Venezuela: crise pode sair cara para o Brasil

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Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 14:00

- Atualizado há um ano

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Temos visto com apreensão os últimos acontecimentos envolvendo nosso país vizinho, a Venezuela, e, recentemente, a situação tem ficado mais tensa, com especulações sobre uma possível guerra. O clima de tensão proveniente do impasse em relação ao governo Maduro tem mobilizado autoridades de todo o mundo. Atualmente, cerca de 40 países reconhecem Juan Guaidó, líder da oposição venezuelana e autoproclamado presidente do país, como o atual chefe de Estado. Na última semana, representantes de países europeus e latino americanos chegaram a se reunir no Uruguai com o objetivo de encontrar uma saída para a crise, mas o impasse continua.

O que precisamos ter em mente é que, apesar dos relatos de crise humanitária contra a população venezuelana, nenhum dos países diretamente envolvidos com a situação está realmente interessado no bem-estar do povo. O interesse é único e exclusivamente econômico. O que Estados Unidos, China e Rússia querem é o petróleo.

Guerra comercial

No ano de 2011, a Venezuela anunciou ser o país com as maiores reservas de petróleo de todo o mundo. Parte de sua atual crise, inclusive, deve-se a isso já que, em 2013, o preço internacional do petróleo caiu, reduzindo em muito as receitas do país, que via sua economia basear-se principalmente no comércio do óleo. Além disso, o embargo comercial imposto pelos Estados Unidos terminou por aprofundar a difícil situação que a Venezuela enfrenta.

A China estrategicamente aproveitou o momento de crise e aproximou-se do governo Maduro, tornando-o um devedor através de altos investimentos que devem ser pagos com fornecimento de petróleo ao gigante asiático. A aproximação dos dois países atingiu diretamente os Estados Unidos, que reagiu com o intuito de garantir para si o abastecimento do petróleo explorado no país vizinho.

Acontece que China e Estados Unidos têm travado uma guerra comercial já há anos. A indústria chinesa atrai cada vez mais investidores e o Produto Interno Bruto do país mostra tendência de superar o norte americano em um futuro próximo. A China, por ser uma república comunista, possui fortes estatais que, na guerra pelo petróleo mundial, além de pagar o valor do barril, tem condições de colaborar com os países produtores através da realização de obras de infraestrutura. As empresas norte americanas são privadas e não possuem essa contrapartida, podendo ofertar apenas capital. China e Estados Unidos estão lutando para garantir petróleo para suas indústrias, mas também para impedir que seu maior rival econômico tenha acesso ao combustível.

O interesse brasileiro

Como já vimos, nenhum dos países diretamente envolvidos no impasse venezuelano baseia seus atos por motivações humanitárias ou ideológicas. Os posicionamentos são baseados na economia e nas relações comerciais que mais trarão benefícios para cada nação. Portanto, nesse ponto, precisamos questionar o papel do Brasil nesse contexto.

Nosso governo já reconheceu o governo de oposição a Maduro como o oficial e tem se alinhado às decisões e opiniões dos Estados Unidos. Mas precisamos lembrar que a China é o país para o qual o Brasil mais exporta. Também é o país do qual mais realizamos importações. Os Estados Unidos são atualmente o segundo país no ranking de exportações do Brasil, mas com quase metade dos valores comercializados com a China.

Além disso, Brasil e Estados Unidos são produtores de alimentos, possuem indústrias concorrentes, enquanto a relação comercial com a China é complementar. Os chineses precisam dos alimentos roduzidos pelos brasileiros, enquanto nós precisamos da tecnologia que eles podem exportar. Uma crise diplomática com os chineses não seria nada interessante para a economia brasileira.

Outra questão que merece destaque é o fato de que os Estados Unidos são uma nação que depende da importação de petróleo. Controlando as reservas da Venezuela, o interesse norte americano é diminuir o valor do barril no mercado mundial, o que seria bastante desvantajoso para o Brasil como país exportador do combustível.

Portanto, mais uma vez para aliar-se aos Estados Unidos, o atual governo toma atitudes que, na prática, não beneficiam seu próprio povo, como na oportunidade em que se retirou do Tratado de Migrações da ONU, prejudicando cidadãos brasileiros que vivem em diversas partes do mundo.

O assessor de Assuntos Internacionais do presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins, chegou a criticar a reunião que ocorreu no Uruguai para mediar um acordo entre o governo e a oposição na Venezuela. “Apela ao ‘diálogo entre governo e oposição’, – só que Maduro não é mais governo, e sim usurpador, e a oposição não é mais oposição, e sim governo interino legítimo, conforme a constituição da Venezuela”, disse Martins, em um claro apoio ao governo norte americano.

A diplomacia brasileira deveria ser mais cautelosa e pensar nas consequências de seus pronunciamentos para não prejudicar acordos comerciais importantes para a nação. Exemplo recente foi o descredenciamento de 33 dos 58 frigoríficos brasileiros habilitados para realizar exportações de carne de frango para a Arábia Saudita após um movimento do governo Bolsonaro que visava transferir a Embaixada brasileira de Israel para Jerusalém. A Arábia Saudita é o maior importador de carne de frango do Brasil e a reação provocou um recuo do governo brasileiro. No caso venezuelano, o Brasil parece não ter aprendido a lição e poderá abalar importantes relações para a manutenção e desenvolvimento do país, talvez sem possibilidade de recuo.