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Rodrigo Daniel Silva
Publicado em 11 de outubro de 2025 às 05:00
Um fato inédito marcou a manhã desta sexta-feira (10) na sede da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). Pela primeira vez, os deputados estaduais da Casa se reuniram para decidir se mantinham ou não um colega preso - o parlamentar Binho Galinha (PRD). Acusado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) de chefiar uma organização criminosa no estado, ele está detido desde a sexta-feira (3) da semana passada. >
A sessão, que durou cerca de 1h20, foi conduzida pela presidente da Casa, Ivana Bastos (PSD). Segundo deputados, antes de a Alba ser oficialmente notificada sobre a prisão de Binho Galinha, Ivana vinha dizendo que pretendia dar ao parlamentar todas as chances para provar sua inocência. Ela abriu a sessão e concedeu a palavra ao advogado Gamil Föppel, um dos nomes mais renomados e valorizados da advocacia baiana.>
Gamil falou por aproximadamente 15 minutos. O advogado, que já havia se pronunciado na sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alba na quarta-feira (8), defendeu o foro por prerrogativa de função. Ele argumentou que membros do Judiciário e do Ministério Público possuem esse direito, mas que, quando se trata de agentes políticos, o instituto é “demonizado”.>
Binho Galinha
Durante a exposição, Gamil citou os nomes dos deputados presentes e declarou que a Constituição proíbe a prisão preventiva de parlamentares, salvo em caso de flagrante delito. Segundo ele, esse não seria o caso de Binho Galinha. O advogado também mencionou o ex-deputado federal Chiquinho Brazão, acusado de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), e afirmou que ele não foi preso em flagrante pelo crime, mas por tentativa de obstrução das investigações.>
Gamil acrescentou que Binho Galinha participou de duas audiências presenciais no fórum de Feira de Santana e deixou o local normalmente. “Aí eu pergunto. Se houvesse flagrância, ele teria saído pela porta da frente? Não se pode contorcer a técnica jurídica ao sabor dos ventos. Não se pode manipular conceitos técnicos ao sabor do evento”, afirmou.>
Após a fala da defesa, a presidente da Alba iniciou a votação. Um a um, os deputados depositaram seus votos em urna, em procedimento secreto. Encerrada a votação, os parlamentares Vitor Bonfim (PV), Sandro Régis (União Brasil) e Fabíola Mansur (PSB) foram designados para apurar os 53 votos registrados. Dez deputados não compareceram à sessão.>
Apesar de notas publicadas na imprensa antes da sessão indicarem que a maioria dos parlamentares votaria pela soltura de Binho Galinha - em razão do temor que o deputado despertava entre colegas, que o consideram perigoso - o plenário decidiu, por maioria expressiva, manter a prisão. Foram 34 votos pela permanência da detenção, 18 pela revogação e uma abstenção.>
Ao proclamar o resultado, a presidente Ivana Bastos determinou à Secretaria-Geral da Mesa a publicação da resolução do plenário e sua imediata comunicação ao Poder Judiciário. >
Gamil Föppel criticou o resultado. Em entrevista coletiva, classificou a decisão como um “precedente perigoso”. “Não foi uma análise técnica. Os votos não são sequer fundamentados. Então, vamos continuar trabalhando tecnicamente no processo diante de tantas inconsistências e ilegalidade”, declarou.>
Integrante da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT), Binho Galinha tem em Feira de Santana - segundo maior colégio eleitoral da Bahia - sua principal base política. No ano passado, ele e o governador fizeram campanha para o deputado federal Zé Neto (PT), que acabou derrotado.>
O parlamentar - que, segundo seu advogado, deveria estar preso em sala de Estado-Maior em Salvador, mas não está - é apontado pelos investigadores como miliciano e líder de um grupo envolvido em lavagem de dinheiro oriundo do jogo do bicho, agiotagem, extorsão e receptação qualificada, entre outros crimes.>
De acordo com a polícia, antes de se apresentar ao MP-BA, Binho Galinha chegou a ser considerado foragido, o que é negado por sua defesa. Atualmente, ele está custodiado em uma Sala de Estado-Maior localizada no Centro de Observação Penal (COP), no Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador.>
Antes de se entregar, o deputado gravou um vídeo segurando um terço, no qual negou as acusações. “Se eu fosse miliciano, extorquidor, agiota, e tivesse tomando as coisas dos outros, vocês acreditavam que eu teria essa quantidade de votos? Para um cara que saiu (para a campanha) faltando 45 dias (para a eleição). Não tenho histórico com política, não tenho parente político”, afirmou Binho Galinha, que recebeu 49.834 no pleito de 2022. Ele pediu orações aos seus eleitores.>