Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Vítima passou por uma cirurgia e teve quatro suturas – três na cabeça e uma no rosto
Bruno Wendel
Publicado em 13 de abril de 2018 às 14:20
- Atualizado há um ano
Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO Uma simples recusa e a resposta veio em forma de cortes no rosto e golpes de barra de ferro na cabeça. Este foi o pagamento que o bombeiro civil Heider Souza de Almeida, 32 anos, diz ter recebido logo após uma confusão por ter negado dar os “10% do serviço” à garçonete de um restaurante no bairro de Itapuã, em Salvador, na noite desta quinta-feira (12). Depois de ter sido supostamente atacado por duas pessoas, uma delas a garçonete, Heider ainda diz que teve seus pertences levados por quem o agrediu.
Heider foi socorrido ao Hospital do Aeroporto, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Ele passou por uma cirurgia e teve quatro suturas – três na cabeça e uma no lado esquerdo do rosto. O bombeiro civil teve alta na tarde desta sexta-feira (13) e já registrou ocorrência na 12ª Delegacia (Itapuã). Ele disse que um dos agressores "tem o cabelo trançado e é moreno".
O garçom, a quem Heider se referia, na verdade é uma garçonete de prenome Letícia, de acordo com o delegado Antonio Carlos Santos, titular da 12ª Delegacia. "Ela alegou que foi agredida por ele (Heider) no ponto de ônibus da Avenida Dorival Caymmi (depois de atendê-lo no bar). Ela teria pegado um pedaço de piso e enfiado na cara dele", contou o delegado, no início da noite desta sexta.
O delegado comentou que Letícia talvez tenha sido confundida com um garçom por causa das roupas. Santos confirmou que ela também registrou queixa contra o cliente e, por conta das alegações das partes, ambos devem responder por lesão corporal. A reportagem não conseguiu falar com Letícia.
Pós-saideira Por telefone, na manhã desta sexta, o bombeiro civil contou ao CORREIO sua versão do ocorrido. Segundo afirma, ele e mais dois amigos tinham acabado de beber em outro lugar e resolveram tomar a “saideira” por volta das 18h em um dos bares instalado nos quiosques construídos em frente à 12ª Delegacia, na Rua Aristides Milton.
“Após pegar a conta, paguei minha parte no débito e meus amigos no cartão, mas ele (garçonete) queria porque queria que a gente pagasse os 10%, mas a gente não quis porque o atendimento dele não foi bom”, contou Heider. Segundo o cliente, o bar não estava cheio. “Além de nós, outras cinco pessoas bebiam também”, disse.
Confusão Diante da recusa, a garçonete teria feito ameaças. “Ele (Letícia) pegou algo atrás do balcão e caminhou na minha direção, dizendo que eu ia pagar por bem ou por mal. Quando encostou em mim, que percebi que segurava algo, deu não pra ver o que era, me senti ameaçado e o imobilizei com uma gravata”, contou Heider. Os dois caíram no chão e logo em seguida foram separados por outras pessoas.
Com o fim da confusão, o bombeiro civil conta que saiu do bar com os dois colegas. “Meus amigos foram embora de carro, inclusive um deles ficou ferido na mão na hora de desapartar a briga e eu fui embora para casa andando, já que moro em Itapuã”, relatou.
Ataque Heider disse que após dar uns dez passos, percebeu que alguém o seguia e, ao olhar para trás, recebeu o primeiro golpe no rosto. “Não sei o que ele (garçonete) usou para me cortar, mas o reconheci pelo cabelo trançando. Meu rosto ficou lavado de sangue e caí mais à frente”, relatou.
O bombeiro civil disse que correu, mas que uma segunda pessoa lhe aplicou um golpe com uma barra de ferro na cabeça. Isso o fez cair novamente. “Era uma outra pessoa, um rapaz branco. Levantei, mas fui ao chão depois de um outro golpe. Corri outra vez e alguém gritava: ‘não corra, não corre’ e fui agredido novamente com a barra de ferro”, alegou.
Caído, Heider conta que viu quando os agressores pegavam seus pertences: celular, cartões de crédito e R$ 120. “Foi quando consegui fugir e pedir ajudar”, declarou.
Em contato com o CORREIO, o proprietário do bar citado por Heider negou que a confusão tenha começado nas dependências do estabelecimento. Ele também informou que tem o controle do que acontece na casa, e que nenhum funcionário ou funcionária se envolveu em confusão ou cobrou de maneira indevida a gorjeta.
Reprovação O Sindicato dos Empregados em Hotéis Bares e Similares reprova a atitude citada pelo cliente. “É o cúmulo do absurdo. O cliente não é obrigado a pagar os 10%, o que hoje é chamado de gorjeta, por conta da Lei da Gorjeta, sancionada no ano passado”, declarou Almir Pereira da Silva, presidente da entidade.
A lei 13.419, conhecida como Lei da Gorjeta, define que a quantia extra é dada de forma espontânea pelo cliente ao empregado e também aquilo que a empresa cobra, como serviço ou adicional, para ser destinado aos empregados. Ou seja: a lei não torna obrigatória o pagamento da gorjeta, que continua sendo opcional.
Denúncia “O que acontece é que ainda alguns estabelecimentos impõem a gorjeta como salário do empregado, quando na verdade deveria ser à parte e não a única forma de pagamento”, disse Almir. Segundo ele, o piso salarial de um garçom em Salvador varia entre R$ 970 e R$ 1.040.
Almir disse também que fará uma reclamação ao Ministério do Trabalho Emprego (MTE). “Vamos solicitar que um fiscal vá ao estabelecimento onde ocorreu toda a confusão. É preciso saber se passou por uma seleção, se tem antecedentes criminais, se tem experiência ou se entrou pela janela, pois a atitude mancha a categoria. Nada justifica uma agressão dessa”, finalizou.
Em nota, a Polícia Militar informou que não foi acionada para a acorrência.