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Da Redação
Publicado em 18 de janeiro de 2012 às 07:49
- Atualizado há 2 anos
Bruno Wendel>
O medo de bala perdida e de ser identificado por traficantes não é mais exclusividade dos bairros populares. Na Cidade Jardim, considerado um dos bairros nobres de Salvador, um tiroteio de quase dez minutos, na terça-feira da semana passada, levou uma família a abandonar o apartamento alugado no terceiro andar do Edifício Cidade Jardim Palace. Eles resolveram deixar o local, e não voltar mais, após uma bala de fuzil atingir um dos cômodos do imóvel. >
“A bala ficou alojada na parede do meu gabinete. Se eu estivesse trabalhando, com certeza teria morrido”, contou a moradora do apartamento, uma administradora de empresas que não quis se identificar por conta do medo. Segundo testemunhas, no dia, traficantes do Candeal Pequeno - área situada atrás do prédio – trocavam tiros pelo controle de uma boca de fumo. >
De acordo com a administradora, o tiroteio aconteceu pouco depois das 12h, numa quadra de futebol da Rua Sol Nascente, localizada a poucos metros da rua Guilhermino de Freitas Jatobá, onde está o Edifício Cidade Jardim Palace. A varanda do apartamento 303 dá de frente com a quadra. Traficantes rivais tentavam tomar a boca de uma quadrilha cujo líder havia sido preso recentemente pela polícia.>
No momento que começou o tiroteio, a administradora falava ao telefone com o marido, um cirurgião plástico, enquanto o filho de 7 anos brincava com o amigo na casa do vizinho. “Cheguei a falar com o meu marido sobre os tiros, mas só vi que a bala tinha atingido o apartamento alguns minutos depois. Fiquei trêmula e decidi sair de lá”, conta a ela, que foi morar com a família na Graça. >
No dia seguinte, a mulher e o marido retornaram ao apartamento para pegar roupas e objetos pessoais. Eles estavam no prédio há três anos. Peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) estiveram no local e constataram que a perfuração na parede foi feita por uma bala de fuzil. >
A poucos metros do edifício, a dona de um estabelecimento comercial, localizado próximo à quadra de esporte no Candeal Pequeno, contou que viveu momentos de terror. “Foram tantos tios. Tá, tá, tá. Na hora, até meu cachorro ficou com medo”, conta a mulher. Questionada sobre o motivo do tiroteio, ela explica: “Foi uma briga entre eles lá por disputa de boca”. >
Famíila sai de prédio atingido por bala de fuzil na Cidade Jardim>
Festa infantil Os 17 andares do Edifício Cidade Jardim Palace são ocupados por médicos, promotores empresários e até delegados. São dois apartamentos por andar, cada um com 127 metros quadrados. O prédio é equipado com câmeras na portaria, garagem e no roll de entrada e possui quadra de esporte, quiosque e playground. O condomínio custa R$ 650.>
Como se não bastasse o susto de terça, moradores do Cidade Jardim passaram pela mesma situação, no domingo. Uma festa de aniversário infantil foi interrompida com um tiroteio na Rua Leonor Calmon, próximo à Guilhermino de Freitas Jatobá. Cerca de 50 crianças estavam na festa. Os tiros foram efetuados por um grupo de rapazes que perseguiam outro jovem. >
Moradores do Cidade Jardim mudaram os hábitos. “Agora a gente só sai acompanhada. Seja de dia ou à noite, para ir à academia ou uma lanchonete aqui perto. A turma se reúne e saiu com o apoio dos vigilantes dos prédios”, conta uma moradora. >
Segundo ela, falta policiamento. “Pouco se vê viaturas por aqui. A sensação de abandono”, declara outro morador. De acordo com ele, aumentaram o número de seqüestros relâmpagos na região. “As pessoas estão com medo de sair ou de chegar em suas casas. Somos reféns da bandidagem”, conta. >
Em nota, a PM informou que policiamento na Cidade Jardim é feito pela 35ª CIPM, que emprega duas viaturas, realizando rondas no bairro. Além disso, acrescenta, a localidade conta ainda com o reforço das unidades especializadas da PM, como a Rondesp, o Batalhão de Choque e o Esquadrão de Motociclistas Águia, que também realizam ações na região. A PM informa que as rondas serão intensificadas.>
Segurança clandestina é outro perigoCom a ausência da polícia, moradores apelam para a segurança clandestina. Em diversos bairro de Salvador, é comum ver alguns homens circulando para cima e para baixo, com coletes e bonés pretos. Outros, sem nenhuma identificação. Mas o diretor do Sindicato das Empresas de Segurança Privada da Bahia (Sindesp-Ba), Uzel Duplat Neto faz um alerta: “Infelizmente, por uma questão de economia, moradores optam por este tipo de serviço e correm um grande risco”. >
Segundo ele, as pessoas que trabalham como seguranças clandestinos não são devidamente treinados e raramente estão armados. “Ao invés de se proteger, os moradores estão trazendo o perigo para eles”. Outro problema apontado por Uzel é questão da procedência dos seguranças. “Há casos em que estas pessoas acabam passando informações dos moradores aos bandidos”.>