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Conheça o artista visual que retrata as cores da ancestralidade e da periferia em Salvador 

Para Max Fonseca, sua obra é baseada na vivência na cidade

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 29 de março de 2023 às 16:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Max Fonseca/Divulgação
. por Foto: Max Fonseca/Divulgação

Os dois garotos subiram no ônibus na Avenida Suburbana. Entraram, seguiram e esperaram até o destino em que deveriam desembarcar. Imediatamente, porém, provocaram uma reação nos outros presentes diferente da chegada de qualquer outro passageiro. "Eles entram vestidos de um determinado modo, com o cabelo de determinado modo, e aquela estética ativa um sentimento nas pessoas que é muito potente", lembra o artista visual e fotógrafo Max Fonseca, 32 anos. 

Sem abrir a boca, os dois jovens comunicavam. Os gestos, o olhar, o jeito de se mover ou apenas a presença - tudo já dizia muito. "São signos que são lidos socialmente como a estética do periculoso em Salvador. Tem uma leitura muito racista", diz ele, que considera que aquela experiência foi um marco em sua trajetória profissional. Foi ali que teve a inspiração para uma das principais séries de seu trabalho e que viria a ser batizada, anos depois de A Sobrevivência dos Vagalumes. A série chegou a ser indicada ao Prêmio Pierre Verger, em 2019. 

Clique aqui e veja todas as matérias do especial Salvacor474anos A série batizada de A Sobrevivência dos Vagalumes foi indicada ao Prêmio Pierre Verger (Foto: Max Fonseca/Divulgação) Nascido e criado em Cajazeiras 11, Max aprendeu a fotografar na faculdade de jornalismo. Desde o começo, tinha foco em contar histórias sobre ancestralidade, por ser um homem de candomblé, e sobre a periferia em geral."Era o universo que me impactava e com o qual eu dialogava". Há quatro anos, ele vive na ponte aérea entre Salvador e a Suíça, onde fez uma graduação e um mestrado em design. Com isso, hoje também experimenta outras linguagens, além da fotografia, da ilustração, da pintura e do grafite. 

O episódio do ônibus aconteceu em 2015, logo que voltou a Salvador depois de dois anos morando em Luanda, em Angola. Naquela época, estava concentrado em produzir arte sobre ancestralidade e africanidade em geral. "Luanda é uma cidade parecida com Salvador em diversos aspectos. Quando voltei, comecei a trabalhar na série sobre os palosos nos ônibus de Salvador. Ela virou a série dos vagalumes, mas nasceu como a série dos palosos", diz. Paloso, em muitos círculos da cidade, remete a um visual conhecido por bonés e roupas de marcas que se destacam.  Hoje, Max vive entre Salvador e a Suíça, onde fez um mestrado em design (Foto: Max Fonseca/Divulgação) Por quatro anos, Max fotografou um grupo de meninos jovens em diferentes situações. A inspiração veio de obras de George Didi-Huberman, que escreveu Sobrevivência dos Vagalumes para refletir sobre a obra de Pier Paolo Pasolini, e do geógrafo baiano Milton Santos. Pasolini escreveu um artigo que ficou conhecido por falar sobre a morte dos vagalumes, enquanto figuras que resistiam ao fascismo. "Pasolini dizia que os vagalumes são luzes menores, mais resistentes, que precisam das zonas opacas. Daí, entra o conceito de Milton Santos de zonas opacas e zonas luminosas. A ideia era trabalhar as zonas opacas com essas pessoas que brilham, que se acendem no meio da noite", conta Max.Em sua obra, Milton Santos definiu os espaços luminosos como aqueles que são densamente servidos pela tecnologia, pelas telecomunicações, pelos transportes e pela infraestrutura urbana. São, de forma simplificada, as áreas ocupadas pela população mais rica. Enquanto isso, as zonas opacas são os locais onde há vazios nesses aspectos - onde as políticas públicas e os serviços não alcançam os moradores. 

Através da arte, Max tentou retratar uma realidade mal vista e estigmatizada de forma poética. "Essa estética coloca muitos meninos jovens, da periferia, numa situação onde, pela primeira vez, experimentam a potência. É um sentimento muito poderoso para uma criança da periferia sem acesso a muitas coisas. É uma pessoa que normalmente tem uma autoestima frágil e, quando veste essa armadura do paloso, se sente forte", acrescenta. 

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As fotos chegaram a ficar em exposição por mais de um mês no Palacete das Artes, na Graça, em 2019. Na estreia, os meninos fotografados - um grupo de pouco menos de dez - estavam presentes. Foi a primeira vez que a maioria entrou em um museu. Todos eram do círculo de amigos e vizinhos de Max. "Eu vivo muito o meu bairro e a série foi toda construída comunitariamente. Essa série tem muito dos meninos porque eu trocava ideia, mostrava as fotos".

Atualmente, ele prepara uma série inédita sobre a espiritualidade e o caminho que o orixá dá para a vida de cada um. Nesse especial, tem usado competências que desenvolveu no mestrado, como a mistura da fotografia com inteligência artificial.  A vivência em Salvador influenciou o trabalho do artista (Foto: Max Fonseca/Divulgação) Para Max, toda a sua obra é baseada em sua vivência em Salvador, que influenciou e moldou a forma como vê o mundo. Em sua arte, a cidade tem cores específicas - marrom, preto e branco. "É a cor da terra, da nossa pele, da verdade", enumera. "Salvador é o que tem de mais precioso no meu trabalho. Não sou um artista brasileiro. Sou um artista baiano de Salvador. Isso faz parte da minha identidade de como ver o mundo". 

Este conteúdo especial em homenagem ao Aniversário de Salvador integra o projeto Salvador de Todas as Cores, realizado pelo Jornal Correio, com patrocínio da Suzano, Wilson Sons, apoio institucional da Prefeitura de Salvador e apoio da Universidade Salvador - Unifacs.