Bairro do Rio Vermelho se transforma em reduto de espaços de candidatos

O deputado federal Valmir Assunção abriu  comitê no Largo de Dinha, onde há também o do vereador Suíca(Foto: Almiro Lopes)Bairro conhecido por servir de rota para a boemia em Salvador, o Rio Vermelho acrescentou mais uma característica em ano eleitoral: virou também o reduto dos comitês de candidatos a deputado da capital baiana. Agora, à já tradicional paisagem humana composta por notívagos e baladeiros foi adicionado seguradores de bandeira, distribuidores de panfletos e santinhos, militantes encamisados. Todos dividindo espaço entre bares lotados e cavaletes com placas de políticos, num cenário que só retornará ao que era em outubro.  O CORREIO rodou o bairro e contabilizou 11 comitês, quase todos de candidatos de partidos com trajetória ligada à esquerda: PT, PCdoB e PSB. Os espaços não são pequenos nem decorados com simplicidade. Ou ainda situados em locais menos cobiçados do bairro. Pelo contrário. Em sua imensa maioria, dividem paredes com restaurantes caros, como L'Entrecôte de Paris, a nova boate Pink Elephant, onde era a antiga pizzaria Piola, ambos na Rua Conselheiro Pedro Luís, ou ainda no famoso Largo de Santana, ou da Dinha. Os candidatos que escolheram o Rio Vermelho investiram na decoração, no material e na mão de obra. Fazem mistérios quanto aos gastos, mas o aluguel de uma casa de dois pavimentos no Rio Vermelho pode superar os R$ 10 mil por mês. É o que o mercado imobiliário estima para o maior dos comitês do bairro, ocupado pelo deputado federal Valmir Assunção (PT), que tenta reeleição para a Câmara. Ligado ao Movimento Sem Terra (MST), Assunção escolheu bem o local do seu comitê: o espaço que antes era o bar Santa Maria, Pinta e Nina.A vista lateral do comitê é de frente para o mar. Das janelas frontais, pode-se ver o Largo de Santana, ponto turístico de alto movimento. Internamente, predomina o bom gosto na decoração. Claro, com o toque esquerdista de um ex-sem-terra. As paredes têm fotos de personagens revolucionários, como Che Guevara e Carlos Lamarca. A imagem da presidente Dilma Rousseff também tem espaço. Mas não a da versão repaginada e de laquê de hoje. A que enfeita o comitê foi tirada quando Dilma era presa política. Olívia Santana (PCdoB) montou espaço na antiga Igreja Bola de Neve (Foto: Almiro Lopes)O comitê de Valmir ainda tem um estúdio de fotografia. Nada grandioso, mas segundo a assessoria, está a serviço dos coligados de Valmir. É só passar pela primeira porta que se vê a montanha de faixas, santinhos e cartazes disponíveis para a entrega aos militantes. A estrutura é visivelmente grande, mas o quanto foi gasto é segredo. A preferência pelo bairro, diz a mesma assessoria, é porque ele tem a cara do candidato. “É um polo cultural que envolve pessoas de esquerda”, disse um membro da equipe de Valmir.

A mesma justificativa foi dada pela equipe de Olívia Santana (PCdoB). O comitê fica na Rua da Paciência, a mesma onde está instalado o da vereadora Fabíola Mansur (PSB), por sua vez, próximo ao do deputado federal Antonio Brito (PTB). O comitê de Olívia ocupa o espaço que abrigou um templo da Igreja Bola de Neve, o QG de Mário Kértesz (PMDB) na campanha pela prefeitura em 2012 e, mais recentemente, um bar. Por cerca de R$ 30 mil, agora serve à candidatura de Olívia a deputada estadual. Luís Alberto (PT) instalou seu QG na badalada Conselheiro Pedro Luís (Foto: Almiro Lopes)Voltando ao Largo da Dinha, a outra ponta é ocupada pelo comitê do vereador Luiz Carlos Suíca (PT), que começou a trajetória política no pobre bairro de Pernambués. O espaço, que foi uma casa de shows, tem três pavimentos. Um deles inteiramente climatizado. Tão bem montado quanto o de outro petista candidato à Assembleia, o deputado estadual Marcelino Galo. O espaço do parlamentar, decorado com grandes galos, vai de uma rua a outra. Da Conselheiro Pedro Luís até a  João Gomes, a mesma que vai descambar na subida da Cardeal da Silva, próximo ao comitê da vereadora Aladilce (PCdoB). Pertinho de Galo, estão instalados ainda os comitês do deputado federal Luiz Alberto (PT) e do ex-secretário de Reparação Elias Sampaio (PT). Fora o do de Raimundo Nonato Tavares, o Bobô, campeão pelo Bahia em 1988. Há ainda novatos na área, como o afilhado de Assunção, o candidato a deputado estadual Jacó de Jacobina (PT). Sertanejo montou um bem equipado comitê com decoração rústica em plena Rua João Gomes, perto do chique bar Padaria.Mouraria atrai pelo preço mais baixo do aluguel e alto fluxoAlém do Rio Vermelho, a Mouraria também entrou na  mira dos candidatos que tentam vaga na Assembleia  ou na Câmara dos Deputados Atualmente, o local abriga pelo menos quatro comitês. Dois deles foram montados pelo deputado federal Daniel Almeida e pelo deputado estadual Álvaro Gomes, ambos do PCdoB. De acordo com o diretor da imobiliária Ello Imóveis, José Azevedo, o bairro tem duas vantagens sobre o Rio Vermelho: o metro quadrado da Mouraria custa menos do que o do bairro boêmio e o fluxo de pedestres é maior. “O metro (quadrado) custa entre R$ 15 e R$ 70, enquanto no Rio Vermelho vai de R$ 25 a R$ 100”, compara. A fachada dos prédios da Mouraria também atrai os candidatos. Não basta ter um bom prédio e uma frente voltada para uma rua “escondida”. “Eles pensam em como vão se vender, em como vão colocar ali a sua placa com o número”, explica.