'Ele queria mudar de emprego', diz cunhado de segurança morto

O vigilante morreu depois de ser baleado na cabeça por bandidos, em São Lázaro

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  • Gil Santos

Publicado em 5 de setembro de 2017 às 20:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr/CORREIO

O corpo do segurança Evandro Silva Lima, 48 anos, foi sepultado na tarde desta terça-feira (5), no cemitério do Campo Santo, na Federação. Ele morreu depois de ser baleado na cabeça durante um assalto em São Lázaro, nesta segunda (4), um guardador de carros e outro vigilante também ficaram feridos. A polícia acredita que o objetivo dos bandidos era roubar as armas dos seguranças.

Segundo o cunhado de Evandro, o alinhador João Carlos Ferreira, ele trabalhava há mais de 10 anos como segurança, no mesmo posto em que foi morto, mas estava insatisfeito com o trabalho. "Ele era uma pessoa muito alegre e que não ficava se queixando da vida, mas já tinha comentado com a esposa que queria mudar de trabalho por causa dos atritos que tinha. Há algumas semanas ele começou a distribuir curriculos à procura de um novo emprego", disse.

Há 10 anos Evandro trabalhava como chefe de reposição de uma empresa de material de construção, quando resolveu seguir a carreira de segurança. Na época, ele conversou com o amigo Juraci Santos, 31, sobre a ideia e fez o curso de capacitação. Durante a última década ele trabalhou como segurança na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb). 

Evandro viveu uma união estável por anos, mas há cinco anos resoleu oficializar a relação com uma cerimônia de casamento. Juraci contou que foi um dos padrinhos e que, apesar das dificuldades, o amigo estava feliz. "Ele era uma pessoa fantástica, que nos ensinou muito, sempre com alegria e bom humor.  Desde que começou a trabalhar como segurança ele atuava no posto da Fapesb, foram sete anos na primiera empresa que fazia a segurança nesse posto e mais três anos na última empresa", contou.

O cortejo com o corpo de Evandro saiu da Capela 5 do cemitério por volta das 16h30 e seguiu até a Quadra 19 em silêncio. Emocionado, o filho do segurança se despediu como um beijo no caixão e o sepultamento aconteceu sob os aplausos das mais de 100 pessoas que aconpanharam a cerimônia. Ele deixou esposa e um casal de filho: uma adolescente de 15 anos e um rapaz que fará 21 anos nesta quarta (6).

Investigação O diretor do Sindicato dos Vigilantes, Djalma Santos, esteve no sepultamento e disse que esse é o 10º vigilante assassinado na Bahia este ano. "A gente está acompanhando e ajudando a delegacia na apuração desse caso. Estive no local onde houve o crime e conversei com alguns companheiros. O sindicato sempre está debatendo com os contratantes e o governo do estado ações de sergurança para os trabalhadores, como guaritas mais recuadas e aprovas de bala. O local onde houve o caso é uma área de risco, onde os vigilantes ficam expostos", disse. 

Procurada pelo CORREIO, a Fabesp, que é vinculada ao Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, informou que não se pronunciaria sobre o assunto. A assessoria disse que o órgão do governo estadual que falaria sobre o tema seria a Secretaria da Segurança Pública da Bahia, através da Polícia Civil.

Segundo o titular da 7ª Delegacia (Rio Vermelho), Antônio Fernando Carmo, responsável pela investigação do caso, nenhum representante da empresa onde as vítimas trabalhavam porcurou a unidade até esta terça. O caso está sendo tratado como latrocínio. 

"Os indicios são de que os bandidos estavam querendo as armas das vítimas. Eles conseguiram levar um dos revólveres. Existem câmeras no local e as imagens estão sendo analisadas. Ouvimos algumas pessoas, mas os representantes da empresa onde eles trabalham ainda não procuraram a delegacia", disse.  

O delegado contou que no mês passado outro tiroteio deixou os seguranças assustados. Bandidos que estavam sendo perseguidos por policiais militares passaram pela região atirando. Evandro não estava de plantão no dia, mas soube da história através dos colegas. 

Tiroteio Era por volta das 16h30 quando um carro Honda Civic, prata, parou em frente a Fapesb e a igreja de São Lázaro. Dois homens desceram do veículo e atiraram contra os dois seguranças que estavam de plantão. Os trabalhadores revidaram e houve um intenso tiroteio até que os vigilantes foram baleados. Os bandidos acertaram Evandro na cabeça, pegaram o revólver calibre 38 que estava com ele e fugiram.

O outro vigilante foi baleado no tórax e no braço, e socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Barris. Mais tarde, ele foi transferido para o Hospital Ernesto Simões Filho, no Pau Miúdo, onde segure internado. O nome e o estado de saúde dele não foram divulgados.

Um das balas perdidas acertou as costas do guardador de carros Carlos Alberto Santos Cardoso, 51, que estava indo comprar pão no momento da confusão. Ele foi socorrido para o HGE, onde permanece internado. O estado de saúde dele também não foi divulgado. 

Oito vigilantes estavam de plantão na Fapesb no momento da confusão. Um deles correu para fora do prédio e também participou do tiroteio. Ele não ficou ferido. As balas acertaram também três carros que estavam estacionados, um deles teve um dos pneus e a lateral furados, outro teve o carburador furado e o terceiro ficou com uma das janelas destruídas. Até às 19h ninguém foi preso.