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Luana Lisboa
Publicado em 26 de agosto de 2021 às 22:12
- Atualizado há 2 anos
Mãe e filha, de 40 e 23 anos, viveram momentos de horror no consultório do médico Carlos Soares de Almeida, de 70 anos, no Instituto de Dermatologia e Alergia, no Canela. Assediadas física e verbalmente, elas tiveram as roupas rasgadas e ainda ouviram declarações no mínimo constrangedoras do profissional. "Busco em outras mulheres o que não consigo ter em casa", disse, Almeida, alegando que teria sido molestado quando criança. As vítimas prestaram queixa, o médico teve a prisão preventiva decretada e está sendo investigado por importunação sexual. Mas a sensação de medo e impotência ainda permanece nelas. >
De acordo com as vítimas, Carlos teria feito perguntas sobre sexo, agarrado o braço da mãe e rasgado suas roupas, pondo, por fim, a mão dela em sua genitália. Ele também teria dito que costumava guardar preservativos no consultório, insinuando que praticava sexo no local. Alice (nome fictício da mulher de 40 anos) ainda relatou que o homem as constrangeu moralmente, quando as perguntou se precisariam de ajuda para pagar os exames. Um áudio gravado por ela e as roupas que estava usando estão sob análise do Departamento de Polícia Técnica (DPT). >
Alice conta que elas foram à clínica popular no último dia 11 para tratar alergias na pele da filha. Em uma consulta que durou aproximadamente três horas, o médico já teria iniciado a abordagem de forma estranha, levantando a blusa de Letícia (nome fictício da filha), sem pedir permissão. “Achei estranho, não gostei, e falei ‘estou me sentindo pelada, não gosto’. Nesse momento, ele falou ‘se eu quiser ver mulher pelada, eu vou no jornal ou na internet, porque hoje em dia a mulher brasileira não tem mais o que esconder’”, relatou a jovem.>
Em seguida, ele teria começado a contar histórias pessoais de cunho sexual. “Ele pediu para minha mãe tirar a máscara, quando eu que era a paciente e disse ‘Você é muçulmana?’, deixando ela completamente sem graça. Depois, contou que quando era criança, tinha sido molestado, que ficou viciado em nádegas desde então, e que procurava fora de casa o que a esposa não entregava”, conta.>
PEDIU SILÊNCIO>
Horas depois, ele mandou Letícia sair da sala para que fizesse um exame. Nesse momento, assediou Alice sexualmente: “Achei que ele ia me falar algo sobre o estado de saúde de Letícia. Mas ele fechou a porta, me perguntou coisas indecentes e, quando eu me levantei para sair, ele me segurou pelo braço. Fiquei apavorada com a força que aquele senhor tinha”. Ela completa: “Tentei sair, ele puxou minha roupa e acabou rasgando. Não satisfeito, segurou minha mão, colocou no pênis dele e disse ‘pega aqui para você ver como está estourando’. Eu fiquei apavorada e ele ainda mandou eu não contar nada para ninguém”.>
Isso aconteceu no primeiro dia em que elas foram ao local. Letícia ainda precisaria voltar ao Instituto dois dias depois, para realização de uma última consulta. Ela conta que pediu aos recepcionistas para que fosse outro profissional, mas ouviu que não seria possível. De lá, foram à 1ª Delegacia Territorial (DT/Barris). “Disseram que dificilmente teríamos algum resultado. Seria a minha palavra contra a dele”, afirma a mãe. Foi quando conseguiu gravar o áudio em que o homem diz que levará uma camisinha da próxima vez que elas aparecessem na clínica.>
ASSÉDIO MORAL>
Por fim, Alice relata que Carlos a constrangeu moralmente por suas condições financeiras: “Antes de minha filha ir para a sala de teste, ele disse ‘Ó, isso aqui é pago. Mas eu não sou assim, não vou tirar dinheiro de vocês, não vou fazer como colegas meus que passam exame sem necessidade para ganharem dinheiro. Então ele pagou o teste, sem termos pedido nada. Não estávamos precisando do dinheiro dele”, conta. >
No último dia 19, o advogado das pacientes, Edson Hirsh, fez uma denúncia formal contra o profissional de saúde no Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb). Através de nota, o Cremeb informa que já tomou as medidas pertinentes. Carlos Soares de Almeida atende no Instituto de Dermatologia e Alergia da Bahia (Idab) há 40 anos e também foi sócio do local. >
De acordo com a doutora em Direito Penal, a advogada Daniela Portugal, o caso se enquadra no artigo 215-A, introduzido em 2018 no Código Penal, o crime de importunação sexual: "Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro, uma vez que houve toque não consentido no corpo. Como a relação é de médico-paciente, a lei entende que não há uma relação de superioridade ou ascendência hierárquica entre autor e vítima, prevista no artigo 216-A".>
“Em momento algum, dei abertura para ele. Eu sou muito risonha, ele confundiu e não fez o papel profissional. Ele deveria levar a saúde dos pacientes a sério”, arremata Alice.*Com orientação da subeditora Fernanda Varela>