996, aos 90 anos. Considerando os riscos da guerra da Ucrânia, dá um medinho. >
Dani Oliveira>
Contudo, como a própria palavra diz, é uma previsão. É como Flávio José sempre canta: “pode acontecer tudo, inclusive nada”. Mesmo saindo de um 2022 difícil, 75% dos nordestinos entrevistados na pesquisa do Datafolha acreditam que 2023 será melhor. É o caso de Manie de Andrade, que transformou um ano arriscado em luta e conhecimento. Desde 2020, a enfermeira precisou remodelar sua vida com o surgimento da covid-19. Ela tem DII (Doenças Inflamatórias Intestinais), que engloba a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa. Ela também é ostomizada. >
Evitar o contágio passou a ser uma luta pela vida. Manie precisou rever muitas coisas, incluindo programações normais, como um churrasco com os amigos ou uma academia. Os anos foram, literalmente, de sobrevivência e luta. Contudo, no final de 2022, em um descuido, pegou covid. Houve uma complicação no intestino, o que precisou fazer uma cirurgia de urgência no final de novembro. Manie ainda está em recuperação, mas permanece com muitas expectativas para 2023.“Há 19 anos descobri o Crohn e desde 2015 sou ostomizada. Na verdade, desde 2020 eu vivo anos de muitos desafios pela minha saúde, né? Precisei abdicar de muita coisa. Este ano, talvez por algum descuido na rua, peguei e influenciou nesta cirurgia. Mas acho que todos estes anos me deixaram mais forte para acreditar num 2023 melhor. Eu não sabia que tinha essa essa quantidade de força dentro de mim. Acho que pela minha história de vida, acabei observando as coisas da vida sempre levando em consideração o lado mais cheio do copo. Por isso, sempre vou acreditar que tudo pode melhorar”, disse Manie, que decidiu utilizar as redes sociais para ajudar mulheres com DII (@descrohnplicando). Muita gente prefere pensar 2023 como uma colheita de todo aprendizado desta trilogia que foi 2020, 21 e 22. Se os anos anteriores foram de superações e (re) ajustes, o ano novo será de transformação. >
“Nascimento do meu filho, com cinco dias de UTI neonatal, puerpério terrível, pandemia, volta ao trabalho em ambiente totalmente insalubre, rede de apoio inexistente (praticamente), diminuição da renda, brigas familiares por conta de política e, por fim, o falecimento de meu pai para a covid. Do final de 2019 até hoje a minha vida se modificou completamente. Fui levando com muita meditação, conversa com amigos, tinha uma agenda que escrevia para desabafar, mas com a morte de meu pai a terapia passou a ser indispensável”, lembra a fonoaudióloga Fernanda Rocha, que mesmo assim acredita que a colheita em 2023 será de bons frutos.>
“Não vou mentir a você que estou 100%. Tenho meus momentos bad, inclusive estou passando por um agora. Mas sigo acreditando que tudo vai melhorar. Creio que 2022 foi de ajustes. Vou entrar em 2023 com uma cabeça mais centrada, focada no que eu realmente quero. Precisamos colocar em prática todo o aprendizado nesses momentos difíceis dos últimos anos para virarmos a página em 2023. Está na hora, né?”, completa Rocha. >
Fernanda Rocha>
Todo processo de mudança e obstáculos também começou desde 2020 para a professora de yoga, Daniella Tavares. Ela também perdeu um familiar para a covid-19, mas ganhou a pequena Laura, que nasceu com Síndrome de Down. No início, a falta de conhecimento causou espanto, principalmente com o fato de cuidar de um bebê em plena pandemia. No meio deste processo, enquanto fazia curso para se tornar professora de Yoga, foi demitida do emprego. Tavares não se abalou. Hoje, Laurinha é uma criança com saúde e iniciou, no último mês, sua primeira turma no yoga. >
“Creio que as coisas se ajustam na vida, né? Apesar de perdemos uma pessoa querida, minha filha nasceu sem complicações e pesquisei muito sobre sua condição. Ela é uma criança saudável, normal. Aprendi muito que não podemos colocar peso na nossa vida. Tudo que parecia obstáculo foi aprendizado e estou mais feliz hoje. Dessas sementinhas que a gente plantou aí durante esses últimos anos, acho que teremos boas colheitas em 2023”, garante Tavares, que hoje usa seu canal no Instagram para ajudar pessoas e divulgar o Yoga, onde ela já tem sua primeira turma formada.>
Para quem quer apelar para as energias ocultas e os orixás, 2023 será o ano, segundo alguns religiosos, será de Oxum, com influência de Oxalá e Nanã. Contudo, nas casas e terreiros mais tradicionais, a descoberta do orixá regente só será descoberto no último dia de 2022, no anoitecer. Se for Oxum mesmo, o ano será de compreensão, dinamismo e, sobretudo, de muito amor. Com uma dose de esperança, será a receita ideal para um ano novo melhor. >