Cenas de Carnaval: Luiz Caldas

O criador da axé music e o senso crítico ao Carnaval

  • D
  • Da Redação

Publicado em 26 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Silfredo Freitas/Arquivo Correio

Jornalista é acostumado a falar com artista, e vice-versa. Mas poucas conversas são tão satisfatórias, nesse meio, quanto ouvir Luiz Caldas falar. Aqui não se trata de voz, mas de conteúdo. De história e de visão ampla e crítica.

O Luiz de 1987, da foto aí acima, com a banda Acordes Verdes, não é visto com tanta saudade assim pelo Luiz atual. Há 32 anos, ele estava no topo das paradas, usando até uma expressão da época. Pouco menos de dois anos antes, havia estourado no país, com seu fricote. Assim, não é exagero dizer que Luiz era o maior nome daquele Carnaval.

“Não sou muito saudosista. Procuro sempre criar situações para que eu me sinta confortável”, conta. “Mas a diversidade musical era maior. Eram muitos artistas, cada um fazendo seu estilo, a seu gosto. Não é como hoje, que um faz algo e dez imitam. Isso é algo que pode ser que eu tenha um pouco de saudade, de nostalgia, mas não dá pra deixar as coisas pararem”. 

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Hoje, passadas mais de três décadas desde que inventou a - posteriormente - chamada axé music, Luiz vê a imagem registrada por Silfredo Freitas com um certo orgulho. “Me vejo plantando tudo isso que as pessoas colheram. Então, é um momento de plantação”, diz o artista, na pausa das gravações de um novo vídeo.

No entanto, com o tempo, o lado comercial da música baiana aflorou de uma forma que, inclusive, a sufocou. “Foram 10 anos de Camaleão (lembrando do bloco que puxava em 87). Foi um momento muito maravilhoso, o melhor possível. Os blocos viviam mais de diversão do que fazer grana. Aí virou comércio e perdi um pouco tesão com bloco”, afirma, numa crítica que pode ser usada como metáfora para toda a decadência - financeira e criativa - da axé music. Bote fé: Luiz Caldas tem muito mais a dizer e ensinar do que só ‘tititi’.

*Cenas de Carnaval é um oferecimento do Bradesco, com patrocínio do Hapvida e apoio de Claro, Fieb, Salvador Shopping, Vinci Airports e Unijorge.