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Millena Marques
Estadão
Publicado em 16 de julho de 2025 às 10:19
Filiados do PT da Bahia solicitaram a impugnação da eleição interna do partido após identificarem mortos que votaram em duas cidades. Integrantes da chapa Partido Forte, derrotada na votação que consagrou Tássio Brito como presidente da sigla no estado, também denuncia outras fraudes que, segundo estimativa, representariam cerca de sete mil votos. >
Em Camaçari, na Grande Salvador, a chapa diz ter identificado cinco pessoas falecidas participaram do processo eleitoral. Já em Barro Preto, no sul da Bahia, pelo menos um morto votou. O diretório do PT na Bahia e a chapa Partido Forte não responderam aos contatos do Estadão. >
A reportagem teve acesso às listas de votação assinadas e ao certificado de óbito dos falecidos que votaram. O diretório do PT na Bahia decidiu anular os votos dos falecidos, mas aprovou a eleição nas duas cidades, enquanto a chapa Partido Forte pretende recorrer a nível nacional. >
Procurado, o PT da Bahia não respondeu ao questionamento da reportagem. Em nota pública, o PT de Camaçari diz que os erros aconteceram em razão de “rubricas grandes o suficiente que tomaram duas ou três linhas da lista”, refuta “qualquer narrativa opositora que tente macular o processo eleitoral” e que acionará o corpo jurídico para tomar providências cabíveis. >
Já Wagner diz que qualquer questionamento sobre o processo eleitoral “deve ser tratado diretamente com o diretório estadual”. >
A disputa interna no PT foi marcada por episódios de tensão, com denúncias de filiações em massa, acusações de golpe e até judicialização. Em 2017, o PT anulou votação em 30 cidades paulistas por suspeitas de fraudes, incluindo a contagem de votos de filiados já falecidos. >
“Essa direção estadual do PT que não tem autonomia dirigente, submissa a gabinetes, em detrimento a diversidade interna que é a marca do partido, aprovou eleições comprovadamente fraudulentas em diversas cidades, manchando a imagem do nosso partido e submetendo sua democracia interna a um vexame”, diz nota da chapa Partido Forte. >
A chapa Partido Forte, encabeçada por Jonas Paulo, faz parte da tendência predominante no PT: a Construindo um Novo Brasil (CNB). Em contraste ao resultado nos principais Estados, a CNB foi derrotada por Tássio Brito, da tendência Esquerda Popular Socialista (EPS), apadrinhado por Wagner. >
Tássio venceu com 73% dos votos na eleição do PT na Bahia, em que votaram cerca de 42 mil filiados. A chapa Partido Forte teve cerca de 20% dos votos. >
O resultado serviu para consagrar Wagner como a principal liderança do PT no Estado, afastando o grupo político do ministro da Casa Civil, Rui Costa, que optou por não apoiar outro candidato para evitar uma derrota política. >
“A mensagem que a atual direção estadual e a próxima, com essa maioria fantasmagórica, passam ao PT é clara: em eleições internas do partido, até mortos podem votar – e isso é considerado ‘normal’. O PED (Processo de Eleição Direta) 2025, na Bahia, virou uma gincana de vale-tudo eleitoral”, diz a nota interna do Partido Forte. >
A chapa denuncia um caso de um dos mortos eleitores como “revoltante” – o sindicalista Crispim Carvalho da Hora, morto em 2016, aparece como uma das pessoas que assinaram e registraram voto na eleição na cidade baiana. >
“Sua suposta participação como votante constitui não apenas uma fraude eleitoral, mas um desrespeito à sua memória e à dor de sua família e de vários outros companheiros e companheiras que como ele ajudaram a criar o PT e o movimento sindical no Estado”, dizem os integrantes da chapa Partido Forte no pedido de impugnação da eleição. >
Além dos mortos votantes em Camaçari e em Barro Preto, a chapa denuncia, entre outros casos, a existência de 91 páginas de votação duplicadas e falsificações em assinaturas na votação em Itabuna, no sul baiano. >
Como mostrou o Estadão, as eleições internas na Bahia têm sido marcadas pela judicialização. Na mesma Itabuna, a petista Nina Germano, candidata ao diretório municipal da sigla, entrou com uma ação contra o partido após ter sua candidatura anulada por inadimplência. >
Na quinta-feira, 3, a Justiça da Bahia concedeu uma decisão favorável à candidata, determinando a manutenção de seu nome na disputa e impondo multa diária de R$ 15 mil em caso de descumprimento. >
Em Feira de Santana, outro candidato à presidência municipal também acionou a Justiça pelo mesmo motivo, buscando garantir sua participação na eleição. >
Na Bahia, o PT cogita lançar uma chapa puro sangue, indicando dois senadores (Wagner e Rui), além do nome ao governo do Estado. Desde 2002 a sigla não perde uma eleição presidencial na Bahia e está invicta na disputa pelo governo do Estado desde 2006. >