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Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2018 às 11:30
- Atualizado há 2 anos
Depois de ser velado no Palácio do Rio Branco, o corpo do construtor de trios elétricos Orlando Tapajós foi levado em cortejo circuito do Campo Grande na manhã desta segunda-feira (18). O corpo foi levado em um caminhão do Corpo de Bombeiros seguido por três trios elétricos. >
“Aprendi muita coisa com meu pai, com as pessoas que passaram pela vida de meu pai. Os artistas, até aqueles que não passaram por ele, sempre tiveram referência em meu pai”, declarou o filho mais velho do carnavalesco, Orlandinho Tapajós, que acompanhou o corpo do pai no carro dos bombeiros.>
Em um dos momentos mais emocionantes, Armandinho tocou o Hino ao Senhor do Bonfim na Guitarra Baiana. Foto: Thais Borges/CORREIO Tapajós escrevia livro >
“Tem uns cinco ou seis anos que ele começou a escrever um livro. Só não sei se estava pronto. Ele não deixava ninguém mexer, só nos disse que era sobre coisas de trio elétrico ou ligadas à família”, contou um dos netos do construtor de trios Orlando Tapajós. O avô de Orlando Neto escrevia a obra à mão, e desta e de outras tantas maneiras mostrava que apesar da idade avançada, não deixou de produzir.>
A confidência foi feita pelo neto durante o velório de Tapajós, que foi aberto ao público às 17h deste domingo (17).“Se a gente mexer nas coisas dele, vai ter um monte de projeto. De festa, de trio”, acrescenta Neto. Orlando Neto falou sobre obra citada pelo avô (Foto: Marina Silva/CORREIO) A única mulher entre os onze irmãos do construtor, conhecida como Tia Gal, também falou sobre as obras em progresso. “Todo ano ele desenhava um trio novo e tentava colocar no Carnaval. Ele nunca perdeu a esperança”, comentou. >
As dificuldades em arrumar patrocínio, a queda da demanda por construção de novos equipamentos, e de conseguir inserí-lo no circuito, foram empecilhos para a obra de Tapajós, inventor do trio elétrico moderno, de colocar um caminhão nos circuitos Dodô e Osmar. Porém, ele sempre arrumou um jeitinho de participar da sua grande paixão: o Carnaval. “Mesmo quando o Carnaval largou ele, ele não largou o Carnaval. Ia no trio dos artistas que ele ajudou a lançar, visitava camarotes. Eu fazia de tudo para levá-la. Era que o dava mais quatro ou cinco anos de vida, era uma forma de renovar as energias”, contou o produtor Orlando Filho, lembrando dos truques para não deixar o pai perder o ânimo. Como bom festeiro que era, ele também adorava produzir um evento. “Ele ia oferecer as festas os prefeitos e desenhava até o outdoor”, contou a filha, a cantora Carina Tapajós, que usava este truque para mantê-lo animado no tempo que ele esteve internado no hospital. “Meu pai, vamos fazer o São Pedro de Retirolândia”, falando sobre o festejo que o velho Orlando ajudava a produzir há mais de 30 anos. Carina Tapajós, uma das filhas do carnavalesco (Foto: Marina Silva/CORREIO) Essa alma festeira, cheia de vigor, foi perdendo aos poucos o ânimo, debilitada pela idade. “No Carnaval, ele saiu todos os dias e estava andando. Depois, ele foi perdendo a vontade de comer. De um mês e meio para cá ele foi ficando debilitado, fraco. Surgiu uma infecção urinária e ele foi internado. Para a surpresa de todos nós veio um infarto e depois um AVC”, contou a irmã Gal, sobre o estado de saúde de Tapajós nos últimos meses. >
Quando os médicos chegaram à conclusão que o estado de saúde dele era irreversível, até ofereceram a opção de entubá-lo para prolongar a vida, mas a família decidiu deixar tudo “nas mãos de Deus”.>
Até quase seus últimos momentos, Seu Orlando manteve-se como um “embaixador da alegria”, como era lembrado por amigos próximos. Estava lúcido e não tirava da cabeça a ideia de ir para Retirolândia no São Pedro.“Ele promoveu a Bahia do seu próprio bolso. Pra onde ele ia, levava capoeiristas, berimbau, acarajé, fitinhas do Senhor do Bonfim. Foi um grande embaixador do nosso estado, do Carnaval, da alegria”, relembra o amigo, produtor e dono de trios Waldemar Sandes, que credita a Tapajós tudo que aprendeu da maior festa de rua do planeta. "Como dizia o velho Osmar, ele e Dodô inventaram o trio elétrico. Tapajós ajudou a cuidar e criar como um filho", comparou o presidente da Associação Baiana de Trios Independentes (ABTI). E para prestar a devida homenagem a esta grande figura do Carnaval, a ABTI vai propor que o velho Orlando seja tema da folia de 2019. >
Alteração no trânsito Os motoristas que circulam pelo Centro da cidade irão se deparar com a interdição de trechos de algumas avenidas a partir das 11h desta segunda-feira (18). É que neste horário passará o cortejo em homenagem a Orlando Tapajós, construtor de trios elétricos falecido na noite desse sábado (16).>
O corpo de Tapajós seguirá em uma viatura do Corpo de Bombeiros, seguida por três trios elétricos, com saída do Palácio Rio Branco, na Praça Municipal, se dirigindo para a Rua Chile, Rua Carlos Gomes, Casa d'Itália, retornando pela Avenida Sete de Setembro.>
Nesse trajeto, a Transalvador bloqueará e abrirá o tráfego à medida em que o cortejo se desloca. Na Praça Castro Alves haverá breve parada do cortejo, também com interdição momentânea promovida por equipes da autarquia.>
A Transalvador fará escolta do veículo dos Bombeiros até o cemitério Jardim da Saudade, em Brotas. O enterro acontece às 14h.>