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Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2010 às 11:02
- Atualizado há 2 anos
Por trás de todo bicho do tráfico há sempre uma grande mula. Na vasta fazenda das bocas-de-fumo plantadas na cidade, as meninas e mulheres envolvidas não costumam aparecer como os companheiros e desempenham funções menores. Como nos demais negócios, o feminismo ainda engatinha na economia bandida e o principal papel das mulheres é o de transportar drogas. >
Elas são as mulas. Se na labuta o suor diário se desfaz como pó, as mulheres conseguem obter vantagens de outras formas. Uma delas é se envolver com um traficante ou alguém que ocupe função importante na boca. De mula ela passa a ser pavão. Veste roupas de grife, é respeitada no bairro e pode esbanjar à vontade a grana do namorado nas farras do pó.>
MUDANÇA Uma dessas meninas que queriam sair do anonimato de uma função obscura em uma boca-de-fumo em São Paulo é R.A.L., 16 anos. Sua história não rendeu tatuagem como a de Kelly Sales Silva, a Kelly Doçura, mas foi muito mais “loka”.>
Na capital paulista R.A.L., aos 13 anos,aprendeu a atirar e começou a trabalhar armada no tráfico. Ameaçada de morte por bandidos, o pai mandou a garota para Salvador, onde ela se afundou no crime. Em sua curta carreira, R.A.L. foi mulher de traficante e gozou das regalias proporcionadas pelo crime. >
Mas ela não quis curtir a “vidaloka” como mera primeira-dama do tráfico. Ela é suspeita de matar o namorado e de um duplo homicídio. A adolescente de longos cabelos lisos, lábios grossos e olhos puxados foi conhecida pela polícia no início de 2009, quando apareceu com uma pedra de um quilo de cocaínana Delegacia do Adolescente Infrator (DAF). >
“Ela disse que queria se livrar da droga, mas descobrimos que o objetivo era se vingar de Neguinho, o dono da cocaína, que vale R$ 30 mil”, contou a delegada titular Claudenice Mayo.>
Neguinho da Rocha é o apelido de Joselito Nascimento, líder do tráfico na Federação e ex-membro da quadrilha de Éberson Souza Santos, o Pitty. Ele espancou e raspou o cabelo de R.A.L. após descobrir que foi traído. Desde o episódio, a menina passou a tramar a morte de Neguinho, diz a polícia.>
MUDANÇA O namoro começou quando R.A.L. chegou a Salvador. Eles moravam juntos e a menina ajudava o traficante a gerenciar os negócios e trazia armamento de São Paulo. Apesar de decidirem morar juntos logo no princípio do namoro,não foi a mor à primeira vista. >
Neguinho conquistou a garota pelo bolso. “Fiquei com ele por causa da grana. Ele pagava bem. A cabeça de Neguinho vale R$ 70 mil para os inimigos”, disse em depoimento. E o dinheiro do tráfico foi muito útil a R.A.L.. >
Em junho de 2009, quando foi presa acusada de duplo homicídio, pagou de bacana na DAI. “Ela disse que podia ser presa que logo o seu advogado, a quem pagava caro, a tiraria da prisão”, lembrou a delegada. Contudo, ela não assumiu o crime. Pelo contrário, usou de bravatas para se defender. “Esse não é meu estilo de matar. Se fosse comigo, seria com armamento pesado”. Ela foi solta por falta de provas. O Dia da República, 15 de novembro do ano passado, foi a data escolhida por ela para concretizar a vingança e derrubar o castelo do pó de Neguinho, diz a polícia. Ele foi morto em uma emboscada emsua casa, na Rua Ferreira Santos, na Federação.>
O casal estava junto e R.A.L. pediu uma pizza. Quando o entregador chegou e Neguinho foi abrir a porta, ele recebeu vários tiros. A garota nada sofreu. “Ela queria se vingar e há indícios de que ela foi a mandante. Depois do assassinato ela começou a namorar o líder de uma quadrilha rival”, disse Claudenice.>
Contudo, a polícia não conseguiu reunir provas para incriminar a menor. A polícia não sabe qual o paradeiro de R.A.L. e acredita que ela voltou para São Paulo.>
(Notícia publicada na edição do dia 27/02/2010)>