Venda de usados reforça orçamento após compras de Natal

Prática de comercializar itens que não servem mais cresce no Brasil; veja dicas para transformar 'tralhas' em renda extra

Publicado em 24 de dezembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: Divulgação)

As filas de automóveis ao redor dos shoppings centers, depois do pagamento do 13º salário não deixam dúvida sobre o quanto as famílias estão dispostas a gastar em presentes. Mas parando para pensar no que já foi comprado ao longo dos natais e que não está sendo usado, dá para ver que é possível lotar o saco de Papai Noel com algumas tralhas e ainda ganhar dinheiro vendendo roupas, livros e outros objetos em bazares ou pela internet. De outubro até esta semana, a OLX, um dos maiores portais de venda do país,  registrou um aumento de 266% na comercialização de produtos associados aos termos “Natal”, “Fim do ano” e “renda extra”. 

“É bastante comum que as despesas aumentem no final do ano com os gastos típicos do período. Portanto, fazer dinheiro com uma renda extra, é algo muito inteligente, que pode ser uma boa solução para passar por esse momento com algum dinheiro sobrando ou pagar aqueles imprevistos que aparecem no caminho”, afirma o coach e educador financeiro Allan Andrade, consultor da Dsop Educação Financeira.

Para ele, a prática de comercializar ainda tem muito espaço para crescer no país. “Essa prática é muito comum em países como Estados Unidos e também nos da Europa, e tem crescido no Brasil como pode ser percebido ao analisar os sites como OLX, Mercado Livre, Trocafone, Enjoei e Estante Virtual”, afirma.

Mas nem todo mundo prioriza a impessoalidade da venda online. Há cinco anos, a produtora cultural Moara Rocha vende em brechós e bazares roupas que não usa mais ou peças que pertenceram a familiares. O preço de cada item depende do tempo de uso, estado de conservação e do grau de afetividade envolvido, mas Moara garante que não vende nada por mais de R$ 50.  Espaço nos Barris, BaZá RoZÊ reúne mulheres para a compra e venda de artesanato e produtos usados (foto: Divulgação)

Networking afetivo

Moara integra uma comunidade de frequentadores de brechós que estabeleceu informalmente o critério de não passar desse teto. Tão importante quanto fazer uma renda extra, para ela, é interagir com os compradores e contar a história de cada peça. “Gosto dessa troca, de falar sobre as coisas que pertenceram a minha mãe, a minha avó”, afirma.

Moara garante que, quando necessário, as peças passam por reparo e são apresentadas aos compradores em bom estado. O grupo adotou o nome de networking afetivo. “É o nosso encontro afetivo e artístico”, afirma a jornalista Brenda Medeiros, organizadora do BaZá RoZê, que reúne mensalmente produtos de alimentação, vestuário e arte na Casa Rosada, nos Barris. Com o tempo, Brenda passou a ser procurada por pessoas simpáticas ao feminismo e o BaZá acabou virando um point de arte feminista.

Pote financeiro

O consultor financeiro Allan Andrade acredita que a prática de vender artigos usados pode ser uma boa maneira de não desviar dinheiro do orçamento para gastos extras. “Existe uma coisa chamada pote financeiro. Quando você tem um objetivo, descobre uma maneira de fazer dinheiro para realizá-lo”, afirma. A expressão decorre do  tradicional método dos potes, em que o dinheiro do salário seria dividido em seis potes: necessidades básicas, lazer e entretenimento, poupança, aquisições, educação e presentes.   

Para iniciar a comercialização dos usados, Andrade recomenda que o dono dos itens à venda siga alguns passos, avaliando todos os objetos acumulados ao longo dos anos. A análise de cada item em separado e se  pagaria por aquilo e quanto pagaria. Faça uma busca por itens semelhantes nos sites de vendas de produtos usados, para que possa ter um parâmetro sobre os preços dos seus produtos.

E por fim, faça uma busca por clientes em potencial. “Uma excelente estratégia é iniciar pelos amigos e familiares. Demonstre os benefícios que terão ao adquirir os seus produtos novinhos por um preço incrível”, orienta o consultor.

Dica da semana:  Como vender artigos usados e lucrar com isso

Avaliação  Inicie avaliando todos os objetos que você tem acumulado ao longo dos anos, mas que não fazem mais sentido para você. Dentre eles roupas em bom estado, sapatos, aparelhos eletrônicos, brinquedos das crianças, acessórios, itens de cozinha (aqueles do enxoval que você nunca utilizou e não utilizará), livros e etc. 

Comparação  Analise cada item em separado, e se pergunte se pagaria por aquilo e quanto pagaria. Faça uma busca por itens semelhantes nos sites de vendas de produtos usados e então estabeleça o preço dos seus produtos.

Busca de clientes Busque os clientes em potencial. Uma excelente estratégia é iniciar pelos amigos e familiares. Demonstre os benefícios que terão ao adquirir os seus produtos “novinhos” por um “preço incrível”. Os clientes poderão ser encontrados também em sites especializados, atualmente existem muitos, como OLX, Mercado Livre, Trocafone, Enjoei e Estante Virtual. Você precisará se cadastrar nos sites. Não esqueça de fazer boas fotos dos produtos para serem expostos de maneira que gere desejo nas pessoas. Outra possibilidade é a divulgação dos produtos em grupos criados em aplicativos de troca de mensagens, como o Whats App. Você poderá criar um grupo com esse propósito ou ingressar em algum já existente. 

Renda extra   É importante que você entenda que a comercialização desses produtos sem uso te ajudará a fazer uma renda extra e, quem sabe, poderão até fazer você iniciar a estratégia dos potes financeiros para a realização dos seus sonhos. É válido considerar a estratégia dos potes financeiros, que se resume em levantar uma renda extra (dinheiro) que hoje não tem um lugar entre “os potes”  para pagar os gastos sem precisar utilizar a renda principal.

 Poupança Se as suas contas são pagas pela renda principal, o que entra pela renda extra a mais vai sobrar. Muito cuidado, a maioria das pessoas não faz isso. Assim que o dinheiro da renda extra entra, elas querem aumentar o padrão de vida, fazem compras parceladas ou sempre arranjam algo para gastar. Mas para os que possuem educação financeira e utilizam a estratégia do pote, as contas serão pagas pela renda principal, e tudo que entrar pela renda extra será transformado em investimento. Assim você irá garantir um consumo mais sustentável dos produtos, e talvez você descubra que tem uma pequena fortuna escondida nos armários da sua casa.

Brechós Caso o seu objetivo não seja somente fazer dinheiro, os brechós são uma alternativa interessante, pois é possível interagir com os compradores de suas peças. Nesse caso, o valor afetivo das peças pode influenciar seu preço.

Relato de Márcia Meneses, organizadora do BaZá RoZê  Eu comecei  a vender peças de roupas em brechós para cobrir as despesas que tenho com os cuidados de animais de rua. Minhas amigas e eu temos um trabalho voluntário de alimentação e cuidados com cães e gatos que estão abandonados em alguns bairros da cidade, e para fazer isso estávamos gastando cada vez mais dinheiro. Percebi então que vender coisas em brechós seria uma alternativa interessante, porque de um lado podemos obter uma renda vendendo as peças e por outro, podemos pedir doações de roupas antigas e de outros objetos a pessoas que sejam simpáticas à causa dos animais e estejam dispostas a nos ajudar.

Quando Brenda Medeiros começou a fazer a prospecção de pessoas interessadas em fazer parte do BaZá RoZê, a gente percebeu que era uma boa oportunidade vender nossas peças. Como parte do coletivo Networking Afetivo, decidimos também estebelecer R$ 50 o valor máximo de cada peça. A gente vem criando o lema do BaZá RoZê, primeira feira artística e feminista de Salvador. Desde setembro, diversas mulheres procuraram o coletivo, e como a gente vem propagando muito essas questões de acolhimento, diversidade e respeito, esse  público demandou uma espécie de acolhimento e consultoria que não era o objetivo inicial do projeto.

Muitas mulheres que se identificavam muito com uma  arte feminista entraram em contato. Não necessariamente artistas modernas e contemporâneas, mas pessoas que fazem arte ou artesanato dentro desses conceitos . Algumas dessas pessoas não tinham participado nunca de uma feira.  A gente começou a fazer um levantamento de que era importante  um evento como esse para reforçar a rede da arte feminista.  Chegou um coletivo de mulheres, chamado Coletivo Esmeralda, que tem uma pessoa que faz um trabalho de empoderamento dessas mulheres com os seus empreendimentos. Houve uma identificação no sentido de fazer uma troca de informações o que levou o projeto a ser repensado, com um jeito melhor de aglutinar essas informações na prática.

São mulheres que trabalham bordado, tricô, uma série de artesanatos, moda praia e recebem o apoio de uma pessoa que as orienta. A gente conseguiu concretizar esse modelo nas duas últimas edições. Com mulheres mais jovens, mas velhas, que estavam com seus produtos apenas nas redes sociais e que chegaram para fazer essa troca de informações dentro do BaZá.  O último que teve agora, nos dias 8 e 9 de dezembro,  a gente fez um espaço que uniu o sagrado e o erótico. A gente teve um sex shop, e ao lado uma grande mesa com produtos de cuidado feminino, como absorventes naturais e kits para mulheres que estão no período menstrual.