Fortes São Diogo e Santa Maria terão arte e realidade virtual em exposição

Fortes reabrem este mês após oito meses em obra de restauro e adaptação

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  • Lara Bastos

Publicado em 3 de abril de 2016 às 09:34

- Atualizado há um ano

Já pensou como seria entrar no atelier de um artista e ver de pertinho todas as suas ferramentas e projetos em execução? Ou ainda, passear por uma exposição fotográfica em um casarão abandonado no Comércio, mesmo estando na Barra? Essas experiências serão possíveis nos espaços Carybé de Artes, no Forte de São Diogo, e no Pierre Verger de Fotografia Baiana, no Forte de Santa Maria, ambos no Porto da Barra.Óculos de realidade virtual, totens interativos, telas de touchscreen e projeções vão aliar arte e história com tecnologia e interatividade. Essas são algumas das novidades que aguardam os visitantes nas exposições permanentes dos artistas responsáveis por povoar o imaginário coletivo com figuras da baianidade.  Joãozito Pereira, responsável pelo projeto de exposição de Carybé no São Diogo, acompanha projeção com obra do artista: apresentação digital (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)O CORREIO teve acesso aos planos de exposição dos dois ambientes e foi conferir de perto a finalização das obras nos fortes. Com investimentos de R$ 5,2 milhões, incluindo restauro dos equipamentos históricos e montagem das exposições, a Prefeitura fará o primeiro teste nos espaços na próxima sexta-feira, segundo a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult). A inauguração será realizada ainda este mês, mas a data não foi definida. No dia seguinte ao evento, o público já irá poder visitar os dois espaços. De acordo com o secretário Érico Mendonça, a iniciativa visa fomentar o turismo cultural na cidade. “A ideia é que, além do próprio conteúdo histórico dos fortes, seja agregado outro elemento de atratividade, através das exposições”, explica Mendonça.As projeções estão presentes tanto dentro quanto no lado externo dos dois fortes. Usando a técnica de video mapping (ou projeção mapeada), que leva em consideração a irregularidade e tridimensionalidade das superfícies, as construções ficam envelopadas por figuras e fotografias que transitam pelas paredes. Em cada forte, uma smart-tv também foi instalada para contar a história da fortificação de maneira lúdica. Realidade virtualNo Espaço Carybé de Artes, três óculos de realidade virtual estarão disponíveis para o público “viajar” por exposições e pelo atelier de Carybé, preservado até hoje no casarão onde ele morou com a família em Brotas. Com o auxílio de um cavelete digital, o visitante pode ainda pegar em um pincel de verdade e, virtualmente, ir desvendando e iluminando o desenho com as cores utilizadas por Carybé.“Acho maravilhoso esse aspecto digital, de poder mostrar toda a gama de obras de Carybé. O público normalmente não tem acesso ao trabalho do artista de uma forma tão ampla”, opina Solange Bernabó, filha do artista e curadora da exposição permanente. Além das pinturas e gravuras projetadas nas paredes do espaço, os nove totens interativos exibem cenários, figurinos, murais, esculturas, ilustrações de livros e aquarelas, além de uma linha do tempo e biografia do artista. Apostar no digital foi a solução encontrada para comportar 386 obras em um espaço de apenas 75 m² – área disponível para a exposição de Carybé no Forte São Diogo. “Não é o 'Museu Carybé', por conta da dimensão da obra dele, mas é uma apresentação digital de toda essa iconografia”, explica Joãozito Pereira, responsável pelo projeto de exposição no forte. Projeção de olbras de Carybé no Forte São Diogo(Foto: Divulgação)Já no Espaço Pierre Verger de Fotografia Baiana, o visitante irá conhecer obras de Verger e de mais 55 fotógrafos baianos, através dos mais diversos aparatos tecnológicos. São seis seções da mostra no espaço de 94m², organizadas  pelo casal de arquitetos Rose Lima e Fritz Zehnle. “A ideia é proporcionar para o visitante uma experiência que ele não poderia viver fisicamente”, esclarece o curador Alex Baradel. Com isso em mente, uma das alas da exposição foi dedicada inteiramente à realidade virtual. Usando óculos especiais, o público pode sentir que está dentro de exposições fotográficas de Verger, Adenor Gondim e Oske, que nem estão mais em exibição. A Fundação Pierre Verger montou uma exposição, em um casarão abandonado, exclusivamente para a experiência virtual. Na seção intitulada Cotidiano, palavras relacionadas à obra de Verger são projetadas no chão. Basta pisar em Capoeira, por exemplo, que fotografias sobre o tema ganham vida são projetadas nas paredes da sala. Funcionários trabalham no restauro do painel de artista Genaro de Carvalho, dentro do Forte Santa Maria(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)Ingresso único permitirá visita aos dois espaçosO ingresso para as exposições custará R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) e dará ao visitante a permissão para ir aos dois fortes.  Segundo a coordenadora das exposições, Juciara Melo, o visitante pagará o ingresso uma vez para ter acesso aos dois espaços.  O sistema de ingresso único deve ser implementado pela Secult também na Casa do Rio Vermelho e na Casa do Benin, para que os quatro locais sejam visitados por um valor único.

Além de abrigar exposições, o projeto das reformas dos fortes de Santa Maria e São Diogo também teve o objetivo de transformar os espaços em áreas de convivência. Para isso, a área externa de cada um receberá um café, onde serão servidos bebidas e lanches, e lojas de lembranças, com produtos inspirados nas obras dos dois artistas. Não é necessário pagar ingresso para ter acesso à área dos cafés.  Como se o visual da Barra não fosse atrativo suficiente, à noite, as fachadas dos fortes se transformam em telas, para receber projeções de obras de Carybé e Pierre Verger. O espetáculo ocorrerá todos os dias, ao entardecer.

Construções concorrem a patrimônio da humanidadeConstruídos em 1625 para reforçar a defesa da cidade contra a ameaça de novas investidas holandesas, os fortes de São Diogo e Santa Maria concorrem para integrar a lista de patrimônios da humanidade da Unesco. “É um processo longo que teve início no ano passado”, disse o superintendente estadual do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Fernando Ornelas.

Os dois fortes foram incluídos como parte do Conjunto de Fortificações do Brasil. Além deles, o São Marcelo, o  Nossa Senhora de Montserrat  Santo Antônio da Barra, e o Farol da Barra, também foram indicados e serão avaliados. A relevância histórica e o estado de conservação são alguns dos critérios levados em consideração. 

A obra nos fortes seguiu as orientações do Iphan. “Nos foi recomendado que não fosse instalada uma estrutura de metal na área externa (do Santa Maria) e o Iphan atendeu”, declarou Ornellas. A estrutura serviria para a instalação do café, que vai funcionar na parte interna – mas os clientes serão servidos na parte externa.