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Larissa Almeida
Publicado em 17 de junho de 2025 às 06:00
Uma das principais referências do Engenho Velho de Brotas, a Central de Abastecimento de Salvador (Ceasa) do Ogunjá foi por muito tempo considerada o point dos alimentos frescos e da variedade de mercadorias do bairro e adjacências. Hoje, mantém a qualidade dos produtos, mas perdeu em diversidade: dos 104 boxes existentes, apenas 52 estão ativos. Um problema semelhante, que aponta para o enfraquecimento das Ceasas, acometeu também a unidade do Rio Vermelho, que conta com apenas seis restaurantes – outros seis foram fechados desde a pandemia. >
A própria fachada da Ceasa do Ogunjá, escondida entre a Cesta do Povo e um prédio da Polícia Civil, expressa o sentimento dos permissionários, que se veem cada dia mais apagados. “Temos um baixo número de pessoas circulando justamente por causa do esquecimento do mercado. [...] Um feirão que funcionava aqui está fechado há cerca de oito anos. Esse e mais 80% dos espaços estão mortos aqui”, destaca um permissionário, que preferiu não se identificar. >
A permissionária Etidene Santos, 48 anos, relata que, diariamente, atende a cerca de 35 clientes por dia, sendo que antes costumava atender mais de 100. A queda brusca, segundo ela, ocorre em função do enfraquecimento da Ceasa, local onde trabalha há 20 anos. >
“Já tem uns seis anos que o movimento começou a cair, sendo que a pandemia só acelerou esse processo. As pessoas pararam de entrar aqui e, como consequência, cortei muito custo para me manter. [...] O que ganho hoje praticamente só paga o aluguel e a funcionária. Fico sempre pegando dinheiro para pagar no outro mês e parcelando valores. Está complicado”, reclama. >
Entre os motivos para tantos boxes estarem fechados, a permissionária Hilza Maria Fernandes, 61 anos, chama atenção para a falta de revitalização do local, que recentemente passou por interdição após serem identificados problemas estruturais no subsolo e em pilares. De acordo com ela, antes mesmo da constatação dessas problemáticas, os permissionários já sofriam com a decadência física do espaço, que permanece. >
“Os toldos estão deteriorados, completamente furados e com rasgos. O sol bate às 13h e, se não colocar lona, queima a mercadoria toda. Já reivindicamos isso há anos. Como se não fosse suficiente, os boxes estão cheio de pingueiras. Nesse meu período de 44 anos aqui, já passei por quatro reformas, sendo que a última tem pelo menos 22 anos. Estamos esperando uma melhoria, porque tudo isso afastou muito a clientela”, queixa-se. >
No Rio Vermelho, quem indica a gravidade de tantos fechamentos de restaurantes é Edson de Lima, 82 anos, que há mais de 40 anos mantém na Ceasa o Bar e Restaurante do Edinho. Testemunha viva de todas as transformações pelas quais o espaço já passou, ele sinaliza que nenhum outro baque foi tão forte quanto a pandemia de Covid-19. >
“Nós éramos 12 restaurantes e, na pandemia, fecharam nove. Para se ter ideia, não tem mais ninguém do meu tempo aqui. Vivi esse drama, fiquei seis meses fechado e vendendo por delivery. Só três restaurantes, incluindo o meu, sobreviveram a isso. Abalou todo mundo e só agora estamos tendo uma retomada”, diz. >
Decadência das Ceasas
Apesar da reação após a pandemia, muitos estabelecimentos ainda amargam o baixo movimento em comparação com o passado. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE-BA), 28 boxes dos 171 estão fechados. Para Márcio Roberto de Almeida, presidente da Associação de Permissionário da Ceasa (Aspec), o que contribui para os fechamentos são os altos custos. >
“Um conjunto de fatores tem impulsionado esses fechamentos. Eu destaco a questão da gestão, porque hoje a Ceasa do Rio Vermelho tem um preço estratosférico de aluguel por metro quadrado. Em momento de poucas vendas e baixo faturamento, as pessoas só conseguem manter o estabelecimento funcionando com menores custos de subsistência. O que vigora é um modelo desproporcional para a realidade dos permissionários”, frisa. >
O comerciante Jorge Sales, 61 anos, que auxilia a esposa Norma Caetano – permissionária do Box São Jorge – conta que só de aluguel desembolsam quase R$ 12 mil, mensalmente. “O valor está salgado e ainda pagamos quase R$ 3 mil de energia elétrica. É por isso que acredito que tem lojas fechadas, porque o custo para se manter aqui é alto”, pontua. >
A reportagem procurou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE-BA), responsável por administrar as Ceasas, para informar sobre o estado do feirão dentro do Mercado do Ogunjá e sobre uma possível reforma no local. Não houve retorno para esta demanda até o fechamento da matéria. >