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Da Redação
Publicado em 8 de junho de 2022 às 11:11
Um aluno do Colégio Integral foi hospitalizado após ser agredido por outro colega dentro da escola. O caso ganhou repercussão após áudios de pessoas ligadas à escola relatarem a situação.>
Em um dos áudios, uma das pessoas diz que um estudante do 8º ano, de 13 anos, levou o colega do 6º ano, de 11 anos, até uma das salas de aula e o agrediu, principalmente no rosto. Ele procurou ajuda sozinho. >
Ainda segundo os relatos, imagens das câmeras da escola registraram o momento em que os estudantes entram na sala e, depois, apenas um deles sai. A situação causou comoção na escola.>
Leia mais: Virou ringue? Ansiedade e pânico por provas podem explicar brigas nas escolas>
O diretor da escola, Paulo Rocha, afirmou que o caso surpreendeu porque o agressor, que estuda lá desde muito novo, nunca teve nenhum problema do tipo. "Os dois subiram abraçados, conversando, sem nenhum tipo de postura agressiva. As salas deles são próximas, entraram em uma delas, estava vazia. O maior, nesse momento, se desequilibrou e começou a bater no menor", disse ele à TV Bahia. >
"Ele não relatou nada (sobre o que motivou a agressão), porque ele terminou essa atitude muito transtornado. O que nós acreditamos é que com esses dois anos de pandemia, a própria evolução sócio-emocional dessa juventude está muito fragilizada. Temos que ter atenção sobre isso. É um menino que nunca teve... Está aqui desde os 2 anos e nunca teve uma única observação, advertência. Exemplo de aluno comportado, educado, e fazer esse tipo de agressão mais violenta foi completamente atípico e inesperado", acrescentou. "Esses dois anos de pandemia criaram muitos problemas emocionais (nos jovens)".>
O aluno agredido teve ferimentos no rosto, na região da bochecha. O diretor diz que ele teve alta médica ontem à tarde e que exames como ressonância e tomografia não registraram nada mais grave. >
O Colégio Integral divulgou uma nota sobre o caso. "A direção do Colégio Integral repudia veementemente o ocorrido hoje, por respeitar os valores humanos e acreditar que o diálogo e o bom senso são os melhores caminhos para a resolução de conflitos. Estamos, de imediato, tomando providências cabíveis e legais para total apuração dos fatos, bem como as punições adequadas que se façam necessárias", diz um trecho da nota. A escola também informou que está prestando apoio ao estudante e à sua família. >
Segundo o diretor, por orientação do departamento jurídico, as imagens da agressão serão encaminhadas ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público da Bahia. O MP-BA informou que, por meio do Centro de Apoio da Criança e do Adolescente (Caoca), encaminhou a notícia do fato para as Promotorias de Justiça da Infância, das áreas protetiva e infracional, e para o Centro de Apoio Operacional de Defesa da Educação (Ceduc) para acompanhamento.>
"O MP adotará as providências necessárias para que o fato seja apurado, preservando os direitos dos envolvidos e assegurando a responsabilização pelo ato infracional. O MP esclarece que os elementos de prova da violência ainda não foram encaminhados pela polícia nem pelo colégio para as Promotorias de Justiça da área infracional", afirmou o órgão. >
Violência nas escolas Em maio deste ano, o CORREIO publicou uma reportagem sobre os casos de violência e ansiedade entre os estudantes. Especialistas apontaram a pandemia e o pouco convívio social como fatores que podem desencadear essas situações.>
Para a psicóloga e psicopedagoga Ana Krauss, este processo de retorno ao convívio social, após quase dois anos de isolamento, está causando esta sensação de medo e ansiedade nas crianças e jovens, o que pode explicar tanta confusão. Para ela, será preciso um processo gradual de readaptação e desmama. >
“Os jovens e as crianças passaram por um processo, digamos, de enjaulamento na pandemia. Agora a jaula foi aberta novamente, mas eles estão reaprendendo a voar. É como um passarinho que fica preso e isolado na gaiola. Quando soltamos, ele precisa de uma readaptação de como era o processo de voar. É assim com os jovens. Eles estão reaprendendo o autocontrole, o contato físico, o diálogo com outras pessoas da idade deles. Precisamos de paciência”, disse a psicóloga, que também trabalha no Grupo Perfil de Educação.>
Outro aspecto que Krauss aponta é o convívio intenso com a morte nos últimos anos. Se imagine com 15 anos, vendo parentes e conhecidos morrerem, o medo de pegar covid-19 e noticiários falando sobre morte e futuro incerto. É intenso demais. “Isso leva a estes fatores psicológicos, como o próprio pavio curto. Os jovens ficaram expostos ao medo da morte e da perda de entes queridos. É preciso compreender que eles passaram por momentos bem intensos. Se não está fácil para nós, adultos, imagina para os mais novos”, completa. >
Este processo de readaptação e as suas consequências, como a violência na escola, é um recorte nacional e não está restrito apenas aos colégios baianos. Segundo dados da Secretaria da Educação de São Paulo, de fácil acesso nas suas plataformas, foram 4.021 casos registrados de brigas e agressões nas escolas estaduais de lá, somente nos primeiros três meses de 2022. Um aumento de 48,5% em relação a 2019. >
*Registros de confusão nas escolas baianas*>
13/12/2021 - Dois estudantes foram filmados enquanto trocavam socos e chutes dentro de uma escola estadual, em Salvador. A ação aconteceu no Colégio Estadual Mário Costa Neto, localizado na Federação. >
23/03/2022 - Um estudante foi ferido com golpes de faca dentro da sala de aula no Complexo Integrado de Educação, em Porto Seguro, no extremo sul da Bahia.>
04/04/2022 - Uma ameaça de atentado amedrontou os pais de estudantes do Centro Educacional Titânia, em Cajazeiras. Mas, o que parecia ser um ataque violento, suspeita-se de que seja apenas uma brincadeira espalhada em uma rede social.>
08/04/2022 - Uma estudante esfaqueou outra jovem dentro do Colégio Estadual Helena Celestino Magalhães, no bairro do IAPI, em Salvador.>
08/04/2022 - Alunos do Colégio Salesiano Dom Bosco, em Salvador, ficaram assustados depois que mensagens sobre um suposto "massacre" na instituição viralizaram por meio de um aplicativo de mensagens. O texto dizia que o crime seria cometido por uma aluna do oitavo ano da escola.>
12/04/2022 - Alunos do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont, localizado no bairro de Pirajá, trocaram tapas e socos durante a briga. O vídeo circulou nas redes sociais.>
25/04/2022 - A direção do Colégio Estadual Raphael Serravalle, localizado na Pituba, em Salvador, suspendeu as provas que seriam aplicadas. O motivo seria uma ameaça de atentado pichada no espelho de um banheiro da instituição. Na pichação estava escrito "Massacre Dia 25/04". Alunos alegam que uma aluna, com pânico da prova, resolveu forjar uma suposta ameaça.>
*Alunos brigando, o que fazer?*>
Especialistas aconselham um cuidado especial em cada envolvido>
Alunos Sabemos que não está sendo fácil. Entre os menores, é preciso que os pais se atentem a comportamentos mais agressivos e crises de ansiedade. Nos maiores, geralmente do ensino médio, procurar ajuda quando sintomas psicológicos e mudanças repentinas de humor forem constantes e atrapalharem o convívio e rendimento escolar. Não caia em provocações e converse com professores e diretores de sua escola. Também se abra com seus pais sobre a carga psicológica que está enfrentando. >
Professores O tempo perdido não volta mais. Lembre-se que os alunos ficaram em isolamento social e nem todos puderam estudar. Aperta o freio quando sua turma apresenta sintomas de ansiedade por conta de uma prova, por exemplo. Fique atento a comportamentos violentos dos seus alunos e reportem aos diretores para uma possível abordagem mais benéfica possível. >
Escola Trabalhos lúdicos, palestras e rodas de conversa devem fazer parte do novo currículo escolar pandêmico. Ajuda a acalmar os ânimos dos alunos. Se possível, tenha sempre de prontidão para um acompanhamento psicológico. Em caso de confusão sem agressão, tente resolver com uma boa conversa, sem culpados. Caso a briga seja física, procure os responsáveis. Em caso de brigas com infrações penais, a polícia deve ser chamada. >
Pais Não entregue toda responsabilidade ao colégio. Crianças e adolescentes conviveram com o medo da morte, isolamento e tudo que a pandemia trouxe ao mundo. Se aproxime da escola, converse sobre o comportamento do seu filho e todas as dificuldades que ele está demonstrando no convívio e aprendizado. Procure ajuda psicológica sempre que possível. >