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Você quer ser e encontrar verdades?

Se precisa manipular, maquiar, esconder, é que a própria pessoa se julga, ela mesma, insuficiente e inadequada.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 29 de outubro de 2022 às 11:00

. Crédito: .

Já reparou que quanto mais a pessoa é mentirosa, mais adora dizer que não sabe mentir? Ou que não "precisa' mentir? Assim, como se anunciando essa "impossibilidade" - ou a superioridade de não "precisar" - emitisse um selo de qualidade, ela mesma, para as próprias palavras, e, assim, pairasse acima de qualquer suspeita e dos mortais. Você resolver pedir a uma pessoa dessa que prove o que está falando é, então, uma grande ofensa porque, né, ela mesma já garantiu que, por um motivo ou outro, não mente. Pronto, acabou. Todo mundo tem que acreditar.

Há, realmente, condições psíquicas que limitam a capacidade de mentir. Outras que fazem com que pessoas mintam descontroladamente. Entre os dois extremos, está a "normalidade", ou seja, a possibilidade humana de inventar histórias que não correspondem aos fatos. Outra verdade é que precisar mentir, todo mundo precisa. A mentira social, aquela que lhe faz exclamar "que lindo!", diante do bebê todo inchado que acabou de nascer - ou da foto de várias pessoas no Insta -  taí, amalgamando as nossas relações. Sem ela, minha cumadi, ninguém vive, não.

De forma que a conversa, aqui, é sobre calibragem. Sobre o quanto (e de que maneira) pessoas comuns, naturalmente capazes (e precisadas) de mentir, lançam mão do recurso no dia a dia. É sobre a frequência, os tipos de mentiras e a quem elas são direcionadas. Em que âmbito e com que consequências. Em quais meios, com qual amplitude. O objetivo da lorota também importa. Às vezes, uma mentira é grave pelo sintoma que representa ao ser dita "sem a menor necessidade". É a situação dos mitômanos que inventam miliuma histórias, imersos ali na fantasia patológica.

Outras vezes, a gravidade da mentira está na intenção de induzir outras pessoas a erros, fazer com que terceiros tomem decisões que seriam outras, caso conhecessem a verdade. Aí, pode até ser crime, a depender das circunstâncias. Ou criar grandes e intransponíveis mágoas. Há pessoas que se especializam nesse tipo de mentira. Seja na vida pessoal ou na profissional. Pra mim, a única regra que cabe em todos os casos é: quanto mais a pessoa mente, menos confia no próprio taco.

Observe a rota do indivíduo que você chega a essa conclusão com facilidade. A gente começa a aprender a mentir na infância e aprimora na adolescência. Normal. Autoestima em construção, autoridades a questionar. Ninguém é livre antes da maioridade e todo ninho incomoda, de alguma forma. É natural que se precise, antes de voar, driblar certas regras na família de origem. Só que são forças desproporcionais, por mais "muderna" que seja a educação. Como enfrentar? Mentindo, claro. Quanto mais severo o ambiente, mais mentiras no jogo. Todo mundo sabe disso, zero novidades.

Acontece que a gente cresce. Mudam as circunstâncias e as necessidades. Ou deveriam mudar. Digo "deveriam" porque nenhum amadurecimento se dá nas CNTP e, assim, ficamos todos mais ou menos apegados a esse estágio inicial. Todo mundo tem dois ou três cacoetes que remetem lá aos primórdios, ao estabelecimento das primeiras relações, aos olhares inaugurais, por melhores que tenham sido pai e mãe. Eu tenho as minhas questões, você tem as suas e eu nunca soube de alguém que passasse ileso por infância e adolescência. Tem quem assuma, tem quem negue. A diferença é só essa aí.

Meus pais nunca foram burros e pra driblar as regras - que eu achava rigorosíssimas - não era moleza não. Tinha conversa, claro, mas tinha lorota também e precisava ser bem elaborada para que eu conseguisse a liberdade que eu mesma julgava apropriada aos, digamos, 11, 12, 13 anos de idade. Resultado que ninguém mente melhor do que eu. Ou, pelo menos, nunca conheci alguém capaz de maior naturalidade. Minha cara nem arde, duvido acusar qualquer desequilíbrio no detector de mentiras do FBI. É fácil, pra mim, como para muitas pessoas que dizem "não sei mentir" e eu olho pensando "ah, tá" (hahahah).

Só que já passei 30 anos dos 18. Faz tempo que respondo por mim e esse é um grande barato. Assim, podendo construir quem sou e decidindo sobre meus atos, a mentira me parece uma humilhação absolutamente evitável, na maioria dos casos. A não ser que eu tivesse vergonha do que me tornei - e de como ajo - não há a menor necessidade de inventar nada, além das filigranas indispensáveis a convívios superficiais. Eu gosto de quem sou. O que não acho tão bom, vou melhorando, conforme a consciência bate. Então, se tenho esse trabalho, não há nada que eu invente que possa ser melhor do que o que penso, acredito, faço e sou, na real. Isso é alegria e liberdade.

Aí, não tem teoria de pós-verdade que me convença do contrário: se precisa manipular, maquiar, esconder, é que a própria pessoa se julga, ela mesma, insuficiente e inadequada. Nesse caso, quem sou eu pra discordar? Se achando um fracasso, a pessoa escolhe fantasiar em vez de se tornar o que gostaria de ser. Se especializa no convencimento alheio de que é aquilo que nunca será porque se concentra no esforço errado. Pode até funcionar por um tempo, claro. Mas o alongamento dos cílios uma hora cai, a maquiagem sai com água e até prótese de silicone tem prazo de validade. Que dirá lorotas que têm pernas curtas e infinitas fragilidades.

Quase tudo é narrativa, não é? Na vida pessoal, profissional, individual e coletiva. Se o que o outro "é", está mediado pelo que queremos ver e pelo que o outro escolhe (e pode) mostrar, verdade é que bebemos com narrativas, transamos com narrativas, ficamos amigos de narrativas, amamos e votamos em narrativas, também. Somos todos narrativas com múltiplas e infinitas possibilidades. Todas podendo ser verdadeiras ou falsas, o que é diferente de termos ou não afinidade.

Pessoalmente, faz tempo que escolhi ser a narrativa que me dá menos trabalho: aquela que coincide, ao máximo, com meus sentimentos, crenças e atos. Prestando ou não para quem eu encontrar. Por outro lado, também escolho, pra tudo na vida, pessoas que fazem esse ajuste entre narrativa e fatos. Reconhecer é fácil. Às vezes, basta um olho no olho, uma pergunta certeira, um "tem certeza disso que você falou?". Ter memória também ajuda a ligar pontinhos e concluir diante de que tipo de gente você está. De vez em quando, investigo algum vivente com palavras-chave nas redes sociais. Pra saber. Já peguei coisa muita, assim como no Jusbrasil e de outros jeitos legais, mas que não vou explanar aqui.

Em alguns casos, um Google bem dado já resolve o problema. Também tem que quem fala a verdade não se importa de provar. É até bom quando ganha a oportunidade. Tem gente que corre léguas e, com isso, já entrega o que é. Por força das circunstâncias, "eu quero é prova" tem sido meu mantra nesse assustador Brasil de 22 que nos exige mais do que maturidade. Recado tá dado, entende quem puder. A pergunta é: você quer ser e encontrar verdades? Se quiser, ninguém te  atrapalha, tá tudo aí,só  não vê quem não quer. Por falar nisso, bom voto pra você. Com alegria, paz e fé.