Você tem medo de perder algum evento nesse verão? Isso tem nome

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  • Da Redação

Publicado em 1 de dezembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Já pintou verão. Na cidade onde a estação não respeita o calendário - começa nos últimos dias de outubro e não tem fim determinado - é consenso a percepção de que a temporada 2020 já começou. Junto com a elevação da temperatura e com os primeiros turistas, chegam inúmeras possibilidades de lazer: shows, ensaios e festivais. Além dos habituais Cortejo Afro, Timbalada, Camarote da Rainha, Festival de Verão e tantos outros, teremos também Maria Bethânia, Gilberto Gil, Silva e Vanessa da Mata. É no verão que Salvador torna-se, ainda mais, a “cidade maníaca”, assim definida pelo antropólogo Antonio Risério. Cidade onde a solidão e a introspecção parecem não ter lugar.

Diante de tantas possibilidades de festas e lazer, é impossível não se sentir ansioso e um pouco angustiado. Os dois sentimentos vêm do desejo de aproveitar tudo, da vontade impossível de estar em mais de um local ao mesmo tempo e do receio de perder algo que todos estão aproveitando. Certamente você já sentiu algo assim ou conhece alguém que sente. Você não está sozinho. Ao medo de perder algo importante, que muitos outros irão aproveitar, adquirir ou usufruir, os psicólogos dão o nome de FOMO, fear of missing out. FOMO não é um transtorno mental, mas um sentimento associado ao aumento do risco para episódios agudos de ansiedade e, consequentemente, aumento do risco de depressão. É um sentimento universal e ocorre em diversos contextos. O turista que vai a Nova Iorque e se depara com inúmeras atrações que os amigos lhe dizem ser “imperdíveis”. Ao escolher onde ir, desistir de um destino em favor de outro, também pode-se vivenciar angústia e ansiedade e o medo de perder algo.

O sentimento de FOMO é exacerbado pelas redes sociais e, portanto, mais comum entre jovens e entre aqueles que fazem uso intenso delas. As redes amplificam os eventos e o sentimento de felicidade, mesmo que fugaz, de estar presente em ambientes festivos. Para os que não os frequentam, elas amplificam a sensação de não pertencimento. Nas redes há pouco espaço para a tristeza, a melancolia, a introspecção e muito espaço para a felicidade quase maníaca. Todos os shows parecem imperdíveis e todos os destinos espetaculares. Ao zapear pelos feeds alheios, muitos comparam suas vidas, supostamente de bastidores e na condição de figurantes, aos destaques e ao protagonismo da vida dos outros, exibidos em inúmeros closes e selfies editadas. Mas, a “vida é real e de viés”, não é virtual, como Caetano Veloso escreveu e musicou.

FOMO não é um sentimento novo que surgiu no mundo contemporâneo e tampouco é causado pelas redes sociais. É parte de nossa biologia. Nossos antepassados caçadores e coletores também buscavam as melhores escolhas e foram elas que levaram à sobrevivência da espécie. Porém, eles não tinham tantas opções e nem tantas oportunidades de comparar suas escolhas com as dos outros. Portanto, havia menor risco de ansiedade e angústia. 

Um aspecto positivo do medo de perder algo é a capacidade de nos encorajar a experimentar novas vivências, conhecer novos destinos, experimentar novos sons e sabores. O mesmo sentimento que pode nos levar à ansiedade e angústia também pode nos levar ao prazer proporcionado por uma nova experiência. 

Não são apenas os psicólogos que estão interessados na melhor compreensão desse sentimento. Os publicitários e web-designers já compreenderam que FOMO é outro fator que, junto com o desejo e a necessidade, nos levam ao consumo. No mundo das vendas, das black fridays e dos negócios ditos imperdíveis, FOMO não é apenas o medo de perder alguma experiência de vida, mas o medo de perder um bom negócio ou oportunidade. Valendo-se desse conhecimento, profissionais elaboram estratégias de vendas, especialmente on-line, para fisgar consumidores mais ansiosos.

Mas, você pode ser do tipo que não gosta de festas e multidões e não se identifica com o FOMO. Prefere manter-se distante das grandes aglomerações e aprecia a tranquilidade de uma pousada, o pôr do sol sozinho ou com poucos amigos, ou somente um bom lugar para ler um livro. Você também não está sozinho. JOMO, joy of missing out, é o sentimento oposto ao FOMO, caracterizado pelo prazer de não estar onde todos estão. É o prazer de “perder” algo que todos anseiam.

A compreensão de FOMO e JOMO nos faz lembrar da importância de aproveitar o verão (e todas as outras estações do ano) à nossa maneira, respeitando a nossa individualidade. Aproveite o calor do verão para se desconectar do mundo virtual e se conectar com você mesmo. Viva novas experiências, aprecie novos destinos, sons e sabores. Faça novos amigos. Viva com menos medo, ansiedade e angústia e com mais diversão e prazer. Cada um à sua maneira, cada qual no seu quadrado. 

*Ivar Brandi é neurologista