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Contorno: mudança do Trapiche em residencial de luxo marca nova fase

Local se consolida como centro de investimentos para quem paga caro por uma bela vista

  • D
  • Da Redação

Publicado em 15 de outubro de 2009 às 09:02

 - Atualizado há 2 anos

O enorme arranha-céu construído na ponta da via suspensa é talvez o sinal mais marcante de que o dinheiro descobriu, enfim, o que muitos consideram o mais belo mirante da baía. A Mansão dos Cardeais, e todo o seu esplendor, mostra para quem quiser ver, até mesmo a quilômetros dali, que os ricos voltaram os olhos para a Avenida Contorno. Mas o edifício não é a primeira, e muito menos a única, construção de luxo a mudar a paisagem da região. Um novo marco está pra ser erguido às margens da avenida que, até no nome, contorna a Baía de Todos os Santos. Trata- se da Mansão Adelaide. Esse nome lembra alguma coisa? Pois é. Como o CORREIO divulgou na quarta-feira (14) em primeira mão, na coluna Vip, o Trapiche Adelaide vai virar empreendimento residencial. Pertencente aos sócios Armando Correia Ribeiro e José Carlos da Costa Gomes, o edifício deve começar a ser construído no final de 2010.

No próximo sábado, o restaurante, que leva o nome do espaço, será fechado. O Bar da Ponta, que funciona ao lado, passará a desempenhar as atividades de restaurante. Os proprietários não dão detalhes sobre o novo empreendimento. Mas, fala-se em apenas 20 apartamentos “debruçados sobre o mar plácido da Baía de Todos os Santos”, descreveu a colunista Telma Alvarenga, do CORREIO. Cada apartamento teria entre 306 m² e 741 m².

No momento em que o capital, inclusive o estrangeiro, se volta para a baía, nada mais justo do que destacar que o Trapiche Adelaide foi pioneiro entre os empreendimentos de requinte na região. Desde 1997, o local é centro de gastronomia, galerias de arte e escritórios com assinaturas reconhecidas. O imóvel sempre pertenceu aos Correia Ribeiro. “Há mais de cem anos, nos séculos XIX e XX, funcionou como armazém. Nas décadas de 50 e 60 virou marina”, conta o empresário José Carlos Gomes, que considera natural a transformação do local num prédio.

O Trapiche foi o primeiro a ver a Contorno com outros olhos. Mas, depois vieram empreendimentos como o Bahia Marina, o Porto Trapiche e o Restaurante Amado. Isso na Gamboa de Baixo. Na de Cima, foram abertos o pomposo Chez Bernard e a casa de shows Bahia Café. Tudo entrosado à paisagem da velha Salvador.

A chegada de hotéis, restaurantes e prédios de luxo fez nascer um novo olhar sobre aquele pedaço da baía. Os moradores antigos, por enquanto, só observam. Como se sabe, há invasões nas partes de cima e de baixo da avenida. Há também endinheirados, que antecederam os grandes empreendimentos e construíram suas casas com vista privilegiada. A população, rica ou pobre, parece apoiar as novas construções. “Contanto que não tire a gente, nossa casa fica valorizada”, diz o servente Adalberto Pereira dos Santos, morador da Gamboa de Baixo.

Foco em empreendimentos de luxo O setor imobiliário também vem apreciando com carinho a vista da Avenida Contorno para a Baía de Todos os Santos. É tanto que há, na prancheta, três empreendimentos de luxo, entre a parte alta da avenida e a Praça Cayru. Juntos, vão consumir R$ 135 milhões em investimentos. São eles os Hotel Hilton (R$60 mi) e Txai Salvador (R$20 mi) e o Cloc Marina Residence (R$55 mi). Serão mais de 250 apartamentos, entre residenciais e hoteleiros, além da restauração de sete casarões antigos.

A Bahia Marina também tem projeto para receber um hotel de luxo com 80 apartamentos. O empreendimento já foi aprovado pela prefeitura e ocupará o espaço do restaurante Oui (que será transferido para o outro lado). Há a previsão ainda de construção de lojas de artigos náuticos. “Acreditamos que a área tem um grande potencial, devido à localização próxima aos atrativos turísticos, como o Pelourinho e o Mercado Modelo, além da Bahia Marina. Essa região tem vocação para se tornar uma das áreas mais nobres de Salvador”, justificou, em entrevista concedida em junho ao CORREIO, José Romeu Ferraz Neto, copresidente da Invest Tur, empresa responsável pelo Txai Salvador. O hotel terá 39 quartos, construídos após a restauração de dois casarões dos séculos XVIII e XIX. “Sempre iniciamos a concepção dos projetos com pesquisa histórica”, explicou, à época do lançamento, a arquiteta Kiki Meirelles, responsável pelo projeto do Cloc e também da parte residencial do Txai, esta ainda sem data para lançamento.

Já o Cloc vai restaurar o casarão que, nos anos 70, abrigou a Boate Cloc, badalado point da burguesia baiana. Serão quatro edifícios, com 133 unidades, além de um café e restaurante instalados em um casarão aberto ao público.

O Hotel Hilton vai usar seis casarões no Comércio, que serão restaurados e servirão às instalações do hotel. O início das obras foi suspenso, em maio, pela Justiça Federal, após ação do Ministério Público, que alega que a altura da torre (13 andares) e a construção de passarelas prejudicam a visão de monumentos no entorno, além de descaracterizar a separação entre as cidades alta e baixa. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) autorizou a obra.

‘É preciso manter população local’ Da janela do arquiteto Luiz Humberto Carvalho dá pra ver o passado, o presente e o futuro. O passado está no Solar do Unhão, no Museu de Arte Moderna e no Forte de São Marcelo. O presente, na Mansão dos Cardeais e nas luxuosas lanchas que se espremem na Bahia Marina, bem defronte a sua residência. O futuro, ele enxerga nos espaços onde é possível construir sem prejudicar o que já está ali.

“Acho que esse processo é irreversível. Mas só teremos um futuro tranquilo se o poder público não esquecer de revitalizar as áreas que estão desgastadas. É preciso manter a população local”, diz. Humberto Carvalho mora debruçado sobre a Baía de Todos os Santos há dez anos. Construiu a sua residência pensando na baía. “Aqui até o quarto da empregada temvista para o mar. Senão, não faz sentido”, explica.

O arquiteto apoia os novos empreendimentos, mas, ao mesmo tempo, chama a atenção para o que está decadente. “Algumas ruas da Gamboa de Cima estão literalmente caindo. Casarões tombados pela Unesco viraram ruínas. Se não conservarmos o que nós já temos, não adianta construir residências luxuosas. O segredo é o equilíbrio”.

‘Seria uma pena perder o Trapiche’ O badalado chef francês Claude Troisgros, dono do restaurante Olympe e do Bistrô 66, ambos no Rio de Janeiro, se juntou à turma de “trapicheiros”, grupo que torce para que o Trapiche Adelaide volte logo, em novo endereço. Como chef consultor, Troisgros assinou o menu da casa baiana por três anos. Atualmente, apresenta o programa Menu confiança, no GNT, ao lado da sommelier Deise Novakoski

Quando você foi ‘chef’ consultor do Trapiche? Por quanto tempo? Atuei no restaurante durante três anos, de 2001 a 2003.

Quando vem a Salvador, você costuma frequentar o Trapiche? Qual é o maior diferencial da casa, o que fez comque o Trapiche se tornasse referência na gastronomia de Salvador? Sim, costumo frequentar o Trapiche. É um restaurante que faz a diferenca pela decoração - é um dos mais bonitos do Brasil, pelo investimento feito pelo Jose Carlos Gomes e pela vinda e a consultoria de chefs renomados, fazendo da gastronomia do Trapiche uma das melhores mesas do país.

Você faz parte do time de “trapicheiros”, que torce para que o restaurante volte em outro endereço? Claro que sim. Seria uma pena não ter mais o Trapiche como marca gastronômica de Salvador.

Diógenes Rebouças: o arquiteto das paisagens “O que Diógenes Rebouças não conseguiu salvar com a sua ação, salvou com os seus pincéis”, disse certa vez o historiador Cid Teixeira. Para além da veia artística patente nas telas a óleo, o arquiteto Diógenes Rebouças deixou claro em suas construções o privilégio à paisagem.

A Contorno, projetada por Rebouças nos anos 60, é como o Estádio da Fonte Nova. Ambos se abrem para a natureza exuberante. A primeira revela as belezas da Baía de Todos os Santos. A segunda mostra o Dique do Tororó durante as partidas de futebol. O arquiteto também criou a Avenida Centenário, que depois se conectou à própria Contorno.

Ao projetar algumas das principais construções de Salvador, Diógenes Rebouças não precisou demolir o que estava no caminho de sua obra. Morto em 1995, não passou por cima da natureza e das construções antigas. A suspensão da Avenida Contorno poupou, por exemplo, o Solar do Unhão.

(Notícia publicada na edição impressa do dia 15/10/2009 do CORREIO)