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Gabriel Galo
Publicado em 13 de maio de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Dizia Heráclito, o pai da dialética, grego nascido em Éfeso, hoje cidade turca: “A única constante é a mudança.” O filósofo pré-socrático colocava em palavras um jogo fundamental para entender o ciclo da vida, que age em constante evolução. Dois mil e quinhentos anos depois, Almir Sater letrou canção afirmando que seguir a vida é simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente. Beleza simples para cantar a adaptabilidade para evoluir. Darwin curtiu.
A própria história da fundação do Vitória, neste 13 de maio há 120 anos, já indicava que o caminho da agremiação de cricket seria recheado de intempéries e desafios. Chuva torrencial de 6 dias antes adiara a reunião para a data eternizada.
E se, por um lado, a trajetória estaria destinada aos confrontos contra vilões e adversários, fossem eles internos ou externos, por outro, sob a égide dos irmãos Artur e Artêmio, Valentes de sobrenome, haveria de nunca desistir, de sempre resistir.
Vitória, seu nome é persistência.
Assim se fez e cresceu em recomeços. Refundou-se em mudanças de cores, nome e escudo. Repintou-se em adoção de novos padrões de uniforme.
Sobreviveu a catástrofes e abismos. Ao amadorismo prolongado, fiel a um romantismo que disfarçava ideais não republicanos. Às alianças políticas espúrias e osórias que beneficiavam o lado antes muitas vezes maior, hoje visto olho no olho. Aos depredadores da instituição em inexplicável fogo amigo, artilharias sinvais, ivãs e ricardas.
Vitória, seu nome é sobrevivência.
Em meio aos baixos, altos de magnitude improvável. Produziu tais e academias de futebol. O escrete mágico dos anos 70. O Príncipe Nigeriano que restabeleceu a autoestima nos anos 80. Sua saída coincidiu com a melhor troca de centroavantes da história do futebol: saiu Ricky, entrou o Barradão.
No solo sagrado do santuário rubro-negro, reduziu a distância aos que lá na frente se encontravam. Colecionou números, títulos. Por 20 anos, foi líder absoluto do esporte baiano. Soberania de quem se recusou a ver os adversários de cima para baixo. Aguerrido, tratou de vitaminar-se e ver-se grande também.
Vitória, seu nome é destemor.
Tornou-se, em sua progressão irrefreada, um símbolo da Bahia, expoente da baianidade. Não há Ba-Vi sem Vitória. Não há baba sem Vitória. Não há escárnio sem Vitória. É na dualidade da disputa entre iguais que a rivalidade se acirra.
Em meio a tantas partes e trechos de uma trajetória singular, uma entidade superior rege a saga. É a força que grita, que explode. Que perde a voz e as economias seguindo o time aonde for. Que odeia amar em períodos de secura e se esbalda em alegria imensurável nas conquistas.
Acima de tudo, o Vitória se baseia na sua torcida, que apesar de tantos tropeços, tantos desmantelos, tantos empurrões, mantém-se firme no propósito de reerguer o clube. Mesmo quando a esperança se esvai, agarra-se a qualquer fiapo que mantenha a chama acesa. Atende a chamados e corre a associar-se, bradando ser Vitória de carteirinha.
À massa, um aviso importante: tudo isto pelo que estamos passando é passageiro. Depois da tempestade, vem a bonança. Hemos de levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Porque se há algo que o Vitória aprendeu a fazer nestes 120 anos completos hoje é recomeçar.
Não há antídoto ao fato: o Vitória é agente formador do mundo. Não está inserido, é escritor da história, na qual é muito mais um nome. É persistência, é sobrevivência, é destemor. É um grito de glória.
E nesta constante mudança, na montanha-russa dos ciclos de altos e baixos em que compreendemos a marcha, nos adaptamos e evoluímos, seguimos firme na fé inabalável, incapazes de fugir de nossa paixão vermelho-e-preta. E transborda o orgulho de sermos Vitória de coração.
Gabriel Galo é escritor e rubro-negro, sim, senhor.