Especialistas discutem o mercado informal e seus impactos no Centro Histórico de Salvador

Trabalhadores informais deverão ser legalizados

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 25 de março de 2021 às 23:55

- Atualizado há um ano

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O primeiro debate virtual da série “Patrimônio Bahia: Centro Histórico em Ação – Diálogos” colocou em pauta, nesta quinta-feira (25), o mercado informal e seus impactos no Centro Histórico de Salvador. Participaram do evento a gestora da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), Marise Chastinet, o representante da Associação dos Empreendedores do Centro Histórico (Ache), Leonardo Régis, e os professores e especialistas em economia Elisabeth Loiola e Gabriel Kraychete. 

O debate, realizado pelo Instituto Antonio Carlos Magalhães e pela Ache, foi mediado pela jornalista Doris Pinheiro. Os debatedores ressaltaram a desvalorização do Centro Histórico e foram apresentadas as propostas do Plano Salvador 500, que analisa a dinâmica da economia dos setores populares na capital e propõe políticas inovadoras de inserção social pelo trabalho.

A economista e doutora em Administração, Elisabeth Loiola, pontuou que as desigualdades, muito presentes em Salvador, são uma barreira ao desenvolvimento da cidade. De acordo com as pesquisas nas quais esteve envolvida para a elaboração do Plano Salvador 500, 50% da população economicamente ativa de Salvador, em 2019, era de trabalhadores sem cobertura da seguridade social, que faziam parte da chamada economia dos setores populares, e de desempregados. 

Elisabeth também destacou o impacto que a pandemia vem gerando sobre esse cenário coletiva e individualmente, o que amplia os desafios a serem enfrentados. “A pandemia atingiu a todos, mas, como sempre, de forma assimétrica, sendo mais letal para os pobres do que para os ricos”. 

Segundo a professora, é fundamental dar atenção para o fato de que a maioria da população da cidade é composta por pessoas negras subordinadas à vulnerabilidade social e lembrar que “Salvador também é reconhecida pelo rico patrimônio humano e cultural, como a capital das múltiplas identidades”, destacou. A partir do diagnóstico realizado, a proposta é utilizar o turismo e a economia criativa como setores estratégicos para o desenvolvimento da cidade, de maneira inclusiva e sustentável, promovendo impactos também nas áreas da produção cultural e da educação.   (Foto: Nara Gentil/CORREIO) O cientista social e empreendedor do Centro Histórico, Leonardo Régis, levou um olhar sociológico para o debate, levantando as principais angústias dos empreendedores do local. Segundo Leonardo, os dois grandes desafios são: fazer com que os soteropolitanos frequentem o Centro Histórico e garantir a segurança pública o alcance. “Nós temos um centro de cultura dentro da cidade que muitos soteropolitanos não frequentam, que não faz parte do dia a dia das pessoas”, questionou ele.

Para Régis, a falta de segurança se reflete nos horários de funcionamento limitados dos estabelecimentos, o que enfraquece a visão do Centro Histórico como um local de oportunidades econômicas e culturais. “Os estabelecimentos, mesmo antes da pandemia, funcionavam de 9h às 17h, enquanto outros locais sempre funcionaram até tarde da noite. E a polícia muitas vezes está secando gelo no Centro Histórico. Há um interesse dos trabalhadores da segurança de melhorar o cenário, mas isso não cabe a um determinado órgão, vai caber a todos nós. A situação é muito difícil e o momento pede união”, completou.

A proposta é que o local seja valorizado pela gestão pública e que o comércio informal não seja excluído, mas sim incorporado às potencialidades lá existentes. “É um patrimônio que precisa ser explorado da melhor maneira possível. Os hotéis referenciados, as pousadas mais charmosas da cidade, a gastronomia e o artesanato da nossa região estão lá e o comércio informal precisa ser abraçado, apoiado e organizado. Esses comerciantes informais que, às vezes, a gente percebe que até assustam e afastam o turista, estão lá para levar o pão de cada dia, para serem incluídas e terem representatividade”, opinou.

O mestre em economia e doutor em políticas sociais e cidadania, Gabriel Kraychete, lembrou que o comerciante informal não se reduz ao vendedor ambulante e apresentou o perfil das pessoas que compõem esse setor. “A maioria é de pessoas acima dos 30 anos, fazendo um trabalho permanente, com baixo grau de escolaridade, chefes de família, e cerca de 85% delas não contribui para a previdência social”, explicou. Segundo Kraychete, cerca de 350 mil pessoas fazem parte da economia dos setores populares em Salvador.  (Foto: Nara Gentil/CORREIO) A secretária da Semop, Marise Chastinet, afirmou que há um projeto em andamento, em parceria com a Secretaria de Turismo (Secult), que prevê a melhoria do turismo na cidade, a partir da legalização dos comerciantes informais. “Nós vamos identificar, treinar, fardar, formalizar e licenciar esses trabalhadores. O turista precisa identificar os comerciantes, que precisam saber a melhor maneira de abordar esse possível cliente. Isso é essencial”, colocou a secretária.

A gestora ainda anunciou que um levantamento feito este ano identificou 119 comerciantes informais no Centro Histórico, número que representa uma queda significativa para a economia. “Antes da pandemia existiam 339. A pandemia afetou muito esse comércio, que sofreu uma grande redução acompanhando a redução do turismo na cidade”, finalizou Marise.   *Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro