Volta de Bom Jesus do Navegantes atrai fiéis clamando por vacina e pelo fim da pandemia

Tradicional celebração do dia 1º de janeiro foi marcada por carreata ao invés da procissão marítima

Publicado em 1 de janeiro de 2021 às 16:44

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia, localizada no Comércio, sediou nesta sexta-feira (1º) a tradicional festa de Bom Jesus dos Navegantes. Sob o comando do Cardeal Dom Sérgio da Rocha, diversos fiéis e devotos efetuaram seus pedidos de fé e proteção ante as imagens do Senhor Bom Jesus dos Navegantes e da Virgem Maria, que posteriormente seguiram em um carro do Corpo de Bombeiros por diversos lugares de Salvador.

Por conta da pandemia da covid-19, a celebração necessitou ser realizada sem a tradicional procissão marítima, em que a galeota Gratidão do Povo conduz a imagem do Bom Jesus ao redor da orla soteropolitana. Esta é apenas a quarta vez da história ao longo de mais de 200 anos que o ritual marítimo não foi realizado. Apesar da baixa, Dom Sérgio da Rocha ressalta que independentemente da forma, o que importa de verdade é o gesto de fé, de amor e de sacrifício. 

“Nossa maneira de louvar a Deus é cuidando da vida que ele nos deu. Não vamos pôr em risco a vida para louvar a Deus. Nós queremos glorificá-lo na igreja, na liturgia da igreja, e no dia a dia. Por isso que o gesto de fé, o gesto de amor, nos leva a estes sacrifícios. Mesmo sem se aproximar das outras pessoas, conseguimos expressar amor e fé, conservando a distância necessária como um outro gesto de amor. Seguimos unidos espiritualmente, e procuraremos manifestar esse amor pelo próximo, pela sociedade, da melhor forma possível”,  afirmou o arcebispo primaz do Brasil.  Dom Sérgio da Rocha (Arisson Marinho/CORREIO) Tradicionalmente entregue aos marinheiros para num momento posterior ser embarcada e conduzida pelos mares da Baía de Todos-os-Santos, a imagem de Cristo foi dirigida inicialmente a um caminhão aberto às margens da basílica. Neste momento, um grande número de devotos fizeram suas preces e seus pedidos em frente ao Bom Jesus dos Navegantes, num momento de bastante emoção que foi celebrado com rajadas de fogos de artifício. Em seguida, a festa tomou as ruas e atraiu diversos fiéis em seus automóveis, além de populares nas ruas da capital, até chegar na Igreja da Boa Viagem.

Fim da pandemia e fé Antes do início da procissão — que aconteceu através de carreata e passou por diversos bairros de Salvador, tanto da Cidade Alta quanto da Cidade Baixa — foi celebrada uma missa em homenagem ao Senhor Bom Jesus dos Navegantes. O ato ecumênico atraiu fiéis como o artista plástico Adilson Guedes, 54, que chamou atenção no local por vestir roupas semelhantes a um jaleco e portar uma escultura chamando a atenção com um pedido pelo início da vacinação contra o novo coronavírus. 

“Todo dia um é dia de pedir, e querer que as coisas sejam diferentes. 2020 foi um ano atípico, com muitas notícias ruins e com muitas vidas ceifadas pela pandemia. Eu vim pedir a cura do mundo, a saúde, e com certeza em 2021 vai ser iniciada uma nova era. A vacina contra a covid-19 já chegou no mundo, mas não chegou ainda no Brasil, então vim aqui pedir com muita fé que a vacina venha para o Brasil neste ano, para acabar com essa pandemia”, explicou o artista.  Adilson Guedes. (Tiago José Paiva/CORREIO) Figura carimbada na igreja da Nossa Senhora da Conceição da Praia, frequentando-a todos os domingos, sem falhar, a aposentada Sofia de Jesus também compareceu à celebração da Boa Viagem. Devota de Nossa Senhora, ela aproveitou a ocasião para fazer seus pedidos de fé para 2021, e como a maioria dos presentes, seu desejo principal é o fim da pandemia do coronavírus. “Assim que esse ano for embora, que ele leve com ele esse vírus. Também pedi para que todos os governantes e líderes se unam para combater essa pandemia”, conta Sofia. 

Integrante da irmandade da Conceição da Praia, dona Gildete Oliveira também esteve presente na missa, e além do fim da pandemia, também clamou pelo fim da violência urbana na cidade de Salvador. Apesar de ser integrante do grupo de risco da covid-19, dona Gildete ressalta que todos os protocolos estão sendo muito bem cumpridos durante a crise sanitária, e revelou seu desejo de poder encontrar novamente sua igreja cada vez mais cheia de fiéis. 

“Tá sendo tudo controlado, né? Para participar da missa, tem que ligar e avisar, estão medindo a temperatura antes que a gente entre na igreja, tem álcool em gel pra caramba. A gente fica tranquilo, até, mas eu espero de coração que Jesus nos abençoe e acabe com toda essa pandemia do coronavírus, pra encher de novo a igreja e que cada vez mais pessoas sejam abençoadas por Deus, por Cristo e por Maria. É isso que eu quero”, afirma dona Gildete. 

Apesar do não acontecimento da procissão marítima, o marinheiro Gabriel Oliveira não deixou de comparecer à festa, inclusive trajando seu uniforme militar, e ressaltou que apesar da importância do tradicionalismo das comemorações no mar, o que realmente importa é o simbolismo da ocasião, muita fé e gratidão, para que os próximos tempos permitem que o mundo retorne ao normal o mais breve possível. 

“2020 foi um ano difícil para todos nós. No entanto, acredito que 2021 nos trará bons tempos e bons mares para que possamos navegar ao longo deste ano com tranquilidade. Do jeito que começou, com essa bela celebração, podemos dizer que já foi um bom início. Tudo isso que está acontecendo prova o quanto somos frágeis, então temos que dar valor a todas as coisas. Mesmo sem a galeota, sem o mar, sem todas as coisas tradicionais, o que importa é o simbolismo, as pessoas que vieram aqui e aquelas que mesmo que não puderam, estiveram aqui em mente e oração”, concluiu o marinheiro. 

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