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Vítimas do falso consórcio em Salvador estavam em busca de financiamento

Golpistas apostavam na aparência para aplicar os golpes

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 19 de agosto de 2022 às 05:45

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

A operadora de telemarketing Márcia*, 27 anos, precisava comprar uma moto e viu um anúncio na internet de um veículo com valor abaixo do preço comum. Entrou em contato, visitou o escritório, pagou a entrada e caiu em um golpe. A bancária Rafaela*, 34, pretendia comprar um carro, mas foi vítima do mesmo esquema. Até a manhã de quinta-feira (18) eram 165 vítimas e, pelo menos, 13 empresas estão sendo investigadas.

Batizada de Falso Consórcio, a operação da Polícia Civil cumpriu 33 mandados de busca e apreensão no endereço de 13 empresas de financiamento e nas residências dos sócios e proprietários dos estabelecimentos. A investigação apura crimes de estelionato e associação criminosa. Na prática, as vítimas assinavam contratos de consórcio, acreditando ser de financiamento, mas o processo não seguia o rito legal. Depois de atrair dezenas de vítimas, a empresa trocava de CNPJ e mudava a sede de local, deixando as pessoas sem informações e sem o dinheiro investido. Rafaela pretendia fazer um financiamento.“O anúncio dizia que o carro custava R$ 30 mil. Entrei em contato, primeiro por telefone, e depois pessoalmente. O escritório era bem organizado, com atendente, funcionários e outros clientes. O combinado foi eu pagar uma entrada de R$ 6.156 e parcelar o restante em 36 vezes. Assinei o contrato e fiz o pagamento, mas quando cheguei em casa e li com calma, não se tratava de um financiamento, mas de um consórcio”, contou Rafaela.O valor do carro no contrato saltou de R$ 30 mil para R$ 60 mil, a quantidade de parcelas triplicou de 36 para 100 vezes e o crédito não seria liberado de imediato, Rafaela teria que esperar ser contemplada para receber o dinheiro. “Assim que li o contrato percebi que era um golpe, entrei em contato no mesmo dia em que assinei e me disseram que teria que esperar os 100 meses passar para receber o reembolso”, contou.

Ela voltou ao escritório, mas não foi recebida e a empresa parou de responder as ligações e mensagens. Já Márcia pagou R$ 1.539 como entrada em uma moto que custaria R$ 8 mil. O restante seria quitado em parcelas de R$ 300, mas o crédito nunca foi liberado, a moto não foi entregue e o valor da entrada não foi devolvido. A negociação aconteceu em 8 de julho.“Eles disseram que em até cinco dias úteis eu teria o crédito para retirar a moto, mas fizeram um contrato de consórcio. Recebi uma ligação de uma empresa de São Paulo querendo confirmar o consórcio, eu disse que era um financiamento e quando voltei ao escritório disseram que eu entendi errado, e não devolveram o dinheiro”, afirmou.As duas vítimas contaram que tentaram falar com os vendedores e supervisores que fizeram a transação, mas não conseguiram. O diretor do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), Arthur Gallas, contou que os golpistas montavam escritórios organizados, usavam diversos CNPJ e que as vítimas mais comuns eram pessoas com baixa escolaridade. A polícia acredita que os grupos estão agindo há pelo menos três anos.

“São várias empresas praticando esse tipo de golpe. Eles agem de forma muito dinâmica. A empresa não fica muito tempo aberta no mesmo local, eles vão encerrando as empresas e abrindo em outros locais, sempre em centro empresariais de alto padrão com toda uma infraestrutura para mostrar para a vítima que é uma empresa a princípio de credibilidade, mas na verdade não é. Quando já está exaurida em termos de vítimas, eles encerram essa empresa e abrem outra em outro local”, contou.

O golpe era aplicado sempre da mesma forma. Primeiro, era anunciado na internet a venda de um veículo ou um imóvel. Depois, convidavam as pessoas para visitar o escritório e assinar o suposto contrato de financiamento. Em seguida, exigiam um valor de entrada e após o pagamento o crédito ou bem jamais eram entregues. O prejuízo calculado, até o momento, é de R$ 865 mil, mas a polícia acredita que o valor será maior.

Os investigadores têm registro de 165 vítimas. Depois que o caso ganhou as manchetes, nesta quinta-feira, mais pessoas procuraram as delegacias para prestar queixa. Algumas perderam R$ 50 mil. É possível fazer o registro também pela delegacia virtual.

A investigação começou depois que a polícia notou registros recorrentes desse tipo de golpe em diversas delegacias territoriais e especializadas. O DCCP resolveu concentrar a apuração e destinou cerca de 15 policiais para investigar o caso. Os nomes das 13 empresas alvos da operação não foram divulgados, e os policiais estiveram nos bairros do Centro, Stiep, Rio Vermelho, Sussuarana, Amaralina, Valéria, São Cristóvão, Caminho das Árvores e nas Avenidas San Martim e Paralela, além de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana. A operação segue em andamento.

Ligações A polícia acredita que os grupos investigados na Bahia têm relação com outras empresas em São Paulo. O diretor do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), Arthur Gallas, não divulgou a quantidade de suspeitos de envolvimento no crime, mas afirmou que o número de estabelecimentos pode aumentar.

“A princípio existe uma conexão forte com empresas de São Paulo. Tenho conhecimento de que esse crime está sendo praticado em outros estados e acreditamos que pode haver relação. Estamos investigando”, afirmou. Ele ainda não fez contato com a polícia de SP.

O delegado disse também que foram apreendidos computadores, celulares e documentos, e explicou o motivo de não ter solicitado mandados de prisão. “Essa operação serviu para conseguir mais provas e o material será usado para futuros processos, como medidas cautelares da justiça”, disse.

Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Salvador e Lauro de Freitas, na Região Metropolitana. Houve denúncias também envolvendo uma empresa em Cruz das Almas e duas em Vitória da Conquista, e os policiais estiveram no local, mas os estabelecimentos já tinham sido fechados.

A Operação Falso Consórcio contou com 130 policiais para cumprir os mandados de busca e apreensão e teve participação da Delegacia do Consumidor (Decon), DCCP sede e Delegacia de Repressão a Estelionato e Outras Fraudes (Dreof), Departamentos de Inteligência Policial (DIP), de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e de Polícia Metropolitana (Depom).

*Os nomes foram substituídos para preservar a identidade das vítimas.