Estudantes do Subúrbio usam microscópio para aprender a identificar Aedes aegypti

Em passeata, alunos do Alto do Cabrito utilizaram apitos e cartazes para chamar a atenção da comunidade sobre o mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya

  • Foto do(a) author(a) Amanda Palma
  • Amanda Palma

Publicado em 24 de fevereiro de 2016 às 14:55

- Atualizado há um ano

Do lado de fora do micro-ônibus da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os estudantes do Colégio Estadual Tereza Helena Mata Pires, no Alto do Cabrito, disputavam a vez de quem ia entrar. Aquele não era um ônibus como outro qualquer. É um laboratório volante do Ciência-móvel e lá, a grande novidade era ver o mosquito e as larvas do Aedes aegypit de uma maneira bem próxima: em um microscópio.

“Estou achando interessante porque a gente pode ver a evolução do mosquito”, disse a estudante Camila Santos, 13 anos, do 8º ano. Na fila, Roberta Ingrid Pinto, 14, lembrou de uma experiência mais próxima com as larvas do Aedes. “Eu estava brincando na rua quando eu vi um copo com um monte de larvas dentro, aí eu joguei tudo fora”, contou a aluna.

Antes de viverem a experiência no ônibus, os estudantes usaram apitos, cartazes e máscaras pretas com pintinhas brancas para chamar a atenção da comunidade em um apitaço na manhã desta quarta-feira (24). A iniciativa faz parte da mobilização contra o Aedes aegypti, que vai se estender por toda a rede estadual.

O pesquisador da Fiocruz Marcos Vannier explicou a importância de mostrar uma outra perspectiva do assunto. “Quando eles veem as larvas, veem os movimentos, porque estão filtrando água o tempo todo, percebem que não é só na água limpa e parada que elas estão. Assim a criança pode apreender essa informação e transmitir para sua família”, afirmou.Alunos observam larvas e mosquitos do Aedes aegypti no microscópio da Fiocruz(Foto: Marina Silva/CORREIO)Além dos microscópios, os estudantes também tiveram acesso a maquetes que mostram locais onde há possibilidade de proliferação do mosquito. “A gente trouxe as maquetes que mostram os principais criadouros, prepara o jovem estudante pra fazer a inspeção da sua casa, dos vizinhos, amigos e colegas, assim como tem uma capilaridade maior da informação, eles andam por toda comunidade”, completou Vannier. 

CuidadosDurante uma palestra na sala de aula, o estudante Sérgio Sander, observava atento aos tubos de ensaio com as larvas. Ele garante que tem todos os cuidados dentro de casa. “Eu venho cuidado da minha casa, eu fico protegendo, eu faço várias coisas: tiro vasos de plantas, lavo as vasilhas dos cachorros, lavo bem e depois encho de novo", contou.

O cuidado de Sérgio vai além dos muros de casa. "Na rua eu faço também, tem muitos copos descartáveis de boca pra cima, eu jogo no lixo e rasgo o fundo pra que não possa acumular água", completou.

O estudante Jeanderson Carlos Santana, 13, também garante que está sempre atento aos possíveis focos do mosquito. “A gente sempre olha em tanques, e se tem alguma poça que pode ter larva”, disse. E não é difícil encontrar quem teve algum parente com alguma das três doenças zika, dengue ou chikungunya, como a estudante Beatriz Jesus dos Santos. “Meu pai teve dengue e minha tia teve chikungunya”, lembrou. 

VisitasDepois dos gritos para chamar atenção, os estudantes foram de casa em casa distribuir panfletos informativos sobre a proliferação dos mosquitos e de criadouros no bairro. Eles também ajudaram alguns moradores a recolher materiais que serviriam como criadouro das larvas. Uma das casas visitadas foi da dona de casa Egilda Pereira Gonçalves, onde várias garrafas e copos plásticos foram recolhidos na área da casa.Estudantes participam de apitaço nas ruas do Alto do Cabrito (Foto: Marina Silva/CORREIO)Segundo ela, problemas de saúde a impedem de fazer a limpeza sozinha e apesar de morar com três filhos, um neto e uma nora, às vezes não sobra tempo para retirar tudo. “Aqui tava acumulado dos meses que eu fiquei internada. Minha nora não tem tempo pra limpar, aí paguei um rapaz para limpar, ele passou o dia inteiro tirando galho de árvore, coisa velha, mas não deu para tirar as folhas”, explicou.

Na casa dela, quase todo mundo já teve dengue. “Agora que eu recebi a visita dos estudantes vou ficar mais atenta ainda, muito mais porque é pra minha saúde mesmo, de todos da minha casa e meus vizinhos. Eu não quero mal a ninguém”, afirmou a dona de casa.

A diretora da escola, Maria Fontes, explicou que toda a mobilização fará parte do projeto pedagógico da unidade. “Todos os professores da escola estão envolvidos nesse projeto, tendo como tema central o combate ao mosquito. Queremos conscientizar os alunos e transformá-los em agentes multiplicadores de todas as ações”, afirmou.

A ação faz parte do programa Educar para Transformar. “A gente buscou a parceria da Fiocruz para levar para professores e estudantes e ter um apoio pedagógico para criar ambientes aprendizagem nas escolas que possibilitem uma discussão mais científica sobre o problema do mosquito e depois que isso seja levado para toda a comunidade”, explicou a coordenadora do Programa Ciência na Escola, Shirley Costa.

Ao todo, 16 escolas do Subúrbio vão participar da iniciativa. Depois, ela será levada para outras escolas de Salvador e Região Metropolitana e todos os municípios baianos.