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Maysa Polcri
Rodrigo Daniel Silva
Publicado em 22 de setembro de 2025 às 05:00
O governo Jerônimo Rodrigues (PT) bateu recorde de arrecadação de impostos em 2024. Apenas no ano passado, a receita estadual superou em quase R$ 7 bilhões o que estava previsto: eram esperados R$ 41,65 bilhões, mas o caixa fechou em R$ 48,90 bilhões. A tendência é que, em quatro anos, Jerônimo supere a arrecadação do segundo mandato de Rui Costa (PT). Se, por um lado, o reforço de caixa abre espaço para investimentos, por outro encarece a vida dos baianos, especialmente para as empresas que geram empregos e renda. >
No último mandato (2019-2022), Rui Costa - hoje ministro da Casa Civil - arrecadou R$ 137,96 bilhões. Já Jerônimo, sem completar três anos de gestão, acumula R$ 126,01 bilhões, segundo dados da Transparência Bahia, plataforma oficial que divulga informações sobre as finanças públicas.>
Para o consultor governamental Fernando Carlos Almeida, o aumento da carga tributária pesa diretamente no bolso das empresas e, por consequência, dos consumidores. “Olhando para o âmbito estadual, a majoração de tributos estaduais, a exemplo do ICMS, faz com que as empresas fiquem também em desvantagem competitiva no mercado interno frente a concorrentes de estados com regimes tributários mais favoráveis”, declarou ele.>
O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) é o principal tributo estadual do Brasil. Quando a pessoa compra um eletrônico, um item de supermercado ou até mesmo quando abastece o carro, o valor pago já inclui o ICMS.>
Na prática, a alta tributária também ajuda a explicar por que a Bahia segue mal colocada em rankings de competitividade. No levantamento do Centro de Liderança Pública (CLP), divulgado em agosto, o estado aparece em 22º lugar entre 27 unidades da federação, repetindo a posição do ano anterior. A nota foi de 33,1 pontos, distante do líder São Paulo, que atingiu 81 pontos.>
O presidente da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Carlos Henrique Passos, reforça que a elevação dos impostos limita o crescimento do setor produtivo.>
“Esse aumento da alíquota tributária tem efeitos que prejudicam as empresas na medida em que impõe um aumento no custo das empresas, nem todas conseguem repassar esses aumentos a seu preço de venda”, salientou ele.>
O economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Edval Landulfo, acrescenta que as pequenas e médias empresas são as mais afetadas. >
“Uma carga tributária elevada prejudica muito a competitividade das empresas. As pessoas que desejam, por algum motivo sair dos seus empregos e abrir um negócio, chegam a pagar uma carga tributária de 34% sobre o lucro. E isso coloca o Brasil como um dos países com maior tributação do mundo”, analisou Edval Landulfo. >
Especialistas atribuem o aumento da arrecadação à retomada do consumo e à inflação, que eleva os preços e, por tabela, os valores recolhidos em impostos. >
Mas também há elevação direta de alíquotas: em março, por exemplo, o governo da Bahia elevou de 17% para 20% o ICMS cobrado sobre compras internacionais.>
Na Assembleia Legislativa, a medida gerou críticas. O líder da oposição, Tiago Correia (PSDB), afirmou que o governo transformou a Secretaria da Fazenda em uma “máquina de arrecadar”.>
“Ano após ano, batem recorde de arrecadação. Mas poderiam, por exemplo, diminuir a alíquota do ICMS dos combustíveis, como sempre defendemos. Para onde está indo todo esse dinheiro?”, questionou.>
Em resposta, a Secretaria da Fazenda estadual informou que o crescimento da arrecadação acompanha a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. >
“Com a maior parte do seu território no semi-árido e uma população majoritariamente pobre, como resultado de um processo histórico que deixou os estados das regiões Norte e Nordeste por muito tempo à margem do crescimento econômico brasileiro, a Bahia ocupa o 18° lugar no país ao se calcular a receita tributária per capita, ou seja, quando o parâmetro é o volume de recursos oriundos de impostos dividido pela população do estado”, declarou. >
A Sefaz acrescentou que, mesmo nesse cenário, a Bahia continua competitiva, e citou como exemplo a atração da montadora BYD para Camaçari, na Região Metropolitana.>