Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Memorial das Matriarcas homenageia Mãe Stella de Oxóssi e mulheres do candomblé; veja fotos

Espaço de memória foi instalado na casa em que Mãe Stella Cresceu, no Centro Histórico de Salvador

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 28 de novembro de 2025 às 06:00

Memorial das Matriarcas homenageia legado de sacerdotisas do candomblé
Memorial das Matriarcas homenageia legado de sacerdotisas do candomblé Crédito: Fernando Barbosa/IPAC

Se legados pudessem ser carregados em uma frase, ‘meu tempo é agora’ resumiria o que Mãe Stella de Oxóssi quis deixar de ensinamento para o povo de santo. Mais do que uma simples afirmação, a sentença é um direcionamento para que cada um colabore para a própria trajetória e a dos outros. Foi honrando esse ensinamento que, nesta quinta-feira (27), a casa que pertenceu à ialorixá se tornou um eco das suas filosofias em prol da memória candomblecista com a inauguração do Memorial das Matriarcas Odé Kayodê, na Rua Gregório de Matos, no Centro Histórico de Salvador, com objetivo de homenagear as mulheres com trajetórias de destaque na religião.

Como não podia ser diferente, a primeira homenageada foi a própria Mãe Stella de Oxóssi que, antes de falecer, em 2019, já havia sinalizado o desejo de não ter as honrarias só para si. É por isso que, nas paredes da sala principal do Memorial, há fotos simbólicas dela ao lado de outras lideranças do candomblé, bem como imagens de momentos importantes da sua vida, como a chegada à Nigéria, na primeira viagem para o continente africano.

A curadoria de imagens e elementos que compõem o espaço de memória foi feita por Mãe Ana de Xangô, ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá e autora da principal dedicatória presente no local. Ela destaca, acima de tudo, a importância de um local para materializar os ensinamentos de Mãe Stella.

Memorial das Matriarcas homenageia legado de sacerdotisas do candomblé por Larissa Almeida/CORREIO

“É um espaço de vivência e preservação de uma iá ancestral, que trouxe para todos nós um ensinamento com base e ancestralidade. Ela sempre dizia que o tempo dela era o agora, um marco que deixa para que cada um identifique o que fazer na própria vida, seja na formação acadêmica ou nos princípios religiosos, mas estando presente no convívio social”, pontua.

A inauguração do memorial tira do papel uma ideia que foi anunciada em 2015 pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC). De acordo com Marcelo Lemos, diretor-geral da entidade, cada espaço foi criteriosamente pensado para abrigar a exposição em homenagem a Mãe Stella.

“Decidimos fazer exposições individualizadas, porque seria possível dar uma valorização maior a história de cada uma das mulheres. No caso de Mãe Stella, ela não foi só uma ialorixá, mas também enfermeira, professora, doutora honoris causa e escritora. Então, a ideia foi contar a história com detalhes, linha do tempo, fotos, manifestos e elementos do seu orixá, Oxóssi”, diz.

Logo na entrada, na sala à esquerda, o público encontra um conjunto de fotografias emblemáticas da ialorixá. À direita, uma linha do tempo apresenta a trajetória de Maria Stella de Azevedo Santos, iniciada no candomblé aos 14 anos por Mãe Senhora, no Ilê Axé Opô Afonjá, quando recebe o nome religioso Odé Kayodé, traduzido do iorubá como “o caçador traz alegria”.

O Memorial reúne quatro espaços expositivos internos. Um deles abriga um terminal de vídeo com entrevistas de Mãe Stella. Na área externa, há um canteiro com folhas sagradas trazidas do Ilê Axé Opô Afonjá e um mural da artista Nila Carneiro homenageiam a ialorixá. O público ainda pode viver uma experiência imersiva participando de um xirê digital criado pelo artista visual VJ Gabiru.

“Fiquei muito honrado de poder homenagear uma das maiores ialorixás que já pisaram nesta terra. O xirê para Mãe Stella de Oxóssi é cantado pelo Grupo Ofá, que cedeu as faixas para serem usadas, e há o cuidado de trazer tudo feito com folhas relacionadas aos orixás por conta de uma fala dela, que uma vez disse que ‘sem folha não há culto”, conta VJ Gabiru.

Algumas das frases célebres da ialorixá também estão marcadas nas paredes do espaço e devem ficar lá, pelo menos, até que a próxima exposição seja definida. Por enquanto, nomes estão sendo discutidos, mas existe a garantia, segundo o diretor-geral do Ipac, de que sacerdotisas de todas as nações – Ketú, Angola e Jeje – serão contempladas.

Para Nadinho do Congo, representante da República Democrática do Congo na Bahia, o memorial deve fortalecer e perpetuar os saberes do povo de santo. “É um local que vai trazer muitos ensinamentos para os jovens. Mãe Stella, como guardiã da cultura de um povo, nos trouxe o legado de tratar de preservar a cultura afoxé na Bahia, levando nossa musicalidade, nosso conhecimento e nossa dança, que devemos cuidar”, finaliza.