Crianças apresentam manifesto pela preservação ambiental na Semana do Clima

Estudantes são embaixadores da ONG alemã Plant-for-the-Planet

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  • Da Redação

Publicado em 20 de agosto de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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As crianças e adolescentes são uma esperança na luta contra as mudanças climáticas. É o que acredita o climatologista Carlos Nobre, que também é presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. A geração do futuro já está se preparando para tomar conta do planeta. Com aulas sobre as mudanças climáticas, as crianças da Escola Municipal Marcos Vinícios Vilaça escreveram o manifesto “Crianças e a ciência: uma aliança em nome do futuro” para combater o impacto da ação humana na Terra.

No documento, as crianças alertam os adultos para a necessidade de plantar árvores, capazes de absorver o CO2 da atmosfera, para “garantir que o futuro exista”. A preocupação dos pequenos com a preservação ambiental emocionou o climatologista, que afirmou que o manifesto apresentado nesta segunda-feira (19), durante a Semana Latino-Americana e Caribenha sobre a Mudança do Clima, "é o mais importante que ele já assinou na vida".

O texto ainda apela para que os mais velhos se conscientizem sobre a necessidade de reflorestamento e preservação. Outros dois pontos citados são urgência para que os acordos sobre o clima sejam cumpridos e a falta de ação da sociedade para combater as mudanças climáticas.

O estudioso das mudanças climáticas concorda com o caminho escolhido pelos estudantes para o texto. “Foi muito apropriado os meninos estarem conscientes que, no Brasil, nosso maior problema é o desmatamento e a nossa oportunidade é plantar árvores. 70% das nossas emissões vem de desmatamento e agricultura. Foi muito apropriado eles terem dito isso num momento em que o desmatamento está aumentando na Amazônia”, pontuou.

O secretário municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis), André Fraga, ressaltou que as crianças estão cada vez mais atentas às mudanças climáticas e que as alternativas indicadas pelos jovens apontam para novas possibilidades de trabalho da gestão municipal.“Óbvio que pensar e ouvir o que as crianças têm para dizer é muito importante. Eles nos apontam caminhos que a gente pode não ter percebido, é uma oportunidade para pensar estratégias para a cidade junto com eles”, afirmou o gestor, que também disse que as propostas dos estudantes podem ser incluídas no Plano Municipal de Adaptação e Mitigação da Mudança Climática, que será elaborado pela prefeitura de Salvador junto com a socidade.As crianças que fizeram o manifesto são embaixadoras da ONG alemã Plant-for-the-Planet Brasil. Para que o texto pudesse ser redigido, os estudantes participaram de oficinas e atividades sobre as mudanças climáticas, explicou o diretor executivo da instituição no Brasil, Luciano Frontelle.

“Assinamos um termo de cooperação com a Secis e a Secretaria Municipal de Educação. A parceria vai até 2020 e vamos realizar 40 atividades para formar os embaixadores da mudança climática. Para elas estarem aqui, fizemos duas oficinas para criar o manifesto. Fomos na escola, trouxemos a problemática e perguntamos quais mensagens elas queriam trazer para as pessoas que estão na Semana do Clima”, explicou.

Trabalho nas escolas O climatologista Carlos Nobre vê nas crianças uma possibilidade de um futuro mais sustentável. Para ele, o impacto do manifesto vai além das assinaturas de apoio. O documento é na verdade uma sinalização para a expansão da preocupação com o meio ambiente.“O discurso que as crianças leram foi muito tocante. É uma mensagem muito singela, mas muito poderosa. Eu quero torcer para que esse movimento cresça muito no Brasil, onde ainda é pequeno. Se o movimento crescer no país, começa a trazer um sinal de esperança. Espero que em 10 anos essa geração domine as trajetórias para um planeta sustentável”, comentou o estudioso.Para guiar as crianças no caminho da sustentabilidade e da preservação, a Plant-for-the-Planet Brasil vai em escolas da periferia para ensinar os pequenos sobre assuntos densos como efeito estufa, gás carbônico e camada de ozônio de forma leve e didática.

“A gente tenta dar uma adaptada na linguagem e entende que as crianças têm o tempo delas, introduzimos os temas aos poucos. Sempre começa com outras crianças apresentando, então a linguagem já está adaptada nesse primeiro momento. As dúvidas que elas vão tendo nós vamos tentando sanar”, contou o diretor executivo da ONG no Brasil.

Com apenas nove anos, a aluna da Escola Municipal Marcos Vinícios Vilaça, Ianna Cristina Pimenta, já sabe que há muito o que mudar para que o mundo seja cada vez mais sustentável. “Nós não podemos maltratar o meio ambiente. Eu acho que as pessoas precisam cuidar mais do meio ambiente”, disse a menina, que leu o manifesto na Semana do Clima. Ela ainda dá aula para os adultos e indica que não pode cortar as árvores e jogar lixo no chão. “Temos apenas que plantar”, disse.

O colega de escola e também embaixador da ONG, José Narcisio, 10 anos, é outro que bate na tecla da importância do reflorestamento. “A gente tem que plantar muitas árvores. Um embaixador recicla, cuida das árvores”, contou.

O diretor executivo da Plant-for-the-Planet Brasil disse que a luta contra o desmatamento e para o reflorestamento é um dos focos da ONG, por isso, as crianças são ensinadas que plantar as árvores é uma ação muito importante para cuidar do meio ambiente. “Temos o objetivo de plantar um trilhão de árvores. A gente mapeou áreas não agricultáveis que cabem árvores e vão ajudar a neutralizar 25% da emissão de gases do efeito estufa pelos seres humanos. Existe um problema que é uma brecha entre o que o Acordo de Paris promete e o que gente precisa fazer. O plantio de árvores ajudaria nisso”, elucidou.

Essa preocupação com a saúde do planeta faz com que Carlos Nobre afirme que é essa geração que vai resolver os problemas climáticos que os mais velhos falharam em retardar. “A minha geração foi a que detectou o problema e explicou cientificamente, mas pouco fez para mudar. A geração depois da minha era muito consciente do problema, mas pouco fez ainda. A expectativa é que essa geração, que vai estar adulto em 10 anos e mude o comportamento. A mudança comportamental é essencial para combater a mudança climática”, ponderou.

O Secretário da Secis, André Fraga, concorda com o climatologista e ainda se entristece com o fato de que os mais novos tenham que carregar o problema ambiental criado pelo adultos. “A juventude se envolve e ser engajar mais. Uma pena que a gente tenha relegado a eles uma missão que a nossa geração não resolveu. A esperança está com eles. Temos que prepará-los para enfrentar um mundo muito pior do que a gente recebeu”, reiterou.

*Com orientação da editora Mariana Rios