Vírus da morte: óbitos por coronavírus estão mais rápidos mesmo após internação em UTI

Em Salvador, 70% dos pacientes internados no mês de maio morreram

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 26 de maio de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

Remo Rodrigues era um homem disciplinado. Aos 56 anos, não bebia, não era nem de comer comida pesada e fazia tudo o que podia para preservar a saúde. Já fazia um tempo que trabalhava em formato remoto: era auxiliar administrativo da Embasa e era vigiado de perto por seu irmão gêmeo, Juvenal*, que sempre ao acordar ligava para saber como ele estava e se precisava de alguma coisa.

Juntos, os gêmeos superaram uma série de dificuldades na vida, inclusive a fome. Uma das circunstâncias mais desesperadoras não foi capaz de frear a dupla, sedenta por viver. Juntos eles estudaram, prosperaram e construíram suas famílias - e sempre estavam perto um do outro. Só o coronavírus conseguiu brecar essa união: no último dia 15, três dias após dar entrada no hospital Tereza de Lisieux com saturação oscilando, mas quadro aparentemente estável, Remo morreu por complicações deixadas pela doença.

Histórias como a de Remo estão se tornando cada vez mais frequentes em Salvador. Dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) indicam que entre o dia 1 e 20 de maio, morreram 70% dos pacientes com coronavírus internados em leitos de UTI da cidade. Em números mais diretos, 119 das 170 pessoas internadas morreram. As informações foram publicadas pelo G1 e TV Bahia, e posteriormente confirmadas pelo CORREIO.

Os números frios assustam, mas não falam tanto quanto a dor dos familiares que também são vitimados pela doença. Sobrinho de Remo, Rômulo Jorge explica que inicialmente ele teve sintomas de gripe após precisar fazer uma atividade presencial no escritório. Fez o exame, confirmou o teste positivo e a partir daí os dias foram de preocupação e ansiedade."Ele ficou muito ansioso, contratamos uma técnica de enfermagem para ele não ficar sozinho. Ele sofreu muito, dizia que não conseguia tomar as medicações que compramos. Ela ficou dois dias com ele, teve um pico de ansiedade muito grande e chamamos a ambulância. A Vitalmed detectou a saturação oscilante e resolveu removê-lo. Ele foi ao hospital, foi internado e não chegou a três dias completos", afirmou. Além das mortes estarem em níveis altíssimos, a velocidade com que acontecem os óbitos também acelerou. O tempo médio de internação em leitos de UTI caiu para quase a metade: no ano passado, a média de tempo que se passava num leito era de 14 a 30 dias. Agora, a média é de 10 a 15 dias porque os pacientes estão morrendo mais rápido.

Médica intensivista, Samantha Oliveira afirma que percebeu a diminuição no tempo de internação e acredita que o motivo sejam as novas variantes do vírus que estão circulando e aceleram os estragos que o vírus deixa nas pessoas."Os casos de fato estão ficando mais graves e conseguimos perceber isso no dia-a-dia", afirma. Por sua vez, o infectologista Fabrício Silveira aponta que somente vacinação em massa e cuidados básicos como o isolamento social e uso de máscara podem brecar essa situação. Até o momento, 352 mil pessoas tomaram as duas doses das vacinas em Salvador. Em 1ª dose, foram 721,9 mil. Até o final da noite de terça-feira (25), a taxa de ocupação dos leitos de UTI adulto na cidade era de 81%.