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Paulo Leandro
Publicado em 14 de outubro de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
Havia uma seção no Esporte Jornal, de Luiz Eugênio Tarquínio, tablóide de toda segunda-feira, chamada Placar Moral. Ali, eram modificados os escores dos jogos, a partir da interpretação particular do editor sobre o desempenho dos teams.
A inspiração vinha de Nelson Rodrigues, para quem “nada mentia mais que o placar de um jogo de futebol”. Não é difícil verificar como o resultado objetivo tem o condão de divergir na balança da deusa da Justiça, Themis.
O futebol é esporte copiado à incoerência do mundo: são bolas na trave, impedimentos mal marcados, pênaltis desperdiçados, o goleiro no dia, são muitas oportunidades de o placar contrariar as vistas. O time joga melhor, mas pode perder. Ou joga mal e vence.
O VAR, ao contrário de aperfeiçoar números definitivos, tem servido de garantia para forjar resultados: a genialidade da trapaça é iniludível na suposta neutralidade de máquinas, justificando a roubalheira higienizada.
À guisa de emudecer o apito da monumental figura do juiz ladrão, suplemento inseparável, especialmente quando rouba para os dois times, termina o VAR obedecendo aos apostadores.
Embora livres de diabólico equipamento, as valorosas jogadoras do Vitória são vítimas do placar, como representantes da nova Confederação do Equador no Brasileiro, corajosas marias-felipas de uma sociedade falocrática, agonizante nos seus estertores.
Consideradas exóticas, por rejeitarem condições subalternas, para lutar pelo protagonismo no futebol, as fridas rubro-negras dão exemplos de como o placar de um jogo pode disfarçar.
São várias as amostras de corrupção dos resultados, como verificou-se na derrota para o Santos, por 1x0, e ainda outra, pelos mesmos números, diante do Flamengo, além do revés contra o Audax por apertados 2x1 e também o Grêmio (2x0).
Hoje, o Vitória enfrenta a Ponte Preta, mas não se pode sentir a menor a equipe de Salvador por contar zero ponto e disputar a lanterna da competição contra a Macaca, igualmente zerada, em curioso duelo, no estádio Barradão, às 15 horas.
Aplicando-se o princípio de justiça reparadora e proporcional, são as rubro-negras as guerreiras brasileiras, à moda Carol do vôlei, tal o desamparo contra o qual lutam, com o objetivo de honrar o distintivo do Decano.
Assim como nada engana mais que o placar de um jogo, e assim, corrijam-se os escores das partidas, tão logo encerradas, também a classificação torna-se passível de alteração, se aplicados valores morais a um bom time de ninfas lutando com sua própria graça.
Em honra à primeira mulher, Pandora, vítima de armadilha, cujo resultado foi soltar do jarro os males do mundo – exceto a esperança –, o time feminino do Vitória torna-se um bem em si mesmo, por dedicar-se com coragem, conhecimento, moderação e justiça.
Comparando-se às estruturas e ao apoio da concorrência sudestina, o Vitória Femens recusa-se a empunhar a lanterna para enxergar a sabotagem de ignorantes bem reaças, cujo pavor às vaginas torna-se estridente.
A missão das leoas foi cumprida com o denodo delas esperado, herdeiras de gerações de atletas dos mais diversos gêneros, a ponto de propor-se rearrumar a classificação, para oferecermos a elas, nesta coluna, o merecido título de campeãs do Brasil.
Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.