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Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2021 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
O Festival Virada Salvador 2022 não irá acontecer pelo segundo ano consecutivo, anunciou nesta segunda-feira (29), o prefeito Bruno Reis (DEM). A festa tradicional que marca a chegada do Ano Novo na capital – realizada pela última vez na virada de 2019 para 2020 - é promovida pela prefeitura e, antes da pandemia de covid-19, tinha uma ampla programação de cinco dias de shows e performances artísticas, no Centro de Convenções da Boca do Rio. O prefeito alegou que a nova variante do coronavírus, batizada de Ômicron e considerada preocupante pela Organização Mundial de Saúde (OMS) levou a administração municipal a reavaliar a realização da festa desse ano, optando pelo cancelamento.>
Bruno Reis afirmou que mesmo com o avanço da vacinação, o cenário de incertezas provocado neste momento pela covid-19 levou à conclusão de que não há como realizar o Festival Virada, evento que reúne mais de 250 mil pessoas por dia, com segurança sanitária para os cidadãos."No cenário de incertezas, de dúvidas, não há como realizar o festival virada esse ano, estamos a um mês da festa e chegamos ao limite dessa decisão. Como ela dependeria exclusivamente da prefeitura, a decisão está tomada. Nós não realizaremos a festa. Diante de tudo que estamos vendo, ainda não é o momento de colocarmos em risco tudo o que construímos até aqui", enfatizou o prefeito.Questionado sobre se haveria alguma programação para a virada de ano não passar em branco na capital, Reis informou que ainda avalia as possibilidades. Durante a virada de 2020 para 2021, mesmo não tendo o Festival Virada, houve uma queima de fogos em alguns pontos da cidade. Ainda não há confirmação se esse ano haverá de novo.>
“Ainda vou ver o que é possível fazer. Em relação ao evento, não dava para decidir com essa antecedência se não fosse com um mês, e hoje falta exatamente um mês. Outras ações podem ser ativadas mais próximas. Não é uma decisão fácil porque a gente sabe da importância para a economia da cidade, mas a gente sempre colocou a vida em primeiro lugar. O momento exige cautela e prudência. Vamos ver se é possível fazer alguma coisa e o que é possível fazer", acrescentou o prefeito, enfatizando que tudo será feito para evitar aglomerações na cidade. Secretário de cultura e turismo, Fábio Mota, prevê perdas de até 40% sem festival (Foto: Jeferson Peixoto/Secom) Economia afetada>
Apesar da preocupação com a saúde da população ser prioridade, o secretário municipal de cultura e turismo de Salvador, Fábio Mota, prevê que a receita turística da cidade reduzirá em 40% este ano por conta da não realização do réveillon público.>
No mínimo, a cidade deixará de arrecadar R$ 71,4 milhões, em comparação ao evento de 2020. O trade turístico também prevê queda na ocupação dos hotéis, que receberam, na última festa, mais de 155 mil pessoas, só entre 30 de dezembro e 3 de janeiro. >
De acordo com Fábio Mota, cerca de um terço da receita arrecadada na cidade durante o período do réveillon, advém do Festival Virada. “Setenta por cento da receita de nossa cidade vem do setor de serviços e 30% do turismo. O cancelamento [do réveillon] é muito ruim, porque deixa de circular milhões em nossa economia. Sem a festa, a gente perde muito”, disse. Para minimizar essa perda, o secretário acrescenta que os hotéis devem apostar em festas particulares. “Dentro do limite de três mil pessoas, os próprios hotéis da cidade podem montar suas festas, de forma organizada e seguindo os protocolos”, aconselhou. Palco do Festival Virada ainda não tinha começado a ser construído (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Viagem cancelada>
O biomédico Pedro Henrique Santiello, 25, é um dos que não vai mais passar a virada em Salvador. O esquema estava programado com os amigos, inclusive do sul e sudeste do país, para virem curtir os últimos dias do ano em terras soteropolitanas. “Nosso Festival Virada é um dos melhores réveillons do Brasil e já estava certo passar aqui, mas, com o cancelamento, acredito que novas medidas restritivas sejam aplicadas, então não vai ser mais tão interessante passar o réveillon em Salvador”, disse. Desde a época em que a festa era no Comércio, Pedro fazia questão de marcar presença todos os dias com amigos. >
O gerente comercial Natan Bittencourt, 31, viria de Santa Catarina para o Festival Virada 2022, pela primeira vez. Ele estava com passagem comprada desde o final de setembro. “Essa notícia me pegou de surpresa”, disse Bittencourt, que acompanha a taxa de vacinação e a retomada dos eventos na capital baiana.>
“Provavelmente, terei de pagar uma taxa alta para remarcar o voo, ou ter a sorte do mesmo ser cancelado e eu conseguir remarcar sem custos”, diz o gerente comercial, que ainda não entrou em contato com a companhia aérea. >
Ele estima que perderá R$ 6.500 mil com a passagem e hospedagem. “Estando a pouco mais de 30 dias do Réveillon e, com os altos custos para programar algo em tão pouco tempo, creio que ficarei em Florianópolis onde os eventos irão se manter [na verdade, a prefeitura da capital catarinense anunciou que manterá a queima de fogos, mas não haverá shows, leia abaixo], já que estamos com o esquema vacinal muito avançado. Mas não programei nenhum evento, porque estava contando com essa viagem. Terei de replanejar todo o roteiro de final de ano”, lamentou Natan, que já tomou as duas doses contra o coronavírus e a de reforço. Secretário estadual de turismo, Bacelar crê que cancelamento do festival não afetará turismo no verão (Foto: Ascom/Setur-BA) Perda de hóspedes>
A taxa de ocupação hoteleira, que está em 70%, deve cair com o cancelamento do Festival Virada, segundo Silvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Turismo e Hospitalidade do Estado da Bahia (Fetur). “O turismo é uma das áreas mais sensíveis e qualquer modificação faz com que o visitante vá para outro local.>
As festas do Rio e São Paulo não foram canceladas [as prefeituras das duas cidades condicionaram o evento ao comportamento da pandemia, veja abaixo] e isso faz com que eles não programem a agenda para cá. Então vai afetar, com certeza, as reservas de final de ano”, avalia Pessoa. Nem ele nem outros integrantes do trade turístico de Salvador souberam estimar o tamanho da queda, pois isso deve ser avaliado nos próximos dias. >
Para Pessoa, o cancelamento foi um banho de água fria. “Em um momento que estávamos voltando para a normalidade, isso é uma péssima notícia para Salvador, onde o turismo representa 25% do PIB [Produto Interno Bruto] e movimenta mais de 50 setores”, opina. >
Segundo ele, é preciso investir em campanhas de marketing para voltar a atrair esses visitantes. “A vacinação é muito importante e precisamos mostrar para os turistas que Salvador é uma cidade extremamente cuidadosa com a população”, orienta.>
O presidente da Salvador Destination, Roberto Duran, por sua vez, não vê a suspensão do festival como desestimulante para o turista. “A Festa de Réveillon não foi cancelada em nada. O que foi cancelado foi o Festival Virada Salvador. Todos os clubes e locais que possam receber até três mil pessoas [um novo decreto ampliou a capacidade em eventos para 5 mil pessoas] vão continuar fazendo o seu réveillon”, analisa. >
Verão ainda promissor>
Roberto Duran acredita que o foco de quem vem a Salvador para o 31 de dezembro são outros atrativos da cidade, como a cultura, gastronomia e história. “Não acredito que quem venha para Salvador no final de ano venha exclusivamente para o Festival Virada e sim pelo contexto. Hoje, Salvador tem uma gama enorme de atrativos e uma demanda reprimida por esses dois anos. Teremos um verão promissor”, completa Roberto Duran. >
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado da Bahia (ABIH-BA), Luciano Lopes, segue o mesmo pensamento: “Acreditamos que a cidade de Salvador continua sendo muito procurada. Sem o réveillon, reduz um pouco a taxa de ocupação, mas vamos esperar os 25 dias pela frente para intensificar a comercialização dos pacotes”, afirma. >
O secretário estadual do Turismo, Maurício Bacelar, acredita que não haverá grande abalo no turismo. "O cancelamento do evento não vai impedir que o fluxo de turistas continue crescendo na cidade, já que ela oferece uma grande variedade de opções, como o turismo de sol e praia, cultural, histórico, gastronômico, esportivo, religioso e náutico. Prova disso é que a ocupação hoteleira na capital já tem registrado, em feriados prolongados, índices semelhantes ao período anterior à pandemia”, comenta Bacelar. >
O secretário ainda cita algumas ações do governo do estado para promover o destino Bahia. “Temos captado grandes eventos para impulsionar o turismo de negócios, que gera públicos expressivos. Salvador integra a zona turística Baía de Todos os Santos, onde estamos investindo R$ 70 milhões de dólares em obras estruturantes e de impacto cultural, que estão praticamente prontas, além de ações socioambientais. Os turistas têm inúmeros motivos para visitar a nossa terra".>
Voos>
A reportagem procurou a Gol Linhas Aéreas, a Latam Brasil e a Azul para saber se algum voo chegou a ser cancelado para Salvador no fim de ano. A Latam disse não poder informar se algum cliente cancelou a passagem e garantiu que não houve cancelamentos de voos por parte da companhia. >
Já a Azul afirmou não ter previsões de corte na malha aérea. “Destinos baianos, como Salvador, são muito procurados por turistas, sobretudo nessa época de alta temporada de verão. Mesmo com o cancelamento da festa, a Azul acredita que os viajantes manterão seus planos para aproveitar a virada do ano em solo baiano”, informou, por meio de nota. A Gol não respondeu à matéria até o fechamento. >
Prefeito e ministro da Saúde comentam o Carnaval 2022>
O impasse sobre a realização do Carnaval 2022 de Salvador só será definido após conversa de Bruno Reis com o governador Rui Costa (PT). Nesta segunda-feira (29), o prefeito afirmou que a decisão depende dessa audiência, que ainda não tem data para acontecer.>
"O governador disse que me procuraria, e eu disse que procuraria por ele, e eu já fiz isso. Eu espero ter oportunidade para a gente conversar e tomar a decisão em conjunto, que será tomada com toda a cautela e segurança, diante de tudo que está acontecendo", disse Bruno. >
O prefeito também falou que a chegada da nova variante Ômicron vai pesar nas decisões daqui para a frente. "Vamos ver o que os estudos vão falar sobre essa variante para a gente ter uma margem de segurança". >
Durante um evento no Hospital Martagão Gesteira, no Tororó, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi questionado se concordava com a realização do carnaval. Ele desconversou e disse que o evento é uma responsabilidade dos governos locais. O gestor também descartou a possibilidade de reduzir o intervalo entre a segunda dose e a dose de reforço das vacinas, que atualmente é de cinco meses. >
"Antes do carnaval, vamos ter o Natal e o Réveillon, mas essa não é uma pauta do Ministério da Saúde, até porque quem define essas questões são os prefeitos, eles é que estão em contato com a população e conhecem a questão epidemiológica própria de seus municípios. Esse é um momento de vigilância, de observar o que vai acontecer em função dessa nova variante", disse Queiroga.>
O prefeito de Salvador ressaltou que a capital e a Bahia foram referências para o país durante a pandemia. "Colocamos sempre a vida em primeiro lugar, fizemos um esforço grande para chegarmos até aqui, tanto Salvador, quanto a Bahia. A cidade serviu de referência com uma série de medidas que foram copiadas Brasil afora, seja de isolamento, seja de flexibilização e as estratégias que montamos para avançar na vacinação", pontuou.>
A secretária estadual de Saúde, Tereza Paim, afirmou que foi acertada a decisão de cancelar o Festival Virada, diante do cenário atual da pandemia. "Acho importante que os gestores, os responsáveis pela saúde, cuidem das pessoas".>
Pelo menos mais cinco capitais cancelaram festejos>
Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB) e Palmas (TO) são as outras cinco capitais que anunciaram o cancelamento das festas, eventos e shows do Réveillon 2022 por conta da pandemia e da possibilidade da nova onda da doença afetar o Brasil com a variante ômicron. As informações são do site G1.>
Ainda segundo o site, a prefeitura de Belo Horizonte não tem planos para comemorações públicas da virada para 2022. O Comitê de Enfrentamento à Covid-19 da cidade divulgou, em 23 de novembro, nota técnica desaconselhando a realização de eventos de fim de ano.>
O documento assinado pelos infectologistas Carlos Starling, Estevão Urbano e Unaí Tupinambás, lista os motivos para que a prefeitura da capital mineira não patrocine festas e que a população não participe de grandes aglomerações.>
Em Fortaleza, o prefeito José Nogueira (PDT) descartou a possibilidade de festa pública na capital cearense. Tradicionalmente, a virada acontece no Aterro da Praia de Iracema, mas pelo segundo ano consecutivo, por conta da pandemia, o festejo não ocorrerá. O governador do Ceará, Camilo Santana, também já anunciou que os grandes eventos de réveillon estão proibidos em todo o estado.>
João Pessoa planejava festas na orla, mas o prefeito Cícero Lucena anunciou nesta segunda-feira (29) que não haverá evento de Réveillon na capital paraibana. Ainda segundo ele, as praias serão liberadas para livre circulação de pessoas e reuniões particulares. E as festas em bares e casas de shows podem acontecer, desde que respeitem os protocolos de prevenção à covid-19.>
A prefeitura de Palmas, no Tocantins, também anunciou na noite desta segunda que não haverá programação para o Réveillon 2022. A queima de fogos que marca a virada na cidade não será realizada pelo segundo ano consecutivo. >
Florianópolis, por sua vez, terá queima de fogos, mas sem os shows da virada para evitar aglomerações e a disseminação do coronavírus. A mudança de planos para o Réveillon da capital catarinense foi anunciada nesta segunda (29).>
A cidade de Marabá, no Pará, foi outra que cancelou as festas públicas. Enquanto isso, São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) planejam a realização dos réveillons. As duas capitais do sudeste, porém, afirmam que os eventos estão condicionados ao quadro epidemiológico.>